Sistemas agroflorestais preservam a floresta

Experiência em Parauapebas, Marabá e São Félix reduziu em 400% o foco de incêndios

Valéria Nascimento

Conservar significa manter em bom ou no mesmo estado e é exatamente isso que define o trabalho agroecológico desenvolvido junto a famílias de pequenos agricultores, em Parauapebas, Marabá e São Félix do Xingu, municípios da região sul-sudeste estadual.

"A ideia é trabalhar a favor da natureza, associando os cultivos agrícolas com os florestais, recuperando os recursos e incorporando conceitos ecológicos ao manejo" - Schweyka Holanda, engenheira florestal da Vale.

Afinal, ao implantar sistemas de produção diversificados, os chamados Sistemas Agroflorestais (SAFs), em áreas já alteradas, tudo o que se quer, na prática, é imitar as ricas florestas originais com a inserção em um mesmo espaço de espécies frutíferas, como o cacau, o açaí e a banana, além das espécies agrícolas e, claro, florestais. A iniciativa é gerenciada pelo Núcleo Integrado do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/Carajás), com o apoio financeiro da Vale, e é o tema desta edição do Liberal Mobiliza, que tem o apoio da Vale e da Guamá Tratamento de Resíduos.

As atividades de implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em paisagens transformadas nos municípios citados do sudeste paraense se iniciaram em 2012 e ganharam amplitude no ano de 2017, com o plantio de 45 mil mudas em 54 hectares cultivados pelo Projeto Agroextrativismo, parte integrante do acordo de cooperação entre o ICMBio e a empresa. Atualmente, o projeto se chama Agriculturas de Conservação, envolve 30 famílias de pequenos agricultores e está em fase de expansão.

Engenheira florestal da Vale, Schweyka Holanda observa que o maior desafio do projeto é seguir com a proposta agroecológica de forma consistente. “Somente na região onde 19 famílias foram contempladas pelo projeto, houve uma redução de 400% no número de focos de incêndio, e até 2022 a previsão é aumentar o número de famílias e chegar aos 100 hectares de SAFs. A ideia é trabalhar a favor da natureza, associando os cultivos agrícolas com os florestais, recuperando os recursos e incorporando conceitos ecológicos ao manejo. Deste modo, elimina-se a necessidade do uso do fogo e, por sua vez, contribui para redução das queimadas, beneficiando a fauna e flora da região”.

O Agriculturas de Conservação, explica a engenheira florestal, busca a parceria das famílias nos arredores das Unidades de Conservação de Carajás para fortalecer as atividades de agricultura familiar dentro das próprias propriedades dos trabalhadores rurais.

“O objetivo é aumentar a produtividade das famílias, aumentando a diversificação dos cultivos e o uso de técnicas que proporcionem a conservação do solo. Assim, é possível evitar o desmatamento de novas áreas, ou o arrendamento de lotes vizinhos para atividades de pecuária”, explica Holanda.

QUALIDADE DE VIDA

Na prática, o projeto quer melhorar a qualidade de vida dos pequenos produtores familiares, com ganho da renda e, claro, a diminuição de dependência de atividades pouco sustentáveis, o que é essencial para a garantia da biodiversidade local.

“Aos poucos, o local vai ficando com o visual de uma floresta, o que beneficia todos os tipos de vida, desde agentes polinizadores como abelhas e mariposas a microrganismos que auxiliam na conversão de matéria orgânica em nutrientes. Além disso, os benefícios para os produtores são enormes, como por exemplo a segurança financeira e a diversificação alimentar, pois ao combinar várias culturas a colheita ocorre o ano todo. Ainda que uma cultura não dê certo ou sofra com alguma condição adversa, outras trazem retorno e garantem a renda da família”, frisa a engenheira Schweyka Holanda.
 
O projeto também busca combater o garimpo e a extração de madeira ilegal nas áreas mais vulneráveis, no limite com as áreas de florestas. A restauração de habitats naturais com Sistemas Agroflorestais, especialmente na Amazônia, para a engenheira florestal, é uma das formas principais de mitigação contra a mudança de clima, redução da extração ilegal de madeira, uma vez que as plantas sequestram carbono ao crescerem, reduzindo a presença desse importante gás de efeito estufa na atmosfera.
 
“A Organização das Nações Unidas declarou essa década como sendo a de Restauração Ecológica, visando a mitigar tanto os efeitos da mudança de clima quanto proteger a biodiversidade. O Programa Agriculturas de Conservação contribui principalmente com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13, (Ação contra Mudança de Clima), (Vida na Terra). Além disso, a restauração é um dos pilares da hierarquia de mitigação e contribui diretamente também com as metas de Aichi número 14 (Restauração de ecossistemas provedores de serviços essenciais) e 15 (Recuperação dos ecossistemas degradados para mitigação e adaptação às mudanças climáticas). Quanto à restauração incorporada aos sistemas agroflorestais, como nos exemplos citados acima, ela envolve ainda os ODS 1 (Erradicação da Pobreza) e 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável), bem como a Meta 13 (Conservação da agrobiodiversidade) de Aichi”, argumentou a representante da Vale.

PARCERIA

O ICMBio Carajás promove, por meio da assistência técnica rural, visitas mensais de técnicos agrícolas às famílias que os auxiliam na implantação e manejo dos sistemas agroflorestais. Também são feitas capacitações para os trabalhadores rurais e doação de material genético, como semente e mudas melhoradas, para o aprimoramento da produção de maior qualidade dos agricultores.

Durante a pandemia, as visitas técnicas presenciais foram limitadas devido às medidas de isolamento social, de forma que a assistência passou a ser realizada através de outras ferramentas digitais enquanto não há melhoras no quadro.

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