Cura que sai da Floresta Amazônica para o mundo
Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) se dedicam há décadas a buscar conhecimento sobre o poder de plantas medicinais da região e ajudam a revolucionar o tratamento de doenças, como Alzheimer e diabetes
Do interior da Universidade Federal do Pará (UFPA), a maior universidade pública da região Norte do Brasil e que está entre as três maiores do país, pesquisadores se dedicam há décadas a buscar – e difundir para todo o mundo – o conhecimento sobre o poder de cura das plantas da Amazônia. Não por acaso já obtiveram sucesso em descobertas que podem, no futuro, revolucionar o tratamento de doenças como Alzheimer, perda de memória no pós-covid-19, complicações de acidente vascular cerebral, diabetes e outras enfermidades.
No campus universitário do bairro do Guamá, em Belém, a capital paraense, entre os diversos grupos de pesquisas atuantes estão o Bioprospecção de Moléculas Ativas da Flora Amazônica, que já descobriu 30 novas substâncias extraídas de plantas nativas da Amazônia, que atua em duas frentes coordenadas pelos doutores Gilmara Bastos e Milton Nascimento.
Outro projeto estratégico é o Desenvolvimento de produtos e serviços fitoterápicos no âmbito de políticas públicas, com abordagem interdisciplinar, coordenado pelo professor titular Wagner Luiz Ramos Barbosa, da Faculdade de Farmácia. O projeto trabalha para contribuir com políticas públicas junto ao Ministério da Saúde (MS). “A universidade em si não produz os medicamentos, ela produz o conhecimento tanto para fundamentar os investimentos do poder público em novos medicamentos, como as parcerias público-privadas de aproveitamento dos resultados dessas pesquisas”, ressalta o doutor em Ciências Naturais.
Embora os investimentos em pesquisas no Brasil, feitas pelo poder público, recentemente estejam aquém do necessário para alavancar novos estudos e descobertas, a UFPA tem um trabalho forte nos estudos de plantas, folhagens, sementes, óleos e até fungos vegetais. Um bom exemplo é a semente do cupuaçu e do cacau, dois frutos amazônicos muito conhecidos e apreciados. Do caroço do cacau são extraídas substâncias usadas na alimentação de peixes; e do cupuaçu, para os humanos, é também uma substância nutracêutica, isto é, um suplemento alimentar com propriedades antioxidantes.
Da babosa, outra planta muito conhecida na Amazônia, além do aloe vera, que tem propriedades hidratantes e medicinais, também são extraídos polissacarídeos usados em um curativo para queimadura que auxilia na reposição de pele, e que já está sendo estudado para a produção de medicamento de uso em larga escala.
Outros estudos importantes apontados por Wagner Barbosa podem trazer um novo caminho ao tratamento do diabetes, uma das doenças crônicas mais frequentes no mundo, e com reflexos na qualidade de vida do paciente. Tratam-se das plantas com atividade hipoglicemiante e, ainda, plantas que diminuem os outros efeitos que o diabetes provoca. Entre elas, está a planta conhecida popularmente como “pata de vaca” (Bauhinia spp), cuja pesquisa paraense foi em parte realizada na Universidade de Parma, na Itália.
“Nossa linha de pesquisa se concentra na promoção da saúde na Amazônia, levantando dados sobre os saberes tradicionais no uso de plantas medicinais" - Iracely Rodrigues, professora doutora em Recursos Ambientais Amazônicos.
Outras plantas importantes em pesquisa contra o diabetes são o ajiru (Chrysobalanaceae) e o melão de São Caetano de Odivelas, do qual se faz um extrato aquoso que mostra efetividade para tratar áreas da pele afetadas por escabiose e ainda é muito usada por pessoas com diabetes.
Wagner Barbosa cita ainda como destaque a pesquisa realizada com um tipo de salgueiro da Amazônia que tem ricas propriedades antiplasmódica, analgésica e anti-inflamatórias. Das pesquisas que já chegaram à fase de finalização, ele destaca a da planta Marupazinho (Eleutherine plicata), cujo trabalho paraense foi publicado, sendo a espécie candidata a integrar o Formulário de Fitoterápicos publicado pela Anvisa e Farmacopeia Brasileira.
Os pesquisadores entrevistados na reportagem fizeram questão de ressaltar que hoje todos os experimentos da UFPA estão sendo realizados dentro dos quesitos de biossegurança contra a covid-19. Além disso, as pesquisas em camundongos do grupo de pesquisa Bioprospecção de Moléculas Ativas da Flora Amazônica, feitas no Laboratório de Neuroinflamação do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) em parceria com o Laboratório de Neuropatologia Experimental (LaNEx), localizado no Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) da UFPA, são aprovados pelo Comitê de Ética de Animais da UFPA.
Estudo de plantas ocorre em diversos municípios do Pará
Outro grupo de pesquisa que vem investigando o saber popular das plantas em comunidades ribeirinhas é o do Laboratório de Educação, Meio Ambiente e Saúde (Lemas), localizado no Campus Universitário de Bragança da UFPA, em parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra/Capanema) e o Programa de Pós-graduação em Estudos Antrópicos na Amazônia (PPGEAA/UFPA/Castanhal). Juntos, os pesquisadores investigam conhecimentos tradicionais sobre recursos vegetais de uso medicinal em comunidades do baixo curso do rio Caeté.
De acordo com a coordenadora do Lemas, a professora doutora em Recursos Ambientais Amazônicos, Iracely Rodrigues, desde 2016, ela e seus alunos já estudaram mais de 70 plantas nativas. “Nossa linha de pesquisa se concentra na promoção da saúde na Amazônia, levantando dados sobre os saberes tradicionais no uso de plantas medicinais, e depois pesquisando dados de taxonomia, fitoquímica, princípios ativos, segurança, conceitos e simbolismos locais, usos, dosagens, tudo o que envolve o medicamento que acaba sendo uma terapia alternativa para a comunidade”, detalhou.
"Quem sofre com a falta de investimentos nas pesquisas é a população que perde em conhecimento científico” - Gilmara Bastos, pesquisadora.
Segundo Iracely, o mais importante estudo foi feito em 2017, abrangendo comunidades de Bragança e Augusto Corrêa, região em que ocorre a utilização de plantas medicinais e terapêuticas pela população.“Ali é bastante comum as pessoas se tratarem de doenças com terapia alternativa. Esses usos vêm sendo administrados por meio de mecanismos, na sua maioria, desconhecidos e transmitidos de forma oral entre as gerações usuais. As características de usos são próprias de cada comunidade. Às vezes, uma comunidade próxima da outra utiliza a planta de forma diferente, então, a validação da eficácia desses medicamentos naturais depende muito dos levantamentos de sua utilização. Então, foi registrando esse conhecimento das comunidades tradicionais e percebendo a necessidade de se comprovar a eficácia desses usos que o projeto de pesquisa nasceu”, explicou a doutora.
Entre as plantas já estudadas, se destacaram como as mais populares entre os povos tradicionais: Nambu-tutano, combatendo a diarreia causada por amebíase; Canarana, contra cálculos renais; e Insulina, ajudando no tratamento de diabetes. Os três estudos foram realizados analisando o uso dos vegetais pela Comunidade de Ponta do Urumajó, localizada no meio rural do município de Augusto Corrêa, nordeste paraense. As pesquisas, feitas pelos alunos e pesquisadores do Lemas, foram publicadas na Revista Research, Society and Development em 2020.
No trabalho de Deyvison Santos, mestrando do grupo, ele registrou a utilização tradicional de Eleutherine plicata Herb, nome científico do Nambu-tutano, apresentando dados científicos que concordam com o uso popular. Segundo as pesquisas, a planta possui compostos químicos, tais como: naftoquinonas e isoeleuterina, presentes nos bulbos da planta sendo provavelmente responsáveis pela ação terapêutica agindo contra a amebíase. “Os habitantes da comunidade fazem o uso do chá de Nambu-tutano para tratar a diarreia provocada pela doença, tomando 300 ml da bebida somente uma vez ao dia até desaparecer os sintomas”, detalhou o pesquisador.
O mestre Jones Moraes foi o responsável pelo estudo da planta popularmente conhecida como Insulina, que se demonstrou eficaz no tratamento contra diabetes. Em seu trabalho, ele caracterizou os usos terapêuticos e medicinais tradicionais da planta Cissus verticillata pelos ribeirinhos. “Estudos sobre as ações farmacológicas têm evidenciado que esta possui atividades antidiabéticas. Pesquisas comprovam que a ação hipoglicemiante nesta planta se dá devido à presença de Flavonóides em sua composição química e ainda se destaca a Tiramina como princípio ativo responsável pela ação hipoglicemiante na espécie”, explicou o cientista.
Por último, a pesquisadora e mestranda Gabrielle Falcão investigou o uso da planta popularmente conhecida como Canarana, a Costus arabicus L., no tratamento de cálculo renal. Segundo seu estudo, a literatura científica confirma que as raízes possuem efeitos antiurolíticos em função de um polissacarídeo, validando o uso da espécie no tratamento renal. “As pessoas usam o chá dessa planta para combater sintomas urinários e dor nos rins. Quem está com dores, o toma três vezes ao dia até sentir a melhora”, ressaltou a estudante.
Pesquisa promissora na doença de Alzheimer
Uma das pesquisas mais promissoras, coordenada pelos doutores Gilmara Bastos e Milton Nascimento, encontrou propriedades neurogênicas na raiz da Physalis angulata, popularmente conhecida como Camapu. De acordo com os resultados pré-clínicos do estudo, a substância induz células-tronco a formar novos neurônios. “Todos os experimentos que fizemos com o Camapu resultaram em neurogênese, atividade benéfica para potencializar a memória, melhorar a capacidade cognitiva, entre outros benefícios”, diz ela, citando o exemplo de pessoas que sofrem da doença de Alzheimer. “O paciente perde parte de seus neurônios no hipocampo, e nossa pesquisa aponta que é justamente no hipocampo que nascem os novos neurônios estimulados pelo princípio ativo do Camapu”, explica a pesquisadora.
Apesar dessa grande descoberta ter sido anunciada em 2013, os estudos não avançaram por falta de verbas e equipamentos. Os testes realizados até hoje foram feitos em animais, os chamados testes pré-clínicos, entretanto, a professora universitária contou que o grupo tem expectativa de conseguir passar para o próximo passo e fazer testes clínicos com os extratos de Camapu e outros vegetais.
“Por isso a importância de prosseguir com estudos dessa planta, pois precisamos fazer novos experimentos e, para tudo isso, nossa universidade pública precisa de mais incentivos. Quem sofre com a falta de investimentos nas pesquisas é a população que perde em conhecimento científico”, ressalta Gilmara, que também é neurocientista e farmacologista.
Em 2020, o grupo fez uma nova descoberta: um potente analgésico extraído de uma planta nativa da região amazônica que brevemente deve ser divulgado pelos pesquisadores, assim que conseguirem patentear a fórmula. “Já foram feitas todas as atividades farmacológicas dessa substância e acreditamos que estamos trabalhando com um novo medicamento potente", revelou a pesquisadora.
Sabedoria e ciência de mãos dadas
Mesmo com as dificuldades, há muita satisfação nos pesquisadores, que usam a matéria-prima amazônica para valorizar os saberes populares e reafirmar as crenças dos povos tradicionais. Para o professor Milton Nascimento, doutor em Química, quanto mais as pesquisas avançam, mais o conhecimento popular é confirmado pela ciência. “Em se tratando da Amazônia, com a maior biodiversidade do planeta, somente através do conhecimento é que poderemos ratificar sua potência. Além dos minerais, da madeira que no passado gerou riqueza, das frutíferas únicas e com sabor inigualáveis, temos as plantas medicinais usadas pelos povos tradicionais da região”, avalia.
“Eu já vi mulher que não conseguia engravidar nem com tratamento médico ficar grávida após consumir nossas garrafadas" - Antônia Barros, ambulante.
Essa herança é muito forte na cultura popular. A aposentada Maria da Conceição, de 78 anos, tem parte da sua vida fazendo uso de remédios naturais. Ela conta, como exemplo, que curou o ombro “estraçalhado” em uma queda, com a banha da cobra sucuri, um réptil exemplar da região amazônica. “Meu ombro não ficou quebrado, ficou realmente estraçalhado, a ponto de um dos maiores especialistas em ortopedia acreditar que seria necessário usar uma prótese. Mas um amigo me indicou a banha e em um mês eu já tinha um ombro novo”, conta Maria, que também é adepta de todas as plantas possíveis, compradas no mercado Ver-o-Peso, a maior feira a céu aberto da América Latia e uma referência na comercialização desses produtos.
Tradicionalmente, todo esse saber popular dos povos é repassado de geração em geração por meio da oralidade. Portanto, percebe-se a necessidade de documentar esse conhecimento que já vem sendo reconhecido pela ciência, a fim de garantir sua longevidade e evolução. “A Amazônia tem muito a oferecer ao mundo. Cada espécie medicinal encontrada e estudada é uma peça-chave para a descoberta de novos fármacos e sua perda seria um desastre. É por isso que a preservação da biodiversidade e o registro dos saberes tradicionais é tão importante para toda a humanidade”, destaca também a coordenadora do Lemas, Iracely Rodrigues.
Apesar dos avanços e relatos positivos sobre o uso das plantas em tratamentos, o médico generalista Aluízio Semblano fez um alerta sobre a importância de não substituir o tratamento médico por remédios naturais, ainda que já sejam consolidados no mercado. “A importância da natureza no desenvolvimento científico é inquestionável! Entretanto, o recomendado é que nenhuma medicação ou remédio, natural ou industrializado, seja utilizado sem a adequada prescrição médica, baseado na idade, história clínica, exame físico de cada indivíduo. A individualização do tratamento é chave para o sucesso terapêutico”, orienta.
Ele ressalta que o uso de compostos naturais, apesar dos diversos relatos de melhora sintomática, deve ser feito após consulta médica e sua devida prescrição. “Dada a aleatoriedade da qualidade da amostra, quais compostos estão envolvidos, a concentração, lembrando que a diferença entre o remédio e o veneno é apenas a dose, e suas devidas toxicidades, é recomendado que seja aprovado pelo seu médico de confiança”, alerta o especialista.
O saber popular
Antônia Barros trabalha há mais de 15 anos como erveira no Mercado do Ver-o-Peso ao lado do marido José Carlos. Ela contou que ama comercializar plantas medicinais porque, além de fazer parte da cultura do amazônida recorrer aos poderes da natureza quando precisa, ela sempre tem retorno positivo de quem consome seus chás e garrafadas produzidos apenas com plantas. “Eu já vi mulher que não conseguia engravidar nem com tratamento médico ficar grávida após consumir nossas garrafadas. Após tomar duas unidades do produto, a moça voltou aqui comigo alegre para mostrar o sucesso do tratamento já com o barrigão. Então a gente fica muito feliz em poder ajudar as pessoas e popularizar ainda mais o conhecimento popular”.
O produto considerado milagroso é a garrafada que contém um misto de cascas e ervas: Unha-de-gato, Verônica, Copaíba, Barbatimão e Uxi. De acordo com o saber popular dos vendedores, tais componentes têm alto poder anti-inflamatório, atuando na limpeza dos órgãos, curando miomas ou cistos, ajudando assim, na gravidez dessas mulheres.
Outra planta bastante comercializada na banca do casal é a Canarana, a mesma estudada pelo grupo de pesquisa de Bragança. Segundo José Carlos, o vegetal é famoso no combate ao cálculo renal. “Eu mesmo já comprovei os benefícios dele. Teve um tempo que eu não conseguia nem sentar que sentia dores por conta de pedras no rim, mas após tomar o chá, fiquei bom”.
José conta que desde pequeno ouvia falar sobre os benefícios das plantas da Amazônia em tratamentos de doenças. “Todo esse conhecimento foi adquirido inicialmente com minha mãe. Quando eu tinha 9 anos de idade, ela já me passava tudo que sabia sobre o poder das ervas e quando cresci, quis estudar. Então eu e minha esposa fizemos um curso de fitoterapia e hoje, compartilhamos esse saber com filhos, amigos e clientes”, disse.
Para o erveiro, quanto mais a população conhecer o potencial das ervas e raízes provenientes da região amazônica, melhor. “Nossa terra é muito rica em saúde. Tem saúde debaixo da terra, nos caules, nas folhas e frutos. Se isso tudo for valorizado, todo mundo ganha. A população, em saúde, e nós, produtores e vendedores, com as vendas”, complementou.
O casal é um dos 58 erveiros permissionados pela Prefeitura de Belém por meio da Secretaria Municipal de Economia. Assim como nas demais bancas, eles vendem uma imensa variedade de ervas, que custam entre R$ 3 e R$ 5 o maço; cascas de árvores, pelo valor que varia de R$ 3 e R$ 4 a unidade; óleos com preços que vão de R$ 15 a R$ 40; e garrafadas, que são misturas de chás de vários tipos, custando entre R$ 15 a R$ 30. A maioria dos vendedores possui uma horta para venda, mas, assim como José e Antônia, se abastecem com produtos adquiridos de hortas da agricultura familiar cultivadas nos municípios vizinhos da capital.
Walter dos Santos, aposentado, comprou na banca do casal de erveiros um maço de flor de algodão que, segundo ele, o banho preparado com tal planta seria capaz de curar sua filha que está com problemas de pele. O senhor conta que sempre recorre aos conhecimentos populares das erveiras quando precisa. Para ele, as plantas amazônicas sempre trouxeram bons resultados. “Eu prefiro vir aqui do que ir em farmácias. Aqui é tudo natural, sem conservantes e vem da terra. Esse costume eu aprendi com minha mãe que sempre buscou nas plantas a fonte da saúde. Acredito que nós já fomos abençoados por nascer e viver na Amazônia, então, devemos aproveitar tudo o que ela tem para oferecer, inclusive a cura”, ressaltou.
O comerciante Miguel Cordeiro foi outro que saiu da feira com a sacola cheia de produtos naturais. Para ele, tinha adquirido a riqueza da Amazônia. “Muitas pessoas vêm aqui no Ver-o-Peso para tomar banho de cheiro, o que é legal, faz parte da nossa cultura indígena, mas aqui também tem promoção de saúde. Por exemplo, o mel de abelha, andiroba e copaíba são muito bons para inflamações e tudo isso é encontrado na nossa região. Por isso, é bom que a gente pare de desmatar. Se o homem não preservar aquilo que ele desconhece, a gente vai viver tempos difíceis, porque aquilo que tu não conheces, tem que respeitar e buscar conhecer”, disse.
Miguel contou ainda que acredita no poder das ervas e já foi curado de uma grave doença após se tratar com o chá do ouriço da castanha-do-pará. “As pessoas precisam conhecer mais as plantas que servem como cura, além de valorizar o conhecimento popular que é compartilhado pelos povos tradicionais de geração em geração. Eu já tive hepatite e me curei tomando chá do ouriço da castanha. Mas eu já tenho preferência por tratamentos com produtos naturais por conta de uma série de alergias a medicamentos que tenho, então com chás, não tenho esses problemas”, relatou.
Beth Cherosinha está há mais de 50 anos dividindo tudo o que sabe sobre o poder da natureza amazônica no Ver-o-Peso. Segundo a erveira, a região possui mais de mil plantas medicinais e no Pará são cultivadas em todas as regiões. “Essas ervas em geral são produzidas nos interiores. Aqui temos produtos que vieram de Abaetetuba, Icoaraci, Mosqueiro, Boa Vista, entre outros municípios. Eu tenho uma plantação delas em Mosqueiro. Lá tenho Cidreira, Arruda, Mucura caá, folha de limãozinho, folha do pirarucu, e muitas outras. Quando uma criança adoece, se tira um galinho, faz um chá, dá para ela e acabou a dor de barriga. Tá com febre? Vai lá, apanha três folhas de eucalipto e pronto, fica boa”, disse.
Sobre as pesquisas científicas estarem avançando e comprovando as crenças populares, Beth contou que fica feliz em ver que a cultura amazônida é alvo de estudo de cientistas, o que para ela, resulta na valorização do seu trabalho. “Já foram feitas várias pesquisas e, hoje, sabemos que é comprovado que nossas plantas curam. Um exemplo disso é o Leite do Amapá que é cientificamente eficaz em tratamentos de doenças como asma, bronquite, gastrite e úlcera”, detalhou.
Outras plantas também fazem sucesso na banca e, de acordo com ela, dão bons resultados. São elas: Sucuriju, que serve para qualquer tipo de inflamação interna; Amor Crescido, que é um analgésico natural; Pariri, para anemia e hepatite; Mastruz, que serve como expectorante de pulmão; Verônica, também é bom para anemia; Barbatimão, antiinflamatório e potente contra gastrites; Aroeira, ajuda contra a febre. “Cada uma delas tem uma propriedade útil para a população. Sei disso porque exijo que meus clientes voltem para contar sobre os resultados e, em todos esses anos, nunca vi a natureza falhar. E assim, a crença popular continua sendo repassada a todos”, contou alegre.
Fiel ao poder das ervas, a comerciante Carmelita diz que é prova de que os povos tradicionais têm muito a contribuir com toda a sociedade, por meio do conhecimento das plantas medicinais. “Por anos, eu sofri com enfisema pulmonar, procurei fazer vários tratamentos médicos e nunca ficava boa. Após ouvir falar das ervas daqui do Ver-o-Peso, procurei saber se tinha algo que poderia me ajudar. Foi quando conheci a folha de algodão, fiquei boa. Eu fazia o chá desse vegetal adoçado com mel de abelha, tomei por seis meses e depois voltei ao médico para fazer novos exames. Para a surpresa de todos, eu estava curada, graças ao poder da Amazônia”, relatou.
Parceria institucional
As reportagens do projeto Liberal Amazon contam com a participação técnica de pesquisadores e professores da Universidade Federal do Pará (UFPA), promovendo a divulgação do conhecimento científico realizado na Amazônia.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA