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Um oceano de água doce

A escassez de água potável é um dos maiores desafios para o futuro do planeta

Aurélio Oliveira

A expressão “gastar dinheiro como se fosse água” nunca fez sentido para se referir ao maior tesouro responsável pela existência da vida, pois a água não é um mero recurso descartável que pode ser desperdiçado. Precisamos inquietar a nossa consciência para entendermos que o mundo vem enfrentando um panorama difícil nas últimas décadas e que o uso indiscriminado dos recursos naturais coloca em risco o abastecimento de água potável em todo o planeta.

As consequências do consumo descontrolado e da poluição, que degrada o meio ambiente, são sentidas em diferentes partes do mundo. O nordeste brasileiro, que convive com a condição hidrológica natural da seca, não é mais a única região do País a enfrentar colapsos decorrentes da insegurança hídrica. A Amazônia, gradativamente, e mais nos últimos anos, vem sofrendo períodos preocupantes de seca em razão desse desequilíbrio ecológico que tem a interferência humana como principal causa, pois suas atividades diárias e ininterruptas provocam emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global que altera a tempera média da Terra e afeta seus ciclos.

Segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada das Nações Unidas, 2023 foi o ano mais quente já registrado, acima da era pré-industrial (1850- 1900), com aumento de 1,45°C da temperatura global. Um dado preocupante que compromete o futuro à curto prazo.

Medidas precisam ser pensadas e implementadas na contenção do avanço desse cenário, o que demanda reduzir prejuízos para conseguir manter o equilíbrio dos ecossistemas e o bem-estar de todos. Nesse mar de problemas antrópicos, os oceanos são valiosas fontes de soluções, mas sofrem com o aumento da temperatura das águas que coloca em risco toda a sua biodiversidade. Além de serem generosos fornecedores de alimentos e os maiores produtores de oxigênio para o planeta Terra, os oceanos possuem um complexo potencial socioeconômico e cultural que vai desde a geração de energia renovável e limpa até ser fonte de água doce e potável, capaz de abastecer grandes cidades.

O Brasil possui um dos maiores litorais do mundo, com área marítima de 5,7 milhões de quilômetros quadrados, denominada de Amazônia Azul, região político-estratégica que movimenta 95% do tráfego do comércio exterior e importantes insumos da economia. É responsável por 95% do petróleo e 80% do gás natural produzidos no país. Sua atividade pesqueira atende a 45% da de manda interna. E o mar também pode ser utilizado como alternativa para oferta de água doce e potável em regiões em condição de escassez.

A dessalinização é uma prática mundialmente utilizada no fornecimento de água para o consumo humano e não depende das condições climáticas quando de origem marinha, além de também não sobrecarregar os reservatórios de águas doces naturais. Uma planta inovadora de grande porte para dessalinização, a maior da América Latina, está em fase de construção no Brasil, no Ceará, estado historicamente castigado por longos períodos de seca em decorrência das baixas precipitações no semiárido.

Localizada na Praia do Futuro, em Fortaleza, a Dessal do Ceará é uma das soluções investidas para diversificar a matriz hídrica e garantir o abastecimento da Região Metropolitana em períodos de estiagem, com escala de abastecimento de mil litros por segundo (1m³/s), um aumento de 12% da oferta de água, que beneficiará cerca de 720 mil pessoas diretamente. A implantação e operação do projeto tem gestão da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), em parceria com o consórcio Águas de Fortaleza. Seus desafios e impactos ambientais continuam em constantes debates e envolvem a esfera governamental e sociedade civil.

Desde que o mundo é mundo, de citações bíblicas à teoria da origem da vida, o mar sempre fez parte do imaginário coletivo e da construção histórica da sociedade humana. Toda a potencialidade dos oceanos, que cobrem mais de 70% da superfície terrestre, e seus valiosos insumos socioeconômicos precisam ser pensados de maneira sustentável para garantir o suprimento das futuras gerações. Usar sem exaurir, seja qual for o recurso natural, é medida necessária que se faz urgente agora. Além do reforço de programas de educação ambiental, com leis mais efetivas e do constante monitoramento das atividades sociais e industriais. É deste ponto para frente que devemos pensar e caminhar em busca de uma radical mudança de mentalidade e atitudes que construam um ser realmente responsável ambientalmente.


Aurélio Oliveira

Publicitário, estudioso e apaixonado por tudo o que envolve o tema ‘água’.

É criador do perfil Um gole de Estilo (@umgoledeestilo).
 

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