Aumento de transporte individual traz consequências para o meio ambiente e desigualdades sociais
Prejuízos à mobilidade afetam outros aspectos da sociedade com o crescimento do uso de automóveis particulares e serviços por aplicativo
Estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2021, apresenta o cenário da mobilidade urbana no país, com alterações nos níveis de desigualdades e impactos para aspectos como meio ambiente e saúde pública.
A pesquisa ‘Tendências e Desigualdades da Mobilidade Urbana no Brasil I: o uso do transporte coletivo e individual’ foi desenvolvida por Rafael Pereira, Lucas Warwar, João Parga, João Bazzo, Carlos Kauê Braga, Daniel Herszenhut e Marcus Saraiva.
Os dados apontam a crescente substituição do transporte público pelo transporte privado que também traz consequências negativas como a criação de um padrão de urbanização excludente, que compromete a economia e o bem-estar da população.
“O diagnóstico consegue recuperar as principais tendências e padrões de mobilidade urbana no Brasil, desde a década de 70 até os dias de hoje, de uma maneira que consegue consolidar em um único estudo várias tendências em dimensões diversificadas, sejam gasto com transporte, tempo de viagem, desigualdades sociais e custos dos sistemas de transportes”, explica Rafael Pereira.
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Além disso, a dinâmica tem aumentado os níveis de congestionamento, com o crescimento do número de veículos particulares, deixando a população mais pobre por mais tempo em transportes coletivos, com tarifas caras que não correspondem com o conforto no trajeto.
No sistema de transporte público, quanto menos usuários, maior é tarifa - que é calculada pela divisão de todo custo do sistema pela quantidade total de passageiros. “Se diminuímos a base de passageiros, o custo da tarifa por passageiro vai ficando mais caro. Então, essa migração do transporte público para o privado vem contribuindo como um dos fatores para o encarecimento do transporte público e, isso afeta a capacidade da população de baixa renda em usar esse sistema. Portanto, sua capacidade de se locomover pela cidade para acessar oportunidades de saúde, emprego, educação”, afirmou Rafael.
A pesquisa indica ainda que, em praticamente todas as regiões metropolitanas brasileiras, as tarifas dos sistemas de ônibus e o custo do óleo diesel cresceram acima da inflação. Entre 2001 e 2015, o tempo de deslocamento das residências dos moradores para o trabalho aumentou em praticamente todas as metrópoles.
Por outro lado, a frota de veículos individuais motorizados (automóveis e motocicletas) aumentou em 331%, de 2001 a 2020 no país, diante dos valores mais baratos e ajustes dos preços da gasolina abaixo da inflação, até meados de 2016, em parte como resultado das políticas de subsídio por isenções tributárias da época.
A partir de 2020, o contexto se agravou com a pandemia, expondo usuários e empresas do setor a uma situação ainda mais grave com consequências sentidas até hoje. “O sistema de transporte público no Brasil tem um vício no seu desenho que é essa condição em que praticamente todo o recurso necessário, para mantermos o seu funcionamento, depende da tarifa paga pelo usuário”, ponderou.
De acordo com o setor de transportes, uma das alternativas para reverter esse quadro é a adesão ao subsídio do poder público, que desoneraria os usuários e aumentaria investimentos na frota, ofertando maior qualidade no serviço. Belém está entre as três capitais no Brasil que ainda não aderiram ao subsídio governamental, o que penaliza o usuário com o custo integral do serviço de transporte público.
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