Protagonismo feminino negro precisa alcançar mais espaços de decisão e de poder
Mesmo com avanços, falta de representatividade também é vista também nos espaços de saber
O Censo Demográfico 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em outubro deste ano, revelou que a população brasileira é formada, em sua maioria, por mulheres.
O país tem uma população residente de 203.080.756 habitantes. Deste total, 104,5 milhões (51,5%) são mulheres, enquanto que 48,5% são homens.
Os números, no entanto, não são animadores quando o assunto é a representatividade feminina em alguns espaços, como na política. Quando esse recorte é sobre mulheres negras, os dados são até mais difíceis de serem encontrados.
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A jornalista, ativista e pesquisadora sobre Raça, Gênero e Decolonialidade na Comunicação, Flávia Ribeiro, explica que o protagonismo feminino negro existe, mas ainda é incipiente. “As mulheres negras são sub-representadas nos espaços de poder, de saber. A gente tem que questionar essa realidade para que a gente se veja representado, para que seja naturalizado esse corpo negro”, defende.
Ela conta que a partir de 2015, com a Marcha das Mulheres Negras, esse protagonismo começou a ser buscado com a força dos movimentos sociais. “Teve a intensificação no debate, na busca desses espaços, mas ainda sim a gente não vê isso consolidado em números”, conta a ativista.
Um tímido avanço foi visto nas últimas eleições, quando Lívia Duarte foi eleita como a primeira deputada estadual preta do Pará. “O cenário é muito ruim e tem melhorado. Temos uma sociedade preta esmagadoramente, mas o protagonismo da mulher ainda é muito pequeno. Os espaços de poder são embranquecidos”, avalia a parlamentar.
A deputada destaca que esse cenário pode começar a mudar com a adoção de políticas públicas que dão oportunidades à mulher negra de participar de processos democráticos não como mera espectadora, mas como liderança. “Ninguém que tá sentado numa cadeira de poder quer levantar para uma mulher negra sentar. Nós queremos olhar para esse poder e nos enxergar”, defende.
Essa falta de representatividade é vista também nos espaços de saber. Por isso, a professora da Universidade do Estado do Pará (Uepa) Creusa Santos acredita na “urgente reparação histórica por igualdade racial, na perspectiva de eliminar o racismo estruturante que causa a invisibilidade das mulheres pretas brasileiras”.
Ao entrar em sala de aula, todos os dias, ela resiste. “Nós, mulheres pretas e pardas do Brasil, ainda sofremos com o racismo e o preconceito. Isto é visível nos espaço acadêmicos das universidades, nos quais somos minoria ou nem existimos nos espaços de decisão e poder. Aliás, nas universidades, muitas vezes, somos invisibilizadas também pelo racismo estrutural”, afirma.
Para a professora, que se apresenta como “mulher preta, gorda, intelectual e militante social”, o protagonismo da mulher negra será efetivo quando houver participação nos processos construtivos. E ela aponta um caminho: “tudo começa na educação infantil, se ensinarmos as crianças a linguagem antirracista no futuro teremos contribuído sobremaneira para uma sociedade equânime, etnicamente respeitosa e igualitária”.
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