Conheça o maior sistema aquífero do planeta: o Grande Amazônia
Pesquisas podem revelar o potencial desse tesouro subterrâneo que inicia nas bacias sub-andinas e segue pelas bacias dos rios Marajó, Amazonas e Solimões
Diante das mudanças climáticas e escassez hídrica no planeta, é cada vez mais importante proteger os reservatórios de água doce. Considerado o maior do planeta, o Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA), vem sendo estudado por pesquisadores do campo da geologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal do Ceará (UFC), desde o início dos anos 2000.
Entretanto, o potencial dessa fonte ainda é desconhecido, pela necessidade de se avançar em investigações sobre distribuição, qualidade e reservas.
“A água está se tornando cada vez mais uma commodity e, nesta perspectiva, o maior depósito de água doce do planeta não passa despercebido aos olhares internacionais. Nesse momento de Dia Mundial da Água e sobretudo de COP 30, o SAGA merecia um tratamento diferente, pela enorme importância estratégica que ele representa”, afirma o geólogo e presidente do Instituto de Estudos Estratégicos da Amazônia, Francisco de Assis Matos de Abreu, que acompanha as pesquisas há cerca de 30 anos.
O reservatório foi encontrado por acaso, durante perfurações de uma plataforma que buscava petróleo em Alter do Chão, na década de 1950. Ele se formou embaixo de várias camadas de rochas com areia e argila, de maneira que a estrutura se comporte como uma esponja.
A água é fundamental para a manutenção da vida na região e a preservação desse manancial gigante é importante não apenas para a vida na floresta, mas para o planeta diante da ameaça de abastecimento hídrico.
Com uma área total de um milhão e duzentos mil quilômetros quadrados, o Sistema possui 75% de sua extensão em território brasileiro, sendo compreendido pelas bacias do Marajó, Amazonas, Solimões, Acre e sub-andinas.
A denominação do sistema foi alterada após a incorporação do aquífero Alter do Chão e outros sistemas menos famosos. O volume ultrapassa 160 mil quilômetros cúbicos. Acredita-se que essa quantidade seria suficiente para abastecer o planeta por 250 anos.
Atualmente, o Grande Amazônia representa cerca de 86% do ciclo hidrológico da região e tem importante papel na manutenção do fluxo hídrico, contribuindo para a permanência de boa parte dos rios amazônicos, entre outros pontos.
Os pesquisadores também salientam a importância da relação água x floresta, estabelecendo a floresta em pé como parâmetro econômico muito mais importante do que removê-la para qualquer outra atividade econômica. Em suma, eles pontuam que o sistema e a vegetação amazônica dependem um do outro para que ambos possam existir.
Dessa maneira, são criadas as chuvas que irrigam quase todo o País, por meio de transferências de plumas na atmosfera, que movimentam não apenas massa, mas também de energia, vital para o equilíbrio ecossistêmico.
“A Amazônia transfere anualmente cerca de 8 quatrilhões de litros de água para o centro-sul do Brasil-América do Sul e essa transferência é responsável pelas sustentação de grande parte do agronegócio brasileiro e por aproximadamente 70% do enchimento das barragens que produzem a mais limpa matriz energética do mundo" - Francisco de Assis Matos de Abreu, geólogo e presidente do Instituto de Estudos Estratégicos da Amazônia
A questão alerta para a necessidade de alternativas voltadas para a sustentabilidade. O avanço do desmatamento, as contaminações de rios e o aumento da demanda por água representam ameaças para os reservatórios subterrâneos. Além de incentivo a pesquisas é necessário o desenvolvimento de políticas públicas para a preservação desses sistemas, como regulamentação do uso de água e acesso a saneamento às populações, para o correto descarte de resíduos e tratamento de água e esgoto.
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