Altamira é destaque no combate às queimadas e ao desmatamento, e busca a preservação ambiental
Operações envolvem diversos órgãos de fiscalização e já refletem na diminuição de crimes ambientais no maior município do país
Todo ano o cenário é parecido. Cortinas de fumaça encobrem cidades inteiras durante o chamado verão amazônico e, no Pará, a região Sudoeste é uma das mais castigadas. Neste pedaço do estado fica Altamira, maior município do Brasil, terceiro maior do mundo. Altamira sofre com queimadas irregulares. Na cidade, os focos estão ligados a soluções equivocadas em dar fim ao lixo; no campo, geralmente são mais comuns em grandes áreas, incendiadas de maneira criminosa para abertura de pastos.
Com extensões continentais, o que impossibilita manter sentinela constante em seus 159.533 quilômetros quadrados, não raramente Altamira aparece no topo da lista de municípios que mais queimam e desmatam a floresta. Mas, a Secretaria Municipal de Gestão do Meio Ambiente (Semma) investe pesado em ações que ajudam a reverter o quadro.
Com o envolvimento de diversas instituições parceiras, movimentos sociais e comunidades tradicionais, a Prefeitura de Altamira, por meio da Semma, investe em operações nas áreas urbana e rural voltadas ao combate às queimadas e ao desmatamento. As atividades ganharam reforço a partir de 2020, com a reativação da secretaria que havia sido rebaixada a coordenadoria na gestão passada.
O uso da bioeconomia, com recursos da natureza, é um exemplo de como a gestão ambiental pode ser convertida em ferramenta contra crimes que degradam a floresta. O titular da Secretaria de Meio Ambiente de Altamira, Ubirajara Júnior, destaca que as ações realizadas em parcerias com diversas instituições têm contribuído para a diminuição dos índices.
“Estamos agindo com firmeza contra o desmatamento e as queimadas irregulares, com operações coordenadas entre a Semma Altamira, o estado e o Governo Federal, tanto na zona rural como na urbana. Juntos, estamos protegendo nossa biodiversidade e garantindo um futuro mais verde e sustentável para os altamirenses”, sinaliza.
Preservação
Com o reforço em programas e operações ambientais, o município conseguiu frear o avanço de queimadas e derrubada de árvores, saindo do topo para a terceira posição no ranking nacional. Altamira tem hoje cerca de 89% de sua floresta preservada, o que corresponde a 142.093 quilômetros quadrados e luta para reduzir os 4% de desmatamento ilegal, compreendendo os anos de 2008 a 2022.
A partir de dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foi possível reposicionar Altamira tirando o município do topo da lista. O projeto monitora taxas anuais de corte raso nos nove estados da Amazônia Legal e também aponta a necessidade de manter as ações de enfrentamento, como explica o secretário de meio ambiente Ubirajara Júnior. “O trabalho realizado envolve políticas públicas de fiscalização em áreas adjacentes da sede do município. Além disso, temos focado em um trabalho de sensibilização sobre o desmatamento para que possamos assim, evitar o crescimento desta prática”.
Com uma gestão focada na bioeconomia, utilizando recursos naturais para a produção de bens e serviços, Altamira aproveita o potencial de geração de empregos, renda e desenvolvimento econômico, além de contribuir para a conservação da biodiversidade e a proteção do meio ambiente.
O professor da Universidade Federal do Pará (UFPA Campus Altamira), doutor Anderson Serra, entende que as ações que Altamira passou a adotar têm grande potencial para desenvolver a bioeconomia por meio das comunidades tradicionais, o que contribui diretamente na batalha contra o desmatamento e as queimadas.
“Eu costumo dizer que Altamira tem uma vocação natural em diversas visões e matrizes das bioeconomias. Altamira, em sua condição natural e por ter 12 terras indígenas, 9 unidades de conservação, 8 assentamentos rurais e 89% da sua cobertura vegetal, tem uma vocação natural para promoção das diversas possibilidades da bioeconomia”, explica.
Outra iniciativa adotada no município são estratégias de mitigação e emissão de gases de efeito estufa (GEEs), com a utilização de atividades de agropecuária de forma sustentável. A iniciativa foi apresentada nos dias 13 a 16 de julho, na 2ª edição do Concerto Ambiental de Altamira, evento criado pelo prefeito Claudomiro Gomes para discutir os índices de desmatamento no município.
O concerto acompanha as ações desenvolvidas pelo Governo Federal, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A diretora de cadeias produtivas, indicação geográfica e agregação de valor do MAPA, Fabiana Villa Alves, participou da edição deste ano e apresentou alternativas nacionais que podem ser adequadas à realidade local.
“A sustentabilidade deve ser entendida como um tripé. Você tem a sustentabilidade ambiental, financeira e social. Quando a gente consegue capturar valor na floresta, agregar valor a essa floresta em pé e em produtos da sociobiodiversidade (conceito que expressa a inter-relação entre a diversidade biológica e a diversidade de sistemas socioculturais, povos e comunidades tradicionais), o produtor conserva sua floresta e esse território realmente é valorizado”, conta Fabiana Villa Alves.
O prefeito de Altamira, Claudomiro Gomes, também entende que a manutenção da floresta deve ter entre as prioridades os povos tradicionais que habitam a região há séculos. Na avaliação do gestor, a redução de queimadas e do desmatamento deve envolver diretamente o poder público. É assim que Altamira consegue frear crimes ambientais, manter o protagonismo do município como capital da Transamazônica e Xingu, já de olho na Conferência Anual do Clima (COP 30).
“Devemos sempre discutir estratégias de produção e preservação do meio ambiente com todos os setores produtivos. Desde os extrativistas, ribeirinhos, indígenas, pequenos agricultores e grandes produtores rurais. Esperamos colocar Altamira, o maior município do Brasil, com um papel importante nessa discussão que começa a ser realizada no Pará, visando a COP 30, em 2025, na cidade de Belém”, anseia Claudomiro Gomes.
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