Sem clube, Eutrópio comenta troca de técnicos no futebol brasileiro: 'Legislação facilita a demissão'
Treinador Vinícius Eutrópio falou sobre as frequentes trocas dos profissionais nos clubes. Somente neste ano, foram 16 mudanças no comando técnico nas equipes de Série A
A dança de técnicos no futebol brasileiro se intensificou na temporada 2020. Apesar da paralisação das atividades por causa da pandemia de coronavírus, os campeonatos retornaram e já fizeram vítimas, como Enderson Moreira, que comandava até então o Cruzeiro na Série B do Campeonato Brasileiro.
Desde o início do ano, já foram 16 trocas das equipes que disputam o Brasileirão. Renato Gaúcho, apesar da pressão atual pelos resultados, é o mais longevo: são quatro anos no comando do Grêmio.
Vinícius Eutrópio, que dirigiu o Figueirense no ano passado e atualmente está sem clube, acredita que a cultura do futebol brasileiro é o principal fator que impede a execução de trabalhos a longo prazo.
- Existem alguns fatores que geram a troca constante de treinadores, e o principal deles, para mim, é a cultura de resultados que se formou em torno desse assunto e não de conteúdo de trabalho e planejamento a médio e longo prazo - comentou o treinador antes de completar:
- Com isso, torcedores, imprensa, jogadores, funcionários e até treinadores acabam aderindo e praticando, mesmo que instintivamente, este processo. Aliado a isso, a legislação que existe em outros países não existe no Brasil, facilitando assim a demissão dos treinadores com pouca proteção ao cargo.
Para a coach esportiva Amanda Ciaramicoli, a pressão por resultados acaba prejudicando o profissional que está no comando técnico a mostrar o seu melhor e, de fato, colocar em prática o que havia planejado.
- Um treinador que possui consciência de suas qualidades e competências consegue utilizar situações como essa ao seu favor. Eles sabem lidar melhor com os desafios, obtém melhor controle emocional e disciplina para apresentar o que sabe ao lado do grupo que tem nas mãos. Mas quando não existe essa compreensão, muitas vezes a continuidade no cargo se torna insustentável.
Vinícius Eutrópio, que já viveu situações como essa durante sua carreira no futebol brasileiro, endossou o posicionamento de Amanda sobre o assunto:
- Esse tipo de trabalho é importante para traçar metas, objetivos, foco e estabilidade emocional para enfrentar os obstáculos e adversidades da nossa profissão, bem como um melhor entendimento dos comportamentos do elenco, liderança e, consequentemente, alcançar os resultados que ainda são os principais fatores para a manutenção do treinador e seu trabalho - finalizou.