Em sete meses de gestão à frente do Remo, Tonhão continua perseguindo as promessas de campanha
O mandatário remista vem tentando de tudo, mas as sucessivas derrotas dentro e fora de campo deixam os objetivos traçados na campanha, entre eles o acesso à Série B, cada vez mais distantes da realidade
Em novembro de 2023, antes de vencer de forma arrasadora as eleições para a presidência do Clube do Remo, Antônio Carlos Teixeira, o Tonhão, fundamentou sua campanha em aspectos de ampla necessidade àquela altura, sobretudo no futebol, já que a gestão anterior priorizou a parte administrativa e, com maestria, saneou as contas do clube. Com o caminho pavimentado, chegara a hora do futebol ser a prioridade, tendo à frente um dirigente dos mais experientes, talvez o único entre os ditos "cardeais" que ainda não havia ocupado o trono azulino.
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Passados sete meses, o Clube do Remo segue longe do planejado: perda do título estadual, eliminação na Copa Verde e desclassificação precoce na Copa do Brasil e uma sequência de derrotas para o maior rival, isso sem adentrar na questão das contratações, dispensas e a falta de perspectivas do torcedor. O Núcleo de Esportes de O Liberal enumerou seis episódios controversos da administração de Antônio Carlos Teixeira que deixaram o torcedor apreensivo quanto à realidade das promessas feitas antes das eleições. Veja:
Ricardo Catalá, a primeira crise
Ricardo Catalá chegou ao Remo ainda em 2023, após ser campeão da Série C de 2022. Quando assumiu a presidência do clube, Tonhão trouxe de volta e o resultado foi catastrófico: contratações duvidosas, campanha pífia no Parazão, com quatro vitórias, dois empates e uma derrota. Sem identidade, aceitação ou trabalho nítido, Catalá caiu em descrédito com o torcedor, que passou semanas pedindo a sua saída. Mas a demissão tardia só foi concretizada após a eliminação na 1ª fase da Copa do Brasil, para o Porto Velho-RO e o empate com o São Francisco em pleno Baenão, pela 6ª rodada da fase de grupos.
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A melancólica despedida do goleiro Vinícius
Vinícius chegou ao Remo em 2017 e esteve em campo com a camisa do Remo em 258 partidas, ganhando status de ídolo ao conquistar três títulos do Campeonato Paraense (2018, 2019 e 2022), uma conquista inédita da Copa Verde em 2021, além de um acesso à Série B em 2020.O jogador teve seu vínculo encerrado pela atual diretoria do Remo no final de fevereiro após uma série de especulações sobre sua aposentadoria. O mal estar entre o jogador e a diretoria resultou no cancelamento da homenagem que seria feita pelo clube. Em resposta, Vinícius excluiu a diretoria de seus agradecimentos e acabou deixando o clube pela porta dos fundos.
Bloqueio de contas/débitos tributários
A promessa de ter valores de patrocínios e cotas de competições nacionais livres de bloqueios na temporada 2024, após o Remo quitar dívidas trabalhistas na gestão de Fábio Bentes, não aconteceu. Tonhão explicou que "o governo, a Funtelpa e o Banpará têm pago, mas o dinheiro vai para a Justiça do Trabalho. O Remo saldou [dívidas trabalhistas] junto aos credores (jogadores) mas existem pendências em relação ao INSS desses atletas no TRT (Tribunal Regional do Trabalho). No momento, o clube tem débitos com o INSS, FGTS e Imposto de Renda, que o impedem, inclusive, de fazer maiores reformulações no elenco, bem como dispensas, entre outros, travando completamente as finanças do clube em plena disputa da Série C.
Contratações questionáveis e dispensas
Ainda em 2023, o futebol azulino começou a ser montado com jogadores indicados pelo então técnico Ricardo Catalá. Chegaram Reniê, Ícaro, Ligger, Vidal, Raimar, Renato Alves, Daniel, Giovanni Pavani, Camilo, Ytalo. Neste ano, vieram Jaderson, Echaporã, Kelvin, Ribamar, Sillas, entre outros. Ao todo, foram 24 contratações, a maior parte delas duvidosas, que, na ausência de resultados, começaram a ser alvo de protestos. Mas sem dinheiro para as rescisões, o presidente se diz de "mãos atadas". Até aqui, oito jogadores já deixaram o clube: Daniel, Camilo, Reniê, Ícaro, Nathan, Renato Alves, Sillas e Echaporã.
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Internação hospitalar por pneumonia
No dia 12 de março, o presidente, que tem 65 anos, foi internado às pressas com um quadro de pneumonia e acabou internado por 12 dias. Nesse período, ao invés de delegar suas funções aos mais próximos na hierarquia remista, continuou trabalhando de modo remoto. A liderança incontestável do presidente, inclusive, já causou alguns estranhamentos com seus pares. Na época em que Ricardo Catalá comandava o clube, Milton Campos, vice-presidente, detonou a decisão. "O Tonhão tem tomado as decisões do futebol sozinho, mas eu sou totalmente contra a permanência do Catalá. É uma insanidade que tão fazendo, que beira à loucura", disse na época. Junto ao presidente, o braço direito do futebol remista tem sido Sérgio Papellin, executivo de futebol.
Eliminações duplas para o Paysandu / nenhuma vitória em Re-Pa
Remo e Paysandu coexistem ao longo do tempo. A rivalidade entre os maiores clubes do Estado é quase que o motivo da existência de ambos e, na atual temporada, o Clube do Remo simplesmente foi humilhado pelo maior rival em quatro episódios seguidos, que expuseram a crise no clube. Pelo Campeonato Paraense houve uma derrota e um empate, que entregou o título ao rival. Pela Copa Verde foram dois empates e uma eliminação nos pênaltis. Ao todo, somando com o clássico da primeira rodada do estadual, foram cinco partidas, sendo quatro empates e uma derrota.
Dizer que só tem tomado "porrada"
Diante de tantas perdas, o presidente parece não ter perdido a sinceridade. Durante uma entrevista a um podcast esportivo, Tonhão foi questionado sobre o atual momento e não mediu palavras para dizer o que se passa na sala da presidência. "Atualmente a gente não está tendo apoio, tá tendo é muita da porrada, estamos procurando absorver e isso é natural, só não pode ter ofensas morais, ofensas à família e isso aí é preciso respeito dos dois lados”. Apesar de ter sido derrotado no estadual, eliminado na Copa Verde pelo maior rival, perder as cotas das primeiras fases da Copa do Brasil e ocupar atualmente a vice-lanterna da Série C, o presidente segue nutrindo a esperança por dias melhores. "Ninguém está satisfeito, principalmente eu, pelo presidente que sou e responsável maior pelo ano do Remo”, conclui.