Elenco com ex-seleção, salários atrasados e rebaixamento: há 12 anos Remo se despedia da Série B

Desde 2016 quando retornou à Série C, o foco do Remo é conquistar o acesso para o Brasileiro Série B. O clube paraense realizou a sua última partida na Segundona no dia 24 de novembro de 2007, com vitória da Ponte Preta-SP por 1 a 0, no estádio Mangueirão. Neste domingo, o jogo completa exatos 12 anos.

A diretoria do então presidente remista, Raimundo Ribeiro, montou um elenco, que conquistou o título do Campeonato Paraense, mas que no Brasileirão não conseguiu repetir o mesmo desempenho. O ex-atacante Fábio Oliveira, hoje com 45 anos, lembrou como foi a temporada 2007, revelou as complicações vividas no clube azulino e confessou que o Remo os salários atrasados foram cruciais para que o clube fosse rebaixado.

“O time foi um dos melhores [que já joguei]. Nosso elenco era forte, mas a diretoria da época foi irresponsável. Foram quase seis meses sem receber, mas sem dúvida esse time era para ter sido campeão”, falou.

TIME COM MEDALHÕES

O clube tinha no elenco atletas renomados como o goleiro Danrley, campeão brasileiro e da Libertadores pelo Grêmio e com passagens pela Seleção Brasileira, além do zagueiro Matheus Ferraz, que hoje atua no Fluminense-RJ, do volante Sandro Silva, que saiu do Leão e jogou no Palmeiras-SP, Botafogo-RJ, Malága da Espanha, Internacional-RS e Cruzeiro-MG, e dos meias Elvis, campeão da Copa do Brasil pelo Santo André-SP e Alexandre, que atuou no São Paulo-SP, Santos-SP e Atlético-MG.

Goleiro Danrley (ao centro) defendeu o Leão na Série B de 2007. Ele teve passagem pela Seleção Brasileira e conquistou a Libertadores pelo Grêmio-RS (Ary Souza / OLiberal)

CRISE FINANCEIRA E AJUDA

A crise financeira do Remo fez com que Fábio Oliveira e Jóbson tomassem a frente da situação e ajudasse atletas e funcionários do clube. O ex-atacante azulino falou sobre o ex-mandatário Raimundo Ribeiro, com quem possui um bom relacionamento até hoje.

“Nós nunca chegamos a comprar material para o clube, mas nós [eu e Jóbson] ajudávamos funcionários e jogadores com cestas básicas, passagens. O Raimundo Ribeiro sempre foi boa pessoa, infelizmente ele não tinha dinheiro para cumprir com os salários. Por isso passamos essa situação em 2007, com uma equipe forte, mas que fora de campo não deu certo. Refletiu nas quatro linhas”, disse.

Jóbson e Fábio Oliveira eram os líderes do elenco (Ary Souza / OLiberal)

 A ÚLTIMA PARTIDA

O Leão chegou à última rodada da Série B já rebaixado. Nas arquibancadas, os torcedores protestavam com gritos e faixas, pedindo a saída de Ribeiro do cargo. Fábio Oliveira lembra que aquele confronto com a Ponte Preta foi melancólico. Segundo ele, alguns atletas pensaram em não atuar, mas a maioria resolveu seguir o conselho do técnico Bagé, gaúcho que comandou o clube nos últimos jogos.

“Tiveram alguns atletas que pensaram em não ir ao jogo. Fizemos uma reunião com o professor Bagé e ele pediu comprometimento. Ele disse que ninguém era obrigado a ir para a partida, mas nos fechamos com ele. Foi uma situação muito triste. Eu me senti sem rumo”, comentou.

Torcida azulina não aliviou e protestou contra Raimundo Ribeiro, inclusive com camisas com o rosto do presidente  (Cristino Martins / OLiberal)

ARTILHEIRO E PARCERIA

Mesmo diante do rebaixamento, com salários atrasados e tendo que ajudar os funcionários, Fábio Oliveira terminou a Série B de 2007 como terceiro artilheiro da competição com 22 gols marcados, ficando atrás de Alessandro (Ipatinga-MG – 25 gols) e Val Baiano (Vitória-BA – 23 gols). O camisa 9 azulino teve como parceiro uma pessoa irreverente e que ganhou status de ídolo do Leão pelo título Brasileiro conquistado em 2005: Landu.

“Foi um ano difícil, cheguei ao Remo vindo do Atlético-GO e encontrei no clube um parceiro e amigo. O Landu foi o melhor atacante que eu tive o prazer de jogar e de ter como amigo. Ele é um cara especial, que procura ajudar as pessoas. É uma amizade que vou levar para o resto da vida”, frisou.

Fábio Oliveira e Landu formaram dupla de ataque no Leão (Cristino Martins / OLiberal)

FORA DOS GRAMADOS

Oliveira ainda bate uma bola com os amigos no REPATU (fusão de ex-atletas que passaram por Remo, Paysandu e Tuna) e trabalha como motorista de aplicativo, além de agenciar alguns atletas. Em 2019, treinou a equipe do Vila Rica na estreia da Segundinha mas resolveu deixar o cargo, mas contou que pretende seguir na carreira de treinador e planeja realizar alguns cursos na área.

“Esse ano treinei o Vila Rica, ganhamos por 3 a 0 e tive alguns problemas com a diretoria então preferir entregar. Se aparecer alguma proposta, vou aceitar e observar se dá para seguir. Penso em ir a São Paulo e ao Rio de Janeiro para fazer alguns cursos”, falou.

ASSISTA AO GOL DA PONTE PRETA NA ÚLTIMA PARTIDA DO REMO NA SÉRIE B DE 2007

FICHA TÉCNICA 

Local: Estádio Mangueirão, em Belém – PA

Data: 24/11/2007

Árbitro: Wilson Souza de Mendonça – PE (Fifa)

Cartões amarelos: Júlio César.

Gol: Léo Mineiro, aos 6 minutos do 1.º tempo.

Renda:R$7.435,00 - Público:718 pagantes (Total:2.168)

Remo: Danrlei; Altair, Diego Barros e Anelka (Cicinho); Maurício Oliveira, Neto (Jobson), Ricardo Oliveira, Romeu (Fabinho) e Wellington Saci; Adriano Miranda e Fábio Oliveira. Técnico: Bagé.

Ponte Preta: Aranha; Júlio César (Carlinhos), Alexandre Black, João Paulo e André; João Marcos, Dionísio, Alex Silva (Célio Santos) e Rafael Ueta; Léo Mineiro (Fernando) e Wanderley. Técnico: Sérgio Guedes