Do início humilde ao estrelato, a trajetória de superação de Rony até a Seleção Brasileira; veja
A ascensão de Rony no futebol profissional não nasceu da noite para o dia; por muito tempo, o jogador tentou se firmar na base azulina e em uma única oportunidade mostrou o talento que viria a conquistar o país
Exatos 10 anos atrás, um garoto franzino, de pouca conversa e sorriso envergonhado, chegava ao Baenão para tentar a sorte nas categorias de base do Clube do Remo. Dotado de um talento visível, mas ainda bruto por fora, o jovem Rony teve o início no futebol semelhante ao de muitos que chegam diariamente em busca de uma oportunidade. Da família humilde nasce a necessidade e do talento nasce a estrela, que hoje brilha com força total, amarela como as cores da Seleção Brasileira, o novo palco do agora "Rústico", ídolo e grande craque dos gramados. Enredo melhor impossível.
A vida de Rony daria um filme, tamanha a força de vontade e superação encarnados por ele. Apesar do potencial, faltou a ele o mais importante: a valorização. Até pouco tempo atrás, era comum ver talentos se perderem por causa da pouca ou quase nenhuma estrutura nos clubes paraenses. Esse cenário começou a mudar, em parte, graças à ascensão de atletas como o próprio atacante, que precisou "esfregar" o seu talento, fazendo que a expressão "cria da base" fosse, enfim, melhor compreendida.
Em 2014, quando chegou ao Clube do Remo, Rony não encontrou muitos espaços nas categorias de base e, no mesmo ano, retornou à cidade natal, a pequena Magalhães Barata, onde passou a sobreviver de bicos, entre eles o de mototáxi. Mesmo com duas competições importantes na temporada, a Copa Norte e Copa do Brasil, o garoto foi preterido, depois de ter disputado uma final estadual do sub-20. A solução imediata, ao ver novos garotos contratados, foi desistir da carreira e voltar para casa.
Sem oportunidades e com 19 anos anos nas costas e poucas perspectivas, o sonho parecia ter chegado ao fim, não fosse a insistência de um "anjo da guarda", que atendia pelo nome de Walter Lima, antigo técnico das categorias de base do próprio Remo. Do outro lado da linha, a pergunta simples e objetiva fez a faísca crescer e chama brilhar novamente. Rony fora convidado para compor o time que disputaria a Copa São Paulo de Futebol Junior daquele ano.
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Profissional
Sem pensar duas vezes, Rony reuniu as economias, contando com a ajuda de parentes e voltou a Belém, sendo destaque em um time que reunia diversos talentos, como Tsunami, Jáder, Alan Marley, Rodrigo, Warian Santos, entre outras promessas. Depois de provar o seu valor, Rony voltou a ter espaço no Leão Azul, contando agora com a atenção dada pelo diretor das categorias de base, Paulinho Araújo. Walter e Paulinho, talvez prevendo a potência na qual o garoto se transformaria, passaram a cuidar dele, até que fosse levado ao time profissional.
Mas as coisas não pareciam fáceis. Rony ainda era um garoto, nascido no Pará, franzino, de pouca rodagem e nenhuma "malandragem". Naturalmente as condições eram adversas, enquanto o elenco daquele ano contava com nomes de peso, como o goleiro Fabiano, os zagueiros Max e Raphael Andrade, os volantes Dadá e Jhonnatan, os meias Eduardo Ramos, Athos e Thiago Potiguar, além de atacantes como Leandro Cearense, Val Barreto, Leandrão. Nesse meio o pequeno Rony foi inserido e não tardou para se destacar.
Na época, o comando técnico da equipe saiu das mãos de Charles Guerreiro para Agnaldo de Jesus. Com o primeiro, não foram muitas chances, mas graças a insistência do diretor e até do presidente do clube, Zeca Pirão, o atacante jogou, enfim, pela equipe profissional. A estreia aconteceu em março de 2014, contra o São Francisco, pelo Campeonato Paraense. Rony entrou no lugar de Leandrão, o principal contratado naquela temporada. Mas foi o garoto que salvou o time da derrota, marcando o gol que fechou a partida em 1 a 1.
A partir dali o garoto foi cavando espaço e abrindo espaço para outros jogadores da base emergirem ao profissional, embalados pela boa campanha do time na Copinha. Uma geração inteira despontava e Rony era o principal nome. Com o futebol ascendendo, no entanto, ele precisava de alguém para lhe ajudar na carreira, que parecia finalmente engrenar. Depois de algumas sondagens e interesses, Hércules Junior, um empresário ligado ao mundo das artes, entrou na vida do atleta e começou ali uma parceria que perdura até os dias atuais.
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Hércules
Ao lado do empresário, Rony passou a administrar melhor a carreira e os convites que começavam a chegar, muitos de grandes times do Brasil, interessados no talento que precisava ser lapidado. Rony era um jogador de velocidade, mas ainda muito afoito, com restrições de fundamento. Ora marca belos gols, ora isolava a bola para longe. Como toda joia bruta, Rony precisava ser lapidado e aos poucos esse trabalho foi sendo feito, mas longe de Belém do Pará.
Logo que formalizou a parceria com Hércules, o empresário descobriu uma série de irregularidades envolvendo o Clube do Remo, como atrasos salariais, promessas não cumpridas, FGTS atrasado, entre outros direitos que estavam sendo ocultados do atleta. A partir dali a relação com o clube azedou e o caso foi parar na justiça. Na véspera da audiência, uma última tentativa foi feita pelo clube para frear o avanço do caso, incluindo uma promessa de um carro e um apartamento melhor.
Mais uma vez, a promessa do clube não foi cumprida e, no ano seguinte, coube ao presidente posterior, Pedro Minowa, honrar uma espécie de "acordo de cavalheiros", que determinaria a liberação do atleta ao final da temporada sem custo para o clube e sem ações na justiça. Rony, enfim, poderia seguir seu caminho livre e assim o fez. Depois do Clube do Remo, desembarcou na Toca da Raposa, sendo apresentado como reforço da base do Cruzeiro. Brigas à parte, o atacante diz que não guarda mágoas do antigo clube.
Após sair do Remo, Rony passou pelo Cruzeiro, mas ficou por pouco tempo e transferiu-se para o Náutico, onde marcou 14 gols em 2016, chamando novamente a atenção de grandes times. Na época, ele estava emprestado ao clube pernambucano, com os direitos pertencentes ao Cruzeiro, que o emprestou para o Albirex Niigata, do Japão. Em 2018 chegou ao Atlético Paranaense, onde começou sua coleção de títulos e a grande ascensão que o levaria ao posto de um dos jogadores mais cobiçados do país nos anos seguintes.
Apogeu
Se no Clube do Remo ele foi bicampeão paraense em 2014 e 2015, pela equipe paranaense elevou suas conquistas para uma Copa Sul-Americana, em 2018, e uma Copa do Brasil, em 2019. Por fim, em 2020 desembarca no Palmeiras, depois de uma disputa ferrenha com o Corinthians. Rony foi para o time comandado por Wanderley Luxemburgo e logo provou valer cada centavo investido. Até aqui, foram nada menos que oito títulos, entre eles um bi-paulista (2020, 2022), bi da Libertadores (2020, 2021), uma Copa do Brasil (2020), Recopa Sul-Americana (2022), Campeonato Brasileiro (2022) e Supercopa do Brasil (2023).
Depois de uma jornada completa e repleta de altos e baixos, Rony chega agora ao posto máximo onde qualquer jogador pode chegar e vai, pela primeira vez, vestir a camisa da Seleção Brasileira, provando que no futebol o céu é o limite.
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