Projeto Kukràdjá Xikrin celebra identidade, cultura e resistência por meio do esporte
Iniciativa atende 13 aldeias na Terra Indígena Bacajá (PA) com oficinas esportivas que unem futebol e saberes ancestrais
No rastro do Dia dos Povos Indígenas, celebrado nesta sexta-feira (19), uma iniciativa que nasce na Terra Indígena Bacajá, no Pará, lança luz sobre a força do esporte como ferramenta de resistência cultural. O projeto Kukràdjá Xikrin vai atender mais de 400 indígenas, entre crianças, jovens e adultos, em 13 aldeias da etnia Mẽbêngôkre-Xikrin.
A ação é liderada pela Associação Indígena Berê Xikrin e foi contemplada em edital nacional da Transpetro. “Esse projeto chega como uma grande oportunidade para todos nós. Ele não é só um projeto de esporte, ele é um projeto de vida, de autoestima, de saúde e de união”, afirma Bep Kamaty Xikrin, presidente da associação.
O Kukràdjá Xikrin será implementado diretamente nas aldeias, com oficinas práticas conduzidas por professores indígenas e não indígenas. As atividades incluem desde o ensino de fundamentos do futebol até o resgate de práticas tradicionais como o arco e flecha, a corrida e o pau de sebo. “A ideia é valorizar os espaços que já são nossos, a terra onde crescemos e aprendemos desde pequenos”, explica Bep.
Diferente do modelo competitivo ocidental, o foco do projeto não será em campeonatos entre aldeias, mas em encontros amistosos que promovam aprendizado e união. “A ideia deste projeto é fortalecer o vínculo entre os grupos e criar momentos de convivência, respeito e alegria.”
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Entre o ancestral e o moderno
As modalidades tradicionais têm um significado que vai além da prática física. O arco e flecha, por exemplo, carrega memórias de sobrevivência e conexão espiritual com a floresta. “O arco e flecha não é só um esporte, é um saber ancestral. A corrida tem relação com força, resistência e com os rituais de passagem dos jovens.”
Mesmo os esportes ocidentais, como o futebol, foram ressignificados dentro da cultura Xikrin. “Nós, Xikrin, amamos o futebol. Jogamos com muita garra e talento. Mas jogamos do nosso jeito: com respeito, com partilha, com espírito de aldeia.”
O projeto Kukràdjá também quer inspirar as novas gerações. Muitos jovens sonham em se tornar atletas profissionais, mas não têm acesso à formação ou espaços adequados. E, mais do que isso, ele devolve aos jovens um sentimento de pertencimento. Praticar esporte é, para os Xikrin, um gesto de conexão com sua história e com o coletivo. “Quando um jovem Xikrin pratica arco e flecha, ele está se conectando com os nossos ancestrais. Ele entende que isso não é só uma brincadeira — é um ato de identidade.”
Em um momento em que os direitos indígenas seguem sendo ameaçados no Brasil, o projeto se firma como um símbolo de resistência cultural. “O esporte nos une como povo, nos fortalece por dentro e nos coloca com firmeza diante do olhar dos outros. A gente deixa de ser apenas observado e passa a se apresentar.”
Data
A celebração do Dia dos Povos Indígenas promovida pela Associação Indígena Berê Xikrin acontece nesta sexta-feira (19), no Teatro Jarbas Passarinho, em Jardim Uirapuru, ao lado do Cinema Lúcio Mauro, em Altamira (PA).
A programação começa às 9h com atividades culturais e rodas de conversa. Às 14h, será realizada a assinatura oficial do patrocínio da Transpetro ao projeto Kukràdjá Xikrin, marco simbólico do início das ações esportivas nas 13 aldeias da Terra Indígena Bacajá.
O encerramento do evento acontece às 19h30, com o lançamento de um documentário inédito, que retrata o cotidiano, os desafios e as conquistas do povo Xikrin em sua luta por reconhecimento, identidade e direitos.