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Recordista de Re-Pa, Quarentinha abre caixa de memórias sobre clássicos disputados: ‘marcantes’

Maior ídolo da história do Paysandu foi o jogador que mais disputou partidas na história do Re-Pa: 135. 

Caio Maia e Aila Beatriz Inete

Paulo Benedito Santos Braga, o Quarentinha, é um personagem e tanto para contar a história do Re-Pa. Talvez seja o mais importante deles. Com 135 clássicos disputados, o ex-meia e maior ídolo da história do Paysandu detém o recorde de participações no confronto. Desde a última partida com a camisa bicolor, em 1972, muito tempo já se passou, mas Quarentinha tem uma certeza: seu nome está marcado na eternidade.

"Historiadores existem muitos, mas os personagens da história sempre serão os mesmos", disse o ex-jogador, que hoje tem 89 anos, em entrevista ao Núcleo de Esportes de O Liberal.

A reportagem foi até a casa do maior de todos os alvicelestes relembrar algumas histórias do clássico Re-Pa, que completou 110 anos no dia 14 de junho. No seu lar, Quarentinha é apenas Paulo, vivendo uma pacata vida de ex-atleta e funcionário público aposentado. Apesar disso, ele ainda guarda viva na memória as lembranças dos jogos que tornaram dele ídolo bicolor.

"Foram 135 clássicos, entre jogos oficiais e amistosos. Então, eu tenho uma vivência muito grande sobre o que é a rivalidade, da semana de véspera. O jogador treina, concentra... Agora dirigente e torcedor nem dormem. Re-Pa é uma rivalidade eterna. A gente adquire uma experiência pra jogos importantes, mas os nossos julgamentos são feitos pelos torcedores. Isso aí que foi importante para que o meu nome fosse relevante para o clássico. Concedeu não só a mim como para vários jogadores o nosso sucesso", disse.

Após 18 anos atuando profissionalmente (1955 - 1973), Quarentinha foi considerado o maior jogador do futebol paraense no século XX e acumulou um total 12 títulos estaduais, sendo reconhecido como o maior campeão do Paysandu. Um desses troféus, inclusive, está guardado em um lugar especial do coração do ex-atleta: o Parazão de 1971, conquistado em cima do Remo. Segundo ele, esse foi o Re-Pa mais marcante da carreira.

"Foram diversos jogos marcantes, principalmente as decisões. Mas aquele de 1971 foi especial. Eu, inclusive, estava na minha decadência física. Tivemos uma final que foi para a prorrogação. Eu saí no segundo tempo e entrou um garoto do juvenil. Vi do banco o Paysandu virar o resultado de 2 a 0 para 3 a 2. Claro que vivi clássicos e vitórias importantes, mas essa ficou marcada", lembrou.

Longe de 'casa'

O campo de futebol sempre foi a casa de Quarentinha. Foi lá que o garoto, que começou no time de aspirantes do Paysandu, construiu carreira e se tornou uma lenda no esporte do estado. Apesar disso, por mais que o estádio lhe traga boas lembranças, faz tempo que o ex-atleta não assiste a uma partida in loco. O motivo: a idade avançada.

"Não, eu não vou ao estádio porque os jogos terminam muito tarde. Mesmo na televisão a gente consegue analisar. No campo tem aquela gritaria e acabo não prestando atenção. Além disso, tem o lado emocional de estar no estádio. Tem torcedor em campo de futebol que desaba. Eu, com quase 90, não quero correr esse risco, quero durar mais", brinca.

A insegurança também é algo que tem afastado Quarentinha dos estádios. De forma romântica, o ex-jogador lembra dos clássicos na década de 60 quando, na saída de campo, torcedores e jogadores se encontravam para seguir a vida normal. Segundo o ex-jogador, a escalada da rivalidade entre Remo e Paysandu para uma perspectiva mais bélica é um sinônimo de evolução, mas não para melhor.

"A rivalidade sempre existiu, mas não como é hoje. Antigamente acabava o jogo e nós atravessávamos a pé, da Curuzu para o Baenão, para jogar. O mesmo acontecia do lado do Remo. Acabava o jogo, a gente saia de campo no meio da torcida e não tinha problema nenhum, não havia ofensa, xingamento... Quando o Carlos Castilho, goleiro, chegou aqui, deu a ideia da gente não sair mais atravessando a rua, já que éramos um time grande. Assim, a gente começou a ir se trocar no vestiário do estádio. Parece que ele já tinha uma noção da violência que viria", recorda.

Fadado aos títulos

A "premonição" de Carlos Castilho, ídolo do Fluminense e ex-jogador do Paysandu na década de 1960, está presente na história bicolor desde os primórdios. Pelo menos é o que afirma Quarentinha. Em uma declaração de amor ao clube no qual a história dele se confunde, o ex-atleta fez questão de comprovar uma máxima, criada pelos fundadores do Papão: 'o Paysandu é um clube fadado a glórias e conquistas'.

"Falo do Paysandu porque joguei lá por 18 anos. O Paysandu parece que foi uma premonição. Desde a fundação do clube até o momento atual o clube conquistou 58 títulos: 50 estaduais e 8 nacionais e regionais. Os fundadores do Paysandu disseram que queriam fundar um clube fadado a grandes feitos e conquistas. Foi uma premonição, que através dos tempos vem sendo confirmada. Isso vai continuar porque o clube foi fundado para isso", finalizou.

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