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Nossa Senhora do Paysandu: personagem bicolor relata histórias de amor e devoção ao Círio e ao Papão

A funcionária pública Wal Medeiros diz que se carateriza de “Padroeira Bicolor” há 13 anos. Tradição começou como pagamento de uma promessa. 

Caio Maia

Fé: uma palavrinha de duas letras que descreve a crença naquilo que não se vê. Às vésperas da maior festividade da cultura paraense, o Círio de Nazaré, as mais diversas demonstrações de fé são declamadas por Belém. Afinal, o amor - sentimento de transborda nas procissões - não pode ser visto, apenas sentido.


O amor, inclusive, não está restrito à manifestações culturais e religiosas, como o Círio. O sentimento norteia relações interpessoais e uma muito típica do povo do Pará: a com seu time de coração. Quem leva consigo essas duas experiências de fé - por Nossa Senhora e o Paysandu - é a funcionária pública Wal Medeiros. Há mais de 13 anos ela resolveu juntar os dois amores - Círio e Papão - na criação de um personagem, que é conhecida como a "Padroeira Bicolor" nos estádios.

"Em 2010 criei a Nossa Senhora do Paysandu como agradecimento a uma graça alcançada. Penso que uma promessa não é uma dívida, mas sim uma forma de honrar a nossa fé. Creio que Nossa Senhora salvou a vida do meu filho e vejo na cura dele a prova de que milagres existem. Cumpro minha devoção com muita bravura", disse ela.

Em 2010, o filho de Wal, quando ainda era criança, foi acometido pela dengue hemorrágica. Depois de um longo tratamento no hospital, chegando a ser transferido para a UTI em duas oportunidades, o pequeno conseguiu se curar. Ela conta que a reviravolta no tratamento do filho começou quando ela passou a se caracterizar como Nossa Senhora do Paysandu.

"Meu filho saiu do hospital mas voltou com sequelas físicas. Eu não conseguia ficar bem com aquilo e próximo aos ensaios do Auto do Círio, que eu participei, disse a ele que não iria participar. Nesse momento ele insistiu para eu ir, que aquilo ajudaria na melhora dele. Fui, criei a Nossa Senhora do Paysandu, e hoje meu filho está bem. Ele trabalha como analista de desempenho de futebol", contou.

Prece nas arquibancadas

Moradora do município de São Caetano de Odivelas, na Região do Salgado, Nordeste do Pará, Wal carrega consigo o amor por Nossa Senhora e pelo Paysandu desde que era pequena. Hoje, ela trabalha como coordenadora deo projeto de educação para pessoas com deficiência da prefeitura do município onde vive e segue uma rotina de peregrinação: ajuda ao próximo no dia a dia e preces pelo Papão aos finais de semana.

Apesar dos 115 km que separam Belém de São Caetano de Odivelas, Wal faz um esforço para acompanhar o Paysandu em casa. Sempre que possível, vestida como Nossa Senhora Bicolor, ela assiste às partidas no calor das arquibancadas, mas sempre em corrente de oração. Segundo ela, as preces feitas em jogos já renderam bons resultados ao Papão.

"No jogo do Paysandu com o Botafogo-PB, o árbitro deu 8 minutos de acréscimos e depois deu mais dois. Eu fechei meus olhos e fiz uma prece, pedindo para que nós torcedores pudéssemos descer aquela rampa do Mangueirão felizes. Logo em seguida o Jacy Maranhão fez o gol e desci a rampa de joelhos", explicou.

Ela conta, também, sobre outra promessa que fez relacionada ao Paysandu. Desta vez sobre o título da Copa Verde de 2022.

"Em 2022 recorri a São Jorge, a quem sou devota, e disse que se o Papão fosse tri da Copa Verde eu ia realizar uma novena e um samba para São Jorge no bar da Fiel. O Papão levou o tri e eu paguei a promessa", disse.

Referência nas arquibancadas

Pelo fato de Wal se caracterizar de Nossa Senhora, vários torcedores enxergam a funcionária pública como "comunicadora" entre os pedidos da terra e a energia da Nazinha. Ela conta que houve casos de torcedores fazerem pedidos à ela para serem repassados à Nossa Senhora.

"Já fui chamada de padroeira do Paysandu, Nazica do Papão, Talismã Bicolor... No jogo do Paysandu com o Fluminense, minha amiga foi assistir o jogo com o filho, de seis anos. Com a derrota ele ficou muito triste e disse que era pra ela ligar pra Nossa Senhora do Paysandu e pedir pro Papão não perder mais. Quando ela me contou, fiquei emocionada pensando no amor que aquela criança já tinha pelo clube. Isso mexe muito comigo", disse.

Só ela pode resolver

Mesmo sendo vista como uma "comunicadora" de Nossa Senhora, Wal disse que só Ela pode pode ajudar o Paysandu nos momentos de sufoco. Com o jogo decisivo do Papão na Série C marcado para o dia da trasladação (7 de outubro), a funcionária pública disse que confia em uma "ajuda" da Nazinha. Além disso, ela conta que já fez uma promessa, visando o acesso à Série B.

"Não posso revelar, mas a promessa do acesso já foi feita. Na terça-feira fui à igreja do Carmo, na Cidade Velha, e fiz o meu pedido. Vamos torcer para que seja da vontade de Nossa Senhora o acesso do Papão", finalizou.

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