Estrangeiro até no nome, Paysandu teve história modificada por ‘gringos’, afirma ex-presidente
Antônio Couceiro explica relação do clube com jogadores estrangeiros e diz como esses jogadores alteraram taticamente a história do futebol do Norte do Brasil.
O elenco do Paysandu de 2023 pode ser, possivelmente, o mais estrangeiro da história do clube. Pelo menos é o que afirma o ex-presidente e historiador do Papão, Antônio Couceiro. Em conversa com o Núcleo de Esportes de O Liberal, o benemérito alviceleste relembrou outros momentos em que o clube contou com atletas de fora do país e deu detalhes sobre a relação próxima entre o Bicola e o futebol europeu e sul-americano.
"O Paysandu só teve tantos estrangeiros assim em um passado muito distante, mas de lá pra cá nada chegou perto do que ocorre hoje. Vivo no clube há mais de 70 anos e nunca vi essa quantidade de estrangeiros. Antes era um ou dois, mas agora já temos três e estão tentando um quarto", disse Couceiro.
O "passado muito distante", dito por Couceiro, remete ao início do século XX, na fundação do clube. De acordo com o historiador, a primeira equipe do Paysandu continha quatro jogadores ingleses. Um deles, inclusive, chamado Matthews, foi o autor do primeiro gol oficial da história do Papão. Depois disso, outras gerações de estrangeiros apareceram no clube, mas de menor "impacto".
"Depois dessa turma de ingleses, na década de 40 veio um outro grupo de estrangeiros. Naquela época jogava o Bria e o Rivas, dois paraguaios. Depois veio a época dos jogadores das Guianas. Devido à proximidade, os clubes daqui excursionaram muito pra lá e trouxeram muitos jogadores. Temos uma relação antiga e próxima com os entrangeiros", disse.
Estrangeiro até no nome
A relação entre o futebol praticado fora do país e o Paysandu vem desde a criação do clube. O ponto de partida para isso é o nome do clube, que homenageia a cidade uruguaia de Paysandu, onde houve uma importante batalha que contou com a participação de militares brasileiros. Apesar disso, Couceiro afirma que nenhum estrangeiro participou efetivamente da criação do clube, em 1914.
"Paysandu é uma cidade do Uruguai. Na hora da escolha do nome do clube, quando houve a primeira reunião em fevereiro de 1914, esse nome foi sugerido. Apesar disso, em termos de fundação, não há nenhum estrangeiro presente nesse encontro. Os estrangeiros foram aparecer só na composição do elenco, que continha quatro ingleses", explicou.
Estrangeiros mudaram história bicolor
A presença de estrangeiros no Paysandu pode ter menos impacto nos dias atuais. Devido ao disparate financeiro entre as equipes que frequentam a Série A e a Série C do Brasileirão, o poder de barganha do Bicola no mercado internacional ficou menor. No entanto, o grande número de estrangeiros na história do Papão influenciou na forma como se pratica futebol no Norte do Brasil.
De acordo com Antônio Couceiro, devido ao grande número de jogadores de fora do país no clube, o Paysandu foi taticamente inovador em relação às demais equipes da região. Ele explica que, pela forma diferente de várias nacionalidades praticarem o futebol, os técnicos bicolores precisaram "quebrar a cabeça" para encaixar talentos diferentes em uma só equipe.
"Antigamente utilizamos vários sistemas táticos, como o W-M, o 2-3-5, o 4-3-3 ou o 4-2-4. Fomos evoluindo, em termos de futebol, com a categoria dos jogadores que foram chegando. Você, às vezes, tem dificuldade de formar um time com um sistema fixo, então precisamos adaptar os esquemas às características de cada jogador. Quem nos ajudou nisso foram, inclusive, ex-jogadores estrangeiros, como Bria e Rivas, destaques do clube na década de 40", explicou.
Gringos de 2023
Logo após a reeleição do presidente Maurício Ettinger, o Paysandu anunciou a contratação de reforços internacionais para a próxima temporada. O meia Robert Hernández, o volante Jiménez e o zagueiro Henríquez Bocanegra irão jogar pelo Papão em 2023.
Henríquez Bocanegra é um zagueiro colombiano e irá jogar por um clube brasileiro pela quarta vez na sua carreira. O volante paraguaio Jiménez, de 29 anos, também já pasou por times brasileiros. Já o meia Robert Hernández, de 29 anos, da Venezuela, terá sua primeira experiência vestindo a camisa de uma equipe do Brasil.
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