Crença num futuro melhor foi caminho para Paysandu conquistar acesso à Série B depois de 5 anos

Em um ano de muitos mais decepções do que alegrias, o Papão termina a temporada sorrindo, no topo do futebol paraense.

Caio Maia
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Acreditar. Em tempos de Círio, a crença dos paraenses costuma ser reforçada. O clima vivido em Belém durante o mês de outubro ajuda na criação de um um ambiente de positividade. É fácil crer nesse contexto. Vitórias e conquistas se tornam muito mais palpáveis dentro da motivação que a quadra nazarena oferece a quem vive na capital do Pará. No entanto, como acreditar num futuro melhor em contextos de crise, sem a "ajuda" que a festividade nos dá? O Paysandu ensinou como fazer isso nesta Série C do Brasileirão. Em um ano de muito mais decepções do que alegrias, o Papão termina a temporada sorrindo, no topo do futebol paraense, e mostrando a todos que é possível acreditar, mesmo quando o destino parece ser duvidoso.

Três personagens podem simbolizar essa trajetória do Papão. O volante João Vieira, o meia Robinho e o técnico Hélio dos Anjos chegaram ao clube em momentos diferentes da temporada. Cada um carregava consigo parte das responsabilidades que deixaram o clube numa sequência de anos ruins na Terceira Divisão nacional. Esses personagens, ao seu modo, não deixaram a "peteca cair" em momentos de extrema pressão e foram coroados, ao final da Série C, com o retorno à Segundona.

Os fantasmas de João Vieira

image João Vieira foi um dos pouco remanescentes da última temporada do Paysandu (John Wesley / Paysandu)

Talvez ninguém tenha sentido tanto a trajetória bicolor nos últimos anos do que João Vieira. Titular da equipe que bateu na trave do acesso na temporada passada, o volante era um dos mais cobrados por um bom rendimento em 2023. Convivendo com críticas da torcida e idas frequentes ao banco de reservas, João entrou nos eixos na reta final do ano - assim como o Paysandu - e terminou a temporada como um dos símbolos de dedicação bicolor na Série C.

O início da temporada do volante foi ruim, assim como o Papão. Atuações abaixo do esperado no Campeonato Paraense fizeram com que o jogador, que era titular incontestável da equipe em 2022, fosse colocado no banco de reservas por Márcio Fernandes, técnico do Papão no início deste ano.

Márcio, inclusive, foi o primeiro que detectou problemas no Payasndu em 2023. Sem deixar claro o que fazia o time render pouco, Márcio tentou ao máximo deixar o Papão no mesmo nível de competitividade que em 2022, no entanto acabou falhando. A equipe foi eliminada nas semifinais do Parazão e terminou o torneio em 3º lugar, a pior posição em quatro anos. Somado a isso, duas goleadas sofridas para o Fluminense-RJ na Copa do Brasil afundaram o clube numa crise, deixando as perspectivas de acesso cada vez menores.

O peso de Robinho

image Robinho é o capitão do Paysandu (Jorge Luís Totti/Paysandu)

A preparação para a Série C do Brasileirão começou nebulosa. Com uma primeira metade de temporada ruim, o Papão não sabia pelo o que brigar na Terceirona: rebaixamento ou acesso? Por algumas rodadas, a primeira opção pareceu a realidade bicolor. Goleadas sofridas nos primeiros jogos deixaram o Bicola entre os últimos da tabela. Apesar disso, o elenco havia recebido um reforço de peso, que trouxe experiência em momentos decisivos: o meia Robinho.

Tricampeão da Copa do Brasil por Palmeiras e Cruzeiro, Robinho chegou ao Papão com o objetivo de elevar o patamar da equipe. Junto com ele, Marquinhos Santos - novo treinador - chegava com "currículo de Série B" na bagagem e prometia reformas consideráveis no Bicola, mas não foi o que ocorreu.

O Papão patinava na Série C. O clube não dava perspectivas de uma melhora de desempenho nas partidas da Terceirona. Marquinhos fez várias experiências na equipe, sempre mantendo Robinho entre os titulares, mas nada parecia dar certo.

Com o resultado disso, Marquinhos foi demitido do Papão na metade da primeira fase da Série C e levantou ainda mais questionamentos sobre o desempenho no restante da temporada. Robinho, como referência do time, deu a cara à tapa em coletivas. Em várias oportunidades ele reforçou a união do elenco e destacou que todos "acreditavam" no futuro melhor. Faltava apenas um guia para liderar esse processo. E ele chegou.

A crença de Hélio dos Anjos

image Legenda (Jorge Luís Totti/Paysandu)

"A vitória não é qualquer coisa. É a única coisa". A frase virou um mantra de Hélio dos Anjos na nova passagem pelo Paysandu. Contratado após a demissão de Marquinhos Santos, o treinador, que já tinha batido na trave pelo acesso em 2019 com o clube, tinha como objetivo fazer o Papão reagir rápido, para que o acesso à Série B ainda fosse possível.

Em Belém, Hélio conseguiu identificar - e informar - qual era o problema que afetava o rendimento do clube: a preparação física. Desde a chegada dele ao Papão, os treinos passaram a ter uma exigência maior, fazendo com que os jogadores se dedicassem mais a cada jogo. Como ele mesmo costumava dizer, foi construído um time de "operários" na Curuzu.

Além disso, Hélio fez os jogadores terem o principal ingrediente para que momentos ruins sejam revertidos: a crença. O treinador fez com que todos os jogadores passassem a acreditar no acesso como uma realidade iminente, apesar da distância na tabela. A partir disso, o Papão conseguiu uma arrancada na classificação, com alguns pontos marcantes.

O primeiro deles foi a vitória contra o então líder da Série C, o Amazonas, fora de casa, por 2 a 1. Logo em seguida, o Papão venceu o clássico Re-Pa e ligou as turbinas rumo ao G-8. Depois da sequência, o clube ainda se deu ao luxo de empatar fora de casa algumas partidas, mas fez valer o fator Curuzu para avançar de fase. Ao final da primeira etapa do campeonato, o Paysandu, clube que esteve na zona de rebaixamento, estava classificado aos quadrangulares de acesso.

O épico final e a volta à Segundona

image Papão conquistou acesso fora de casa em jogo épico (Jorge Luís Totti / Ascom Paysandu)

"Eu vejo o futuro repetir o passado". O trecho de O Tempo Não Para, do Cazuza, descreve bem o medo que o Paysandu tinha da segunda fase da Série C. Desde que foi rebaixado à Terceirona, em 2018, o Papão sempre disputou a fase derradeira do torneio. No entanto, em todas as oportunidades o time bicolor acumulou vexames ou "bolas na trave".

Apesar disso, a sorte do Papão pareceu ter mudado. Nas quatro primeiras rodadas do quadrangular, a equipe somou 10 pontos e viu a vaga na Série C nas mãos. Depois da última vitória, diante do Botafogo-PB, a torcida alviceleste foi às ruas comemorar o "quase acesso". No entanto, uma reviravolta por pouco não colocou tudo em risco.

Uma derrota diante do Amazonas-AM, diante de quase 50 mil pessoas no Mangueirão, na partida que poderia selar o acesso antecipado, fez o clube acender o sinal de alerta. Devido ao resultado, o Papão precisaria jogar uma final - fora de casa - contra o Volta Redonda-RJ. A vantagem bicolor era enorme e o clube poderia perder por até um gol de diferença que avançaria à Segundona. E foi exatamente isso que ocorreu.

O jogo foi duro, truncado. O primeiro tempo, que terminou empatado, deu mais esperanças ao Papão. No segundo tempo, um gol cedo do Volta Redonda-RJ colocou o grupo em uma enorme situação de estresse. Caso sofresse mais um gol, o acesso escaparia novamente, assim como nos anos anteriores. No entanto, a equipe "acreditou", assim como Hélio pediu, e segurou o marcador até o apito final. Resultado: derrota alviceleste, mas a vaga na Série B garantida.

A explosão foi grande ao fim da partida. João Vieira, o jogador dos "fantasmas" de 2022, caiu de joelhos no gramado, sem acreditar. Robinho, também sem a "ficha cair", era só sorrisos no gramado. Enquanto isso, Hélio, com as voz embargada, agradecia os torcedores. O Papão mostrou que acreditar, mesmo quando o destino é incerto, pode ser o fator determinante para a vitória.

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