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Boxeadora argelina vítima de polêmica de gênero conquista o ouro no boxe nas Olimpíadas 2024

Este ouro é a segunda medalha conquistada pela Argélia nos Jogos Olímpicos.

Caio Maia

Na manhã desta sexta-feira (9), a argelina Imane Khelif sagrou-se campeã olímpica na categoria até 66kg ao derrotar a chinesa Liu Yang por decisão unânime dos juízes. A luta, marcada por muita expectativa e apoio fervoroso da torcida argelina, foi o ponto alto de um torneio no qual Khelif esteve sob intensa atenção midiática, não só por seu desempenho no ringue, mas também pela polêmica que a cercou desde o início dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

A torcida argelina lotou o ginásio, ovacionando Khelif desde o momento em que seu nome foi anunciado. Durante a luta, os gritos e cantos de apoio à atleta não cessaram, criando uma atmosfera eletrizante. No primeiro round, a disputa foi equilibrada, com trocas intensas de golpes entre as duas atletas. No entanto, Khelif conseguiu se destacar e, na avaliação dos árbitros, venceu o round. No segundo, a argelina dominou completamente, consolidando sua vantagem. No terceiro e último round, ela soube administrar a luta para garantir a vitória, conquistando assim o ouro olímpico.

Este ouro é a segunda medalha conquistada pela Argélia nos Jogos Olímpicos de Paris, somando-se à vitória da jovem ginasta Kaylia Nemour, de 17 anos, que brilhou na final das barras assimétricas.

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Resultados do dia

Além do triunfo de Khelif, outros boxeadores também se destacaram nesta sexta-feira. Asadkhuja Muydinkhujaev, do Uzbequistão, conquistou o ouro na categoria 71kg ao derrotar o italiano Marco Verde. Na categoria 50kg feminino, a chinesa Yu Wu levou a melhor sobre a turca Buse Naz Çakıroğlu. Já na categoria 92kg masculino, Lazizbek Mullojonov, também do Uzbequistão, venceu Loren Berto, do Azerbaijão.

Entenda a polêmica

A participação de Khelif nos Jogos Olímpicos de Paris esteve envolta em polêmica desde o início. A boxeadora havia sido banida do Mundial amador de 2023 pela Associação Internacional de Boxe (IBA), sob a alegação de que ela não atendia aos requisitos de elegibilidade para competir entre mulheres. A IBA chegou a submetê-la a um teste de gênero, e o presidente da entidade, o russo Umar Kremlev, afirmou que Khelif teria cromossomos XY, embora o resultado oficial do teste nunca tenha sido divulgado.

O torneio olímpico de boxe, entretanto, está sendo realizado sem a influência da IBA, que perdeu sua certificação junto ao Comitê Olímpico Internacional (COI) no ano passado. Sob a gestão direta do COI, Khelif recebeu autorização para competir, o que não impediu que ela fosse alvo de uma campanha de ódio.

Logo em sua estreia nos Jogos, Khelif enfrentou a italiana Angela Carini, que abandonou a luta após apenas 46 segundos, alegando dor intensa no nariz após sofrer dois golpes. O abandono gerou uma onda de discursos de ódio e rumores infundados de que Khelif seria uma atleta transgênero, o que foi prontamente desmentido pelo COI, que reiterou que a argelina cumpria todos os requisitos para competir. Em resposta, a IBA, em conflito com o COI, anunciou que concederia a Carini uma premiação equivalente à de uma medalha de ouro.

Diante da crescente polêmica, tanto autoridades quanto o povo argelino se uniram em defesa de Khelif, manifestando apoio à atleta nas esferas políticas e nas ruas de Paris. Após a luta que garantiu sua vaga na final, Khelif procurou encerrar a discussão:

"Não quero que nada seja dito sobre a controvérsia. Eu simplesmente tive a performance que esperava fazer hoje para deixar os fãs felizes", declarou Khelif em entrevista à Reuters.

Com a medalha de ouro no peito, Khelif não apenas trouxe orgulho para seu país, mas também se firmou como uma voz contra a discriminação, mesmo diante de adversidades que foram além das quatro cordas do ringue.

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