Remadora indígena, Nanda Baniwa, brilha na canoagem e chega a competição internacional no Taiti
Nanda tem apenas 19 anos e se classificou para o TE AITO, competição internacional de canoagem que acontece no Taiti
A canoagem é um esporte náutico que envolve remar uma canoa. Entre as várias modalidades existe o Va’a, onde o atleta rema em uma canoa estilo polinésia, e é nesta modalidade que Nanda Baniwa, atleta indígena, brilha e tem conquistado espaço. Agora, aos 19 anos, ela enfrenta seu maior desafio: o TE AITO, a maior prova de canoagem individual do mundo.
“Chegar ao TE AITO, foi uma coisa que eu nunca imaginava. São pessoas do mundo inteiro competindo e eu estou há apenas dois anos na canoagem, não imaginava que alcançaria o que já alcancei até agora. De primeira eu entrei só para me divertir na natureza”, disse Nanda.
Para chegar neste ponto, Baniwa teve que ir até o Rio de Janeiro onde competiu na V1RJ, maior prova de canoagem individual do Brasil. Foi lá, que pela primeira vez, ela conheceu o mar e se classificou para o TE AITO, após ficar em terceiro lugar no torneio e deixar para trás 141 competidores na categoria Open.
“Todo o esforço compensou. Fui ao Rio de Janeiro para conhecer novos horizontes e acabei me classificando, inicialmente eu sou da categoria Júnior, por conta da idade, mas consegui a vaga para ir ao Taiti na Open. Foi algo que eu não imaginava que ia acontecer”, explicou.
Agora, para chegar no Taiti, no dia 10 de junho, Nanda está arrecadando fundos com a campanha “Do rio para o mar". A iniciativa foi do Projeto Koru, do Clube Marear de Canoa Polinésia, onde Nanda começou na canoagem. Para a arrecadação já foi realizado um circuito de canoagem na Ilha do Combu.
“Quando eu comecei a participar das competições, a Marear criou o Projeto Koru, eles acreditavam que eu conseguiria alcançar novos objetivos. Agora estão fazendo toda a campanha para a arrecadação de fundos. No circuito do Combu levamos mais de 50 remadores para água e agora seguimos com outras formas para arrecadar dinheiro”, disse Nanda.
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A atleta começou a praticar a canoagem durante a pandemia, aos 17 anos, quando as medidas restritivas ficaram menos severas. Ela sentia a necessidade de fazer algo que a reconectasse com suas raízes indígenas. Nanda faz parte do povo Baniwa, localizado na comunidade de Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas.
“O meu trajeto na canoa polinésia foi uma coisa muito natural. Conheci na metade da pandemia e minha tia me incentivou a praticar. Ela estava com medo que nossa mente adoecesse, porque nós povos indígenas, temos um contato muito forte com a natureza e com a água. Estávamos sentindo falta de ter esse contato na quarentena. Quando comecei me apaixonei, foi uma coisa de conexão com minha ancestralidade, meu povo usa a canoagem como um meio de transporte, então praticar trouxe pra mim novamente esse contato com a minha cultura”, disse Baniwa.
Agora, a caminho de competições maiores, Nanda espera representar seu povo através do esporte.
“Tudo o que estou passando é satisfatório e enriquecedor para o meu desenvolvimento pessoal. O esporte me ensinou muito e hoje eu falo que sou uma representatividade, porque eu quero estar ali por nós pessoas indígenas, que sempre resistimos e batalhamos. Quero levar o nome do meu povo para todos os lugares”, declarou.
Atualmente, Nanda já acumula mais de 11 títulos pelo esporte, mas ainda enfrenta dificuldades, como a falta de incentivo financeiro. No Pará, ainda não existe uma federação de canoagem que possa cuidar dos direitos de atletas e competições no estado.
“Para pessoas como eu, que ainda sou estudante e não trabalho, às vezes é difícil manter. O projeto me dá tudo de graça, mas tem outras questões como a locomoção, para sair de casa até os treinos muitas vezes sai pesado, porque nem sempre tenho”, disse a atleta.
Nanda recentemente foi aprovada no curso de Psicologia pela Universidade Federal do Pará, no Processo Seletivo Especial para Indígenas e Quilombolas. Agora ela espera um dia entrelaçar a carreira escolhida com o esporte.
“A aprovação foi uma grande alegria, porque inicialmente vim pra Belém com intuito de estudar. Escolhi Psicologia porque meus ancestrais foram pajés e benzedores, curavam através dos seus dons e eu quero fazer o mesmo, ajudando o próximo através dos estudos científicos. Como atleta, no futuro pretendo entrelaçar o esporte e minha carreira, porque acredito que é um tipo de terapia. Quero focar na pesquisa e quem sabe investigar de forma científica como o esporte faz bem”, finalizou.
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