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Da perda de gordura à desidratação: entenda como funciona o corte de peso

Lutador paraense e fisiologista detalham os riscos e cuidados durante o processo

Aila Beatriz Inete

A brasileira Daiane Santos ganhou destaque nos portais especializados em MMA devido ao estado de saúde. A lutadora passou mal durante o processo de corte de peso e precisou ser internada em um hospital de Londres. Em entrevista ao Núcleo de Esportes de O Liberal, o lutador Bruno Souza e o fisiologista Erick Cavalcante, ex-preparador físico de Lyoto Machida, discutiram o processo de corte de peso, os riscos envolvidos e os cuidados necessários para preservar a saúde dos atletas.

A maioria dos lutadores não compete em uma categoria que corresponde ao seu peso natural. Normalmente, os atletas passam por um processo de perda de quilos para se enquadrarem no limite da divisão. Em média, essa diferença varia entre 10 e 20 kg.

"O processo de corte de peso ocorre porque a maioria compete por categorias, o que visa equilibrar as condições entre os atletas. Alguns têm maior força e massa, o que teoricamente os coloca em vantagem sobre outros com menor expressão física", explicou Erick.

Como fisiologista, Erick alerta sobre os riscos da perda de peso severa em pouco tempo. Para ele, o ideal seria que o atleta mantivesse um peso próximo ao de sua categoria, o que ajudaria a equilibrar força e agilidade.

Segundo o empresário de Daiane, Alex Davis, ela passou mal durante um corte de peso muito agressivo e em um curto período, o que afetou sua saúde.

Erick comentou que pode ter havido um erro no cálculo do corte de peso de Daiane, tentando perder líquidos ou gordura em um período muito curto, o que causou diversos problemas de saúde.

"Acredito que houve um erro na análise do tempo de perda de peso e, quando chegaram as 'vacas magras', foi muito rápido. Com isso, o corpo sofre, não só com a perda de peso, mas também de potência, velocidade de reações químicas, velocidade nas transmissões neurais e equilíbrio motor, afetando a coordenação. Com o organismo em déficit, só resta descansar, e no treino surgem esses efeitos negativos", alertou o fisiologista.

Em 2022, Bruno assinou com o UFC e aceitou uma luta com apenas seis dias de preparação, mas, por conta do pouco tempo, ele não conseguiu alcançar o peso ideal, ficando cerca de 1 kg acima da categoria.

"Estava com 77 kg e precisei reduzir para 66 kg em seis dias, ou seja, um corte de 11 kg. Consegui chegar a 67 kg, ficando 1 kg acima do limite. Foi um processo muito desgastante e comprometeu totalmente meu desempenho", relembrou o lutador.

Bruno disse ter acompanhado o caso da conterrânea pela mídia e ressaltou que, infelizmente, esse tipo de situação não é rara. Em sua estreia no UFC, ele também passou mal e chegou a desmaiar, obrigando sua equipe a interromper o corte.

"Nenhum lutador gosta do corte de peso. Muitos perguntam por que não luto com meu peso natural, mas, se eu fizer isso, o adversário não fará e ele terá cerca de 80 kg no dia da luta. A diferença de força e tamanho seria enorme. Dançamos conforme a música. Eu preferiria não fazer o corte, mas é muito sacrificante. E, infelizmente, não é a primeira vez que um atleta passa por isso", apontou Bruno.

Recuperação

Após a pesagem, o lutador inicia o processo de recuperação. Durante o corte de peso, ele perde líquidos e reduz a ingestão de carboidratos. Após a pesagem, o atleta ingere grandes quantidades de alimentos e líquidos.

"Não basta só beber água ou comer. É preciso ingerir muito carboidrato para reter a água, muito sódio e seguir um protocolo de hidratação. Tudo depende de quanto peso foi perdido na desidratação, mas o ideal é retornar ao peso de uma semana antes da luta, que geralmente é o peso de treino", afirmou Bruno Souza.

O atleta mencionou que já houve discussões sobre realizar a pesagem no dia da luta, o que evitaria que os lutadores combatessem acima do peso da categoria. Contudo, para Bruno, essa medida não seria segura, pois os atletas poderiam lutar desidratados.

"Seria mais arriscado, pois teríamos atletas desidratados na luta, o que é o pior dos cenários. O cérebro não estaria bem hidratado, comprometendo a absorção dos golpes. Infelizmente, o meio-termo encontrado foi a pesagem um dia antes", concluiu o lutador

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