Fisiologistas de Remo e Paysandu falam como driblar 'Inverno Amazônico', vilão da pré-temporada

Período vai de dezembro a maio e a umidade do ar ultrapassa facilmente os 80%, gerando desidratação e facilitando lesões de todos os tipos

Igor Wilson
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Belém amanhece molhada quase todos os dias do inverno amazônico, que vai de dezembro a maio. As vezes, quando o sol parece querer vencer a disputa, uma nova chuva desaba, intensa, pesada, sem hora marcada. A umidade, que já é alstíssima em outros períodos, nesse nosso inverno ultrapassa facilmente os 80%, algo único no mundo. É suor, calor, frio, tudo junto. Quem vive aqui nem se espanta mais com esse ciclo, mas para quem vem de fora, o ‘tal’ do inverno amazônico é um desafio que começa antes mesmo do apito inicial. Nos gramados paraenses, onde a chuva e a umidade se impõem como mais um adversário, Remo e Paysandu encaram o desafio de manter o desempenho dos jogadores em um clima que cobra cada gota de suor derramada. E por incrível que possa parecer, o principal efeito de tanta água é justamente a desidratação.

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"Aqui, a gente deveria ter guelras", brinca Eric Cavalcante, fisiologista chefe do Clube do Remo, com mais de 30 anos de experiência. "Nós respiramos água". Sua frase não tem exagero algum e quem mora aqui sabe disso. Apesar da abundância de água, o profissional explica que o principal efeito dessa elevada umidade é justamente a desidratação. A umidade extrema na Amazônia impede que o suor evapore com rapidez, dificultando a regulação térmica corporal e tornando a desidratação um problema crônico e muito característico do futebol paraense.

"A umidade aumenta o quesito desidratação, aumenta o esforço que nós temos para nos resfriar e como a gente não evapora, acabamos desidratando mais. E a desidratação tem influência fisiológica muito grande no atleta. O atleta desidratado tem uma série de problemas. Primeiro a queda de performance associada a fadiga. Temos histórico de atletas que terminam um jogo com até 5% a menos de peso corporal. E a gente sabe que qualquer perda acima de 2% já compromete o desempenho", explica o profissional com mais de 30 anos de experiência.

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No Paysandu, a análise segue a mesma linha, a umidade é avassaladora. "Os jogadores que não estão acostumados sofrem com a umidade, não apenas pelo desgaste físico, mas também pelo desconforto psicológico", explica Mateus Eike Baptista, fisiologista do clube. "A sensação de esforço aumenta, a fadiga vem mais rápido, e isso afeta diretamente a concentração e a tomada de decisão". O reflexo pode ser visto em erros de passes simples, em deslocamentos mais lentos e até na falta de explosão nos momentos decisivos.

Chuva, lama e gramados castigados

A chuva também traz outro desafio, pois altera as condições do jogo e treino de maneira imprevisível. "O gramado fica pesado, alagado, e isso afeta diretamente o tipo de carga que o jogador precisa suportar", explica Eric, revelando um outro desafio nos treinamentos.

"A gente não consegue medir essa carga com precisão, porque ela varia de acordo com o acúmulo de água e com a drenagem do campo. Isso gera uma sobrecarga que pode levar tanto a tensões musculares aumentadas quanto a lesões articulares mais graves", explica.

image O rodo, ferramenta essencial nos jogos no inverno amazônico (Igor Mota/O Liberal)

Para minimizar os impactos, os clubes apostam em variações de treinamento, tentando simular condições adversas antes dos jogos. Mas não há solução definitiva. "A adaptação é constante", destaca Eric. "Os atletas locais já possuem uma certa aclimatação, mas quem vem de fora sofre bem mais, principalmente quando os jogos acontecem no fim da tarde ou à noite, que é quando a umidade sobe ainda mais", explica.

Hidratação e prevenção: a chave para resistir ao clima

Diante desse cenário, a hidratação se torna um fator essencial na preparação dos atletas. "Não basta beber água", reforça Mateus. "Precisamos garantir a reposição correta de sais minerais e açúcares para manter o equilíbrio metabólico. Aqui no Paysandu, trabalhamos muito com isso, porque a perda de líquidos e eletrólitos é muito rápida".

No Remo, a abordagem é semelhante. "A gente monitora constantemente os jogadores para evitar que cheguem a estados críticos de desidratação, mas é um desafio contínuo", aponta Eric. "O corpo precisa de tempo para se acostumar a esse ambiente, e mesmo com toda a tecnologia que temos hoje, ainda é impossível neutralizar completamente os efeitos desse clima".

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