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Insegurança, arremesso de pedras e medo: torcida do Fortaleza relata tensão contra o Colo-Colo

A partida entre Colo-Colo e Fortaleza, pela Copa Libertadores, foi interrompida no segundo tempo por conta da invasão de torcedores do time da casa no gramado

Estadão Conteúdo

Uma atmosfera de tensão e insegurança marcou a experiência de aproximadamente 200 torcedores do Fortaleza que viajaram a Santiago, no Chile, para acompanhar a partida contra o Colo-Colo, válida pela segunda rodada do Grupo E da Libertadores. Relatos de falta de escolta policial, arremesso de pedras e copos, além de ameaças de invasão ao setor visitante, expõem o clima hostil enfrentado pelos brasileiros no Estádio Monumental. O medo se intensificou com a notícia das mortes de torcedores do time chileno nos arredores, culminando no cancelamento da partida e na permanência dos visitantes por horas dentro da arena.

A publicitária Victoria, de 27 anos, detalhou o clima de apreensão desde a chegada ao estádio. Ela e outros torcedores se encontraram no Patio Bellavista e seguiram de ônibus para o Monumental, notando a ausência de escolta policial, algo incomum em suas experiências em jogos fora do Brasil. "A gente falava que, por causa do Lucero (atacante do Fortaleza ex-Colo-Colo), podia ter algum tipo de rivalidade. Chegando no estádio, o motorista falou para a gente fechar as cortinas e daí vi que a gente não estava sendo escoltado", contou.

A sensação de insegurança escalou com a entrada no estádio, cerca de uma hora antes do apito inicial. Victoria relatou provocações constantes por parte dos torcedores do Colo-Colo, incluindo o arremesso de pedras e copos de bebida em direção aos brasileiros, além de ameaças de invasão ao setor visitante.

"A gente tinha certeza absoluta que algo muito ruim ia acontecer. A gente praticamente não conseguiu acompanhar o primeiro tempo da partida com medo. Tivemos de implorar por ajuda da segurança do estádio, mas eles só olhavam para a gente e diziam 'tranquilo, tranquilo'", lamentou.

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O advogado Bismarck Fernando Araruna Macedo, de 25 anos, que acompanhava seu segundo jogo internacional do Fortaleza, também presenciou o ambiente de hostilidade. "Antes do jogo começar já notamos algo estranho porque alguns torcedores do Colo-Colo passavam atrás do nosso setor, alguns de balaclava, sem mostrar o rosto. Chegaram a arremessar pedras, mas sem machucar ninguém", relatou.

No segundo tempo, a atmosfera se tornou ainda mais carregada. Igor da Silveira Holanda, engenheiro eletricista e narrador de futebol, de 32 anos, percebeu uma mudança repentina no comportamento da torcida organizada do Colo-Colo. "Nunca tinha visto algo assim, de repente eles pararam de cantar. Ficou um silêncio, como se estivessem de luto mesmo. Depois fomos saber da morte dos torcedores fora do estádio", contou.

Os torcedores do Fortaleza estavam posicionados no lado oposto ao da invasão ao gramado por parte da torcida do Colo-Colo. Bismarck Macedo descreveu o momento da confusão: "Vimos quando começou uma confusão ali onde estava a organizada, uma confusão que parecia ser entre os torcedores do Colo-Colo mesmo. Mas o jogo continuou rolando. Foi quando eles quebraram aquela proteção e entraram no campo. Foi tudo bem rápido, os jogadores do Fortaleza indo ao vestiário. Ficou a tensão por ali".

Após a confirmação das mortes e a paralisação da partida, os torcedores do Fortaleza permaneceram entre 1h30 e 2h dentro do estádio, aguardando a liberação. A saída ocorreu sem escolta policial, o que gerou surpresa e receio.

"Saímos com bastante receio, mas conseguimos chegar aos ônibus. Depois nos falaram que a decisão de não ter escolta foi proposital, para evitar ataque da torcida do Colo-Colo porque o alvo deles eram os policiais", explicou Silveira. Um funcionário do Fortaleza prestou suporte aos torcedores brasileiros durante a tensa espera.

Victoria expressou solidariedade em relação às mortes, mas ressaltou a vulnerabilidade da torcida visitante. "A gente se compadece muito pela situação dos dois torcedores que morreram. Mas não foi a nossa culpa, né. Eles invadiram o campo, e a segurança continuou sem fazer nada", concluiu a torcedora, ecoando o sentimento de insegurança e apreensão que marcou a experiência dos brasileiros em Santiago.

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