Sem salários, alimentação e estrutura, futebol feminino do Pará perde atletas para outros estados

Jogadoras buscam melhorias e estão deixando o futebol paraense para jogar em clubes do Sul e Sudeste

Fábio Will
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O futebol feminino do Pará vem ganhando visibilidade e com isso algumas atletas começaram a deixar o Estado. O Remo, atual bicampeão paraense, teve duas baixas na equipe. A volante Lora Capanema e a atacante Musa, artilheira do último Parazão, deixaram o Leão Azul. Outras jogadoras já atuam no eixo Sul e Sudeste e as atletas conversaram com a equipe de O Liberal a respeito desse novo fluxo e o que buscam nesses novos desafios longe de casa.

Falta de estrutura dos times, pouco jogos, calendário pequeno e principalmente salários, são algumas reclamações das atletas que deixaram o Estado em busca de sonhos e uma vida melhor longe do Pará.

Radija da Ferroviária-SP

A atacante Radija, de 20 anos, atleta da Ferroviária-SP, clube tradicional no futebol feminino, citou alguns pontos importantes na luta por melhorias no esporte e falou sobre a outra realidade que vivencia longe de Belém.

"As condições que encontrei são as melhores possíveis. Existe uma estrutura de trabalho muito boa com alimentação e moradia. Sempre tive um sonho de jogar fora do Pará, quando pintou proposta da Ferroviária, não pensei duas vezes, em ter a oportunidade de realizar meus sonhos", comentou.

image Radija com a camisa da Ferroviária-SP (Tiago Pavini / Ferroviária SAF)

Radija está em Igarapé-açu (PA), passando férias, mas afirmou que um dos sonhos já foi realizado atuando pela Ferroviária.

"Tive um sonho realizado, que foi jogar a Copa Libertadores da América feminina , no Equador. Foi uma experiência surreal", contou.

Musa

As oportunidades também pintaram para a artilheira do Remo no Parazão feminino 2022. A atacante Musa está de clube novo, ainda sem poder revelar onde irá jogar por uma questão contratual, Musa de como é o futebol em Belém e desse fluxo de saídas de atletas.

"Hoje o futebol feminino está muito visado e os clubes estão olhando para a região Norte. A vitrine se abriu, acho muito boa essa saída de meninas para outros clubes, conta no currículo, além da experiência em jogar em outras regiões, mas por outro lado isso acaba refletindo no futebol paraense e é necessária uma atenção maior. Minha escolha foi sair do Remo e jogar em outro clube, pegar experiência, atuar em campeonatos mais competitivos", contou.

image Atacante Musa foi destaque do Remo no Parazão 2022 (Sandro Galtran / Ascom Remo)

Leila do Furacão

O Pará possui algumas jogadoras que já estão consolidadas em grandes clubes, como é o caso da lateral-direita Leila, que é natural de Belém e que passou pela Tuna, Pinheirense, Remo e Paysandu. Leila jogou no Osasco Audax-SP, Santos-SP, Atlético-MG e atualmente está no Athletico-PR. Leila falou do apoio que teve dos pais para seguir na carreira, mas reconhece as dificuldades que é fazer futebol feminino no Pará.

"A estrutura dos clubes e o salário contam mais que qualquer coisa. Em Belém o Parazão é muito inferior a qualquer outro campeonato. O nível técnico é muito elevado, outra realidade estar nesse meio. Falando do futebol feminino mesmo é muito bom, financeiramente nem se fala, hoje consigo viver do futebol, mas em Belém meus pais me ajudavam e isso retrata um pouco como o futebol não está sendo valorizado no Pará", comentou a jogadora

image Leila foi campeã com o Pinheirense da Série A2 e está no Furacão (Divulgação CAP)

Capanema e Cássia Moura

Outro exemplo é a atacante Cássia Moura, que também passou pela Tuna, Pinheirense, mas teve destaque na Esmac e posteriormente jogou no Avaí/Kindermann-SC, 3B da Amazônia-AM e vai para a segunda temporada no Grêmio-RS e quem segue o caminho é Lora Capanema, que fechou com o São José-SP. A atleta quer se manter no futebol e decidiu trocar o Leão pelo clube paulista. A volante, que é educadora física, comentou a questão de sobreviver do futebol feminino.

"O futebol feminino do Pará precisa melhorar em alguns aspectos, temos poucos jogos, não existe uma base feita voltada para ele, além de investimento, tanto da FPF quanto dos clubes. Praticamente jogamos apenas o estadual no ano. Buscamos viver do futebol, é uma profissão e a maioria das meninas no Pará não podem fazer isso. Ter estrutura, salário bom, alimentação, onde dormir além de acompanhamento médico, fisiológico e nutricional está longe do ideal para a modalidade, o Remo e a Esmac proporcionam boa parte disso, mas é preciso mais de todos que fazem o esporte", disse, Lora Capanema.

image Lora Capanema terá um calendário cheio de jogos pelo São José-SP (Arquivo pessoal / Instagram @loracapanema)

O Pará também possui outras atletas atuando no eixo Sul-Sul-Sudeste do Brasil, como a goleira Zanny, que joga no São José, além das atacantes Anny Marabá e Ana Rebeca, que defendem o Flamengo e o São Paulo respectivamente.

FPF

A equipe de O Liberal conversou com o presidente da Federação Paraense de Futebol (FPF), Ricardo Gluck Paul, que citou a falta de competições no Estado como um dos motivos para as saídas das atletas e trata o assunto como prioridade e que promete minimizar o problema.

"O fluxo de saída de jogadoras é uma consequência. A base do futebol paraense, de forma geral, é muito maltratada. Acho que isso é um reflexo da ausência de competição. Precisamos urgentemente implantar novas competições no calendário. Acho que esse fluxo de saída é saudável quando ele atende uma questão profissional de contratações, mas quando ele ocorre por ausência de torneios é algo muito sério. Por isso que estamos tentando atacar esse problema", falou, Gluck Paul.

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