Saúde em campo: entenda o que é e como funciona protocolo de concussão cerebral no futebol

Reportagem de O Liberal conversou com médico paraense Luiz Mourão sobre a lesão que tem atingido cada vez mais jogadores pelo mundo.

Caio Maia
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As lesões no futebol costumam ser relacionadas a ossos, músculos e ligamentos avariados. No entanto, com o desempenho físico dos jogadores cada vez mais profissionalizado e o aumento do ritmo dos atletas dentro de campo, o perfil de contusões tem mudado. De acordo com médicos especialistas na medicina esportiva, a concussão cerebral tem sido cada vez mais rotineira.

Um caso recente de concussão cerebral no futebol ocorreu neste domingo (4), na partida entre Fortaleza e Botafogo, pela Série A do Brasileirão. O lateral-direito Rafael, do alvinegro carioca, bateu a cabeça em uma dividida de bola e caiu no chão desmaiado. Em seguida o jogador foi atendido por um médico do clube, que imediatamente diagnosticou a concussão. Por conta disso, o atleta precisou ser substituído.

Mas afinal, o que é a concussão cerebral? Que tipos de risco ela pode oferecer aos atletas? Para sanar as dúvidas, o Núcleo de Esportes de O Liberal conversou com o médico paraense Luiz Mourão. Ele é especialista em medicina esportiva pelo hospital de clínicas da USP e hoje trabalha como médico do Santos.

image Luiz trabalha nas categorias de base do Santos (Divulgação/ Arquivo pessoal)

Antes de fazer parte da comissão técnica do Alvinegro da Vila, Luiz já trabalhou nas categorias de base do Remo, na Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2018. Depois ele passou pelo time profissional do Água Santa-SP até chegar ao Peixe, onde lida com atletas entre o sub-11 e o sub-23. Nesse período, o paraense já foi convocado para integrar o corpo médico da Seleção Brasileira de base em duas oportunidades, em 2020 e 2021.

Hoje o médico mora em São Paulo e atende pacientes em consultórios na capital paulista, em Santos e por telemedicina para todo o país. 

O Liberal: O que é uma concussão cerebral?

Luiz Mourão: Concussão é caracterizada por uma lesão cerebral traumática que pode ocorrer por trauma direto ou indireto, quando acontece o mecanismo de aceleração e desaceleração através de um impacto em qualquer parte do corpo que transmita a força para a cabeça. O trauma direto gera uma lesão de início rápido, com comprometimento da função neurológica.

OL: Como diagnosticar isso em uma partida?

LM: O diagnóstico é clínico, ou seja, é feito pela avaliação médica através do surgimento de sinais e sintomas que comprovem o ocorrido. Observa-se alteração da função cerebral nos atletas que sofreram a concussão, sendo a perda do nível de consciência (desmaio) um dos principais sinais de alarme após o trauma. Além do exame físico, algumas perguntas devem ser feitas para o atleta imediatamente após uma suspeita de concussão: “Em que local estamos hoje?”; “Qual tempo do jogo é agora?”; “Quem marcou o último gol neste jogo?”; “Qual o time que você jogou na semana passada?”; “O seu time ganhou o último jogo?”. Caso o atleta responda incorretamente alguma dessas questões, o diagnóstico de concussão é sugerido pelo médico.

OL: Qual o risco dessa lesão para o atleta?

LM: Todo atleta com diagnóstico de concussão deve ser imediatamente substituído. A performance está comprometida e o atleta pode apresentar fadiga física, lentificação do raciocínio, diminuição do tempo de reação, alteração da leitura de jogo e tontura. Além disso, um atleta com concussão não deve treinar nem jogar, pois há de três a dez vezes mais chance de ele sofrer uma nova concussão.

OL: Após diagnosticada a concussão, qual o protocolo?

LM: Atualmente, seguimos o protocolo do SCAT 5 (Consensus statement on concussion in sport - 5ª edição). A orientação é realização de exame de imagem de urgência (tomografia computadorizada ou ressonância magnética), além de afastar totalmente o atleta das atividades do esporte e de atividades que exijam a função cognitiva, por exemplo a leitura. Devemos seguir um protocolo que evolui em etapas até a liberação do atleta para retornar aos treinos e jogos.

OL: Depois de quanto tempo o jogador pode atuar?

LM: A recuperação é individual. Pode durar, em média, entre 1-2 semanas. As fases de retorno ao futebol são: Repouso total até não apresentar sintomas; iniciar exercícios; aeróbicos leves; exercícios de força; treino sem bola; treino com bola sem contato; treino com contato; competição. A avaliação deve ser acompanhada diariamente pela equipe médica e, para passar de uma etapa para outra, tem que estar com 24h sem nenhum sintoma.

OL: Muitos jogadores, após serem diagnosticados com concussão, querem voltar a campo. Qual a importância do corpo médico do clube em impedir isso?

LM: Nesse momento é fundamental que o atleta entenda que a decisão médica é para zelar pela saúde dele. É muito comum o atleta ter a falsa impressão que está tudo bem e só ao final da partida ou ao rever o lance é que o atleta entende o que aconteceu. A decisão de não continuar em campo é respaldada pela ciência e dentro da Medicina Esportiva não é diferente. É fundamental que o médico esteja seguro do diagnóstico para que a substituição seja realizada e a saúde do atleta seja preservada. Essa é a função do Médico do Esporte: proporcionar performance, mas sempre com saúde.

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