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Relação entre clubes e torcidas organizadas alimenta a violência nos estádios

Há muito tempo que a ação das torcidas organizadas não se resume a animar as arquibancadas; infelizmente, a relação com os clubes acaba resultando em violência e, em alguns casos, a morte de pessoas inocentes

O Liberal

No último dia 24 de abril, a volta aos trabalhos no Remo contou com um compromisso controverso: uma reunião com membros de torcidas organizadas. Um dos presentes vestia uma camisa da Remoçada, o maior grupo de torcedores do clube, fundada no fim da década de 80. Em tese, a entidade foi extinta em 2007, por ordem do juiz Marco Antônio Lobo Castelo Branco, então titular da 1ª Vara da Fazenda da Comarca de Belém. Mas se foi extinta, por qual motivo continuar a influenciar a vida do clube?

O encontro intermediado pelo executivo de futebol do clube, Sérgio Papellin, serviu para que o elenco tomasse conhecimento da insatisfação dos torcedores com a má campanha na Série C do Campeonato Brasileiro. Episódios desta natureza não são raros e, por vezes, tomam proporções enormes, chegando a vitimar pessoas inocentes, numa prática violenta que atravessa gerações e se perpetua por todos os lugares onde futebol é objeto de fanatismo, como bem observa o jornalista Carlos Ferreira.

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Ao contrário do que aconteceu na Inglaterra, aqui no Brasil as organizadas ainda representam um tabu, que bem devagar está sendo enfrentado por clubes com maior pulso no trato com o assunto. "Uma ou duas torcidas organizadas do Fortaleza provocaram baderna no estádio do Corinthians e o clube cortou relação com elas. Proibiu o uso da marca do clube, foi para o enfrentamento. Essa é uma atitude responsável. Aqui temos homenagem", relembra sobre o episódio ocorrido em setembro de 2023, por ocasião da partida entre os times pela Copa Sul-Americana.

No Pará, ao contrário do que se espera, parece que a relação entre clubes e organizadas é muito mais profunda do que se imagina. "O Remo recentemente abriu as portas do Baenão para que membros das torcidas organizadas fossem ao estádio cobrar os jogadores, com a intermediação do executivo do Remo, que é um acinte. Já o Paysandu sofreu no ano passado e retrasado perdas de mandos de jogos pela baderna de uma das organizadas, que até invadiu um jogo contra o Ituano O clube sofre as penas, mas continua mantendo a reação amistosa", ressalta.

Ministério Público

O Núcleo de Esportes de O Liberal entrou em contato com o Ministério Público para saber o posicionamento do órgão sobre os casos que envolvem torcidas organizadas e a violência nos estádios. Segundo o promotor membro da Comissão de Futebol do MPPA, representante do MPPA junto a Comissão de Avaliação de Torcidas organizadas do CONSEPP (Conselho de Segurança Pública do Pará), José Maria Gomes dos Santos, existe o acompanhamento das situações que envolvem clubes e torcedores, sobretudo pelo fato delas terem sido extintas.

A Remoçada, que aparece nas imagens, foi extinta em 2007, mas hoje se denomina "A Maior do Norte". No Paysandu, a principal agremiação é a "Terror Bicolor", hoje chamada de "Torcida Bicolor", que também foi extinta no mesmo ano. O promotor observa que, mediante a extinção, não há motivos para que elas continuem frequentando as dependências dos clubes e se o fazem é com a permissão dos mesmos. 

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"A Comissão vem atuando, de maneira firme, na fiscalização, orientação e aplicação de punições às torcidas organizadas que, lamentavelmente, incitam e praticam a violência, entoam cantos ou demonstram gestos homofóbicos, depredam o patrimônio público e/ou privado e causam danos ao Estado ou a terceiros. Os responsáveis identificados deverão responder civil e criminalmente por suas condutas", encerra.

Se elas inexistem por força da lei, mas continuam a influenciar não apenas nas arquibancadas, e sim nas ruas e dependências dos clubes, fica praticamente impossível se ter uma definição do que é ou não é permitido. Diante da indefinição do que é ou não é permitido, a cultura da violência e da intimidação em alguns setores do esporte parece encontrar um território livre. "Enquanto houver essa cumplicidade dos clubes e falta de atitude das autoridades para aplicar a lei, nós não vamos em lugar algum. Hoje, o MP está meio cego, meio surdo e meio mudo para as questões do futebol, criando assim o paraíso dos infratores", conclui Carlos Ferreira.

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