Formigas da Bola: atleta relata dificuldade sem apoio do clube e diz: 'Preciso trabalhar para colocar comida na mesa'; assista
Conheça as trajetórias de Perotes e Janaína que atuam pelo Paysandu Feminino
No segundo episódio da série ‘Formigas da Bola’, as atletas do Paysandu, Glazielle Perotes e Janaina Nogueira, falam sobre a falta de apoio e incentivo dos clubes com a categoria feminina.
PEROTES - A volante Perotes, como é conhecida, tem 32 anos e começou a treinar futsal pela UFRA (Universidade Federal Rural do Pará) com 15 anos, disputou o Campeonato Paraense de Futsal. Passou quatro anos na Esmac, após esse período foi para Tuna, onde conheceu treinadora Aline Costa com quem trabalha hoje no Paysandu.
Em 2009, jogou a Copa do Brasil, pelo Pinheirense, na época disputaram a semifinal contra o Santos que tinha atletas da seleção brasileira como Marta, Cristiane e a goleira Andreia. Mesmo perdendo, Perotes se disse muito feliz.
“Na época ficamos em quarto lugar, o Santos com atletas incríveis, cheguei lá e pensei ‘Meu Deus, o que estou fazendo aqui?’. Perdemos a partida, mas a vivência que tive na época, a experiência foi algo sensacional”, afirmou.
Nessa época, chegou a pensar que a partir daquele momento o futebol feminino paraense iria crescer, semelhante ao masculino. Não foi o que ocorreu. Perotes tem uma filha e relata as dificuldades de ser uma jogadora profissional.
"Como foi chegar um dia e dizer que não vou treinar porque eu preciso trabalhar para colocar comida na mesa, quem vai comprar leite para minha filha? Paysandu não vai. Eu não posso mais só jogar, preciso trabalhar", afirmou.
JANAÍNA - A zagueira Janaína, tem 25 anos e, durante a final do campeonato Paraense feminino de 2020, sofreu uma grave lesão no tornozelo - está realizando fisioterapia para ter a sua recuperação para o campeonato estadual desde ano.
A zagueira começou no futebol ainda criança, com cinco anos, jogando bola com os meninos na rua da sua casa. Desde cedo sofreu com o preconceito, ouvindo comentários como “tu é Maria macho”, “vai lavar roupa, brincar de boneca”.
No começo seus pais a proibiram, pois era a única menina jogando com os meninos, mas logo surgiu uma oportunidade de jogar pelo ‘Bandeirantes’ onde passou dois anos. Em 2016, Janaina foi chamada para disputar a Copa do Brasil pelo ‘Pinheirense’ onde foi campeã Brasileira em 2017, junto com Aline Costa (técnica) e Perotes.
DIFICULDADES
Com a pandemia, segundo as atletas, os treinos tiveram que parar pois muitas não possuem condições para treinar online. E que os testes que deveriam ser feitos antes de todas as partidas foi feito apenas uma vez durante o Parazão de 2019.
Elas chegam a treinar em campos de areia. “Nós atletas do Paysandu, fizemos dois ou três jogos dentro da Curuzu, mas nós não podemos treinar na lá. Se temos jogos em casa temos que jogar no CEJU, pois eles devem achar que vamos estragar o campo”, afirmou Perotes.
Ainda em relação ao Paysandu, as atletas afirmam que o clube não disponibiliza nenhum tipo de apoio financeiro ou auxílio para ajudar no deslocamento para treinos e afins.
Em relação ao uso do CEJU (Centro Esportivo da Juventude) as atletas relatam problemas como os vestiários que estão em más condições de uso, os buracos próximo a linha de final de campo. Além de terem que treinar em horários que o sol está mais forte, como às 10h da manhã.
“Chegamos de manhã para treinar e tem fezes de cachorro no meio do campo, nos vestiários não possuem portas e são quentes”, afirmou Janaína.
A reportagem entrou em contato com o Paysandu e não obteve resposta até o fechamento dessa matéria.