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Empresário admite envolvimento em manipulação no futebol e rebaixamento de 42 clubes pelo Brasil

William Pereira Rogatto disse que árbitros recebiam R$ 50 mil para interferir em jogos

Caio Maia

Em depoimento à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas no Senado, nesta terça-feira (8), o empresário William Pereira Rogatto confessou sua participação em um esquema ilegal de manipulação de resultados no Campeonato Candango de 2024, o estadual do Distrito Federal. Rogatto revelou ser responsável pelo rebaixamento de 42 equipes do futebol brasileiro, lucrando cerca de R$ 300 milhões com a fraude.

“Rebaixei 42 times e sou conhecido como o rei do rebaixamento, mas não dá para ganhar dinheiro sem rebaixá-los. Não estou matando ou roubando ninguém. O sistema é falho, e eu só explorei essa falha. A criação da máquina me favoreceu, encontrei uma brecha”, declarou Rogatto, que vive em Portugal.

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Além de ser gestor do Santa Maria, clube participante do Candangão, Rogatto admitiu ter utilizado a estrutura do time para manipular os resultados. "Sou réu confesso. Comecei trazendo jogadores renomados, prometendo um grande campeonato. Mas, depois, disse que eles não poderiam atuar, e, infelizmente, acabei rebaixando o Santa Maria. Peço desculpas", afirmou.

O empresário também relatou temer por sua segurança, o que o impediu de fornecer todos os detalhes sobre o esquema. Mesmo com a oferta de delação premiada e inclusão no programa de proteção a testemunhas, Rogatto demonstrou descrença na eficácia dessas medidas.

Relação com John Textor

Durante o depoimento, Rogatto mencionou John Textor, dono da SAF do Botafogo, que denunciou manipulação de resultados no Brasileirão de 2022 e 2023. “Não sei quais provas ele tem, mas posso garantir que pessoas que trabalharam para mim também atuaram contra ele. John Textor não está errado. Chamam ele de louco, mas ele não é tão louco assim”, comentou o empresário.

Esquema com árbitros

Rogatto deu mais detalhes do esquema, revelando que pagava R$ 50 mil a árbitros para assegurar a manipulação dos resultados, enquanto o salário médio de um árbitro no Brasil gira em torno de R$ 7 mil por partida. Ele ainda criticou as federações e a CBF, afirmando que o sistema de futebol brasileiro facilita a corrupção. “O futebol é uma matemática tão exata que só não vê quem não quer. Quando o sistema não funciona, você oferece dinheiro fácil e o atleta, com a dignidade de sustentar sua família, aceita”, disse.

O empresário também criticou a hipocrisia de clubes patrocinados por casas de apostas, afirmando que o esquema de manipulação de resultados existe no Brasil há mais de 40 anos. “O sistema é muito maior do que isso. Os grandes nunca serão punidos. Tenho provas, vídeos e gravações, mas nada mudará. Essa prática está enraizada na CBF e nas federações”, afirmou.

Investigações internacionais

Na próxima semana, a CPI planeja ir a Portugal para colher mais informações diretamente de Rogatto, que se comprometeu a fornecer fotos, vídeos e gravações detalhando o funcionamento da rede de manipulação de resultados. Ele é alvo das operações "Fim de Jogo", do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), e "Jogada Ensaiada", da Polícia Federal (PF).

"Fiz parte do sistema. Se precisar pagar por isso, voltarei ao Brasil. Mas sou apenas uma peça. O futebol é muito mais complexo do que se imagina. No fim, nada mudará", concluiu Rogatto.

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