Copa Pará Feminina Sub-17 tem primeira rodada por W.O, denúncias e reclamações de jogadoras

Duas das quatro partidas de abertura do torneio tiveram equipes desistentes. Atletas e treinadores alegam má organização da competição.

Caio Maia

A Copa Pará Feminina Sub-17 começou nesta semana reunindo oito equipes de Belém e da região metropolitana. O torneio - segundo mais importante do estado na modalidade para jogadoras até 17 anos - teve a primeira rodada cercada de expectativas. No entanto, a sequência inicial de jogos foi marcada por desencontros e precariedade.

A reportagem de O Liberal esteve no Centro da Juventude (Ceju), local que abrigou as partidas da primeira rodada. Dois dos quatro duelos inaugurais não ocorreram por ausência de uma das equipes participantes. Além disso, treinadores, jogadoras e comissão técnica revelaram descaso da Federação Paraense de Futebol (FPF) com a organização do campeonato.

Ausências e denúncias

As quatro partidas da primeira rodada ocorreram em dois blocos: duas pela manhã e duas pela tarde. Às 9h30, no Campo I do Ceju, o Boca Júnior bateu o Atlético JM9 por 4 a 0. No mesmo horário, já no Campo II, as meninas do Paysandu não seguraram o Tiradentes, que venceu o duelo por 2 a 0.

À tarde, as duas partidas marcadas para começar às 15h30 terminaram em W.O. O motivo: duas equipes não compareceram ao local de jogo. Dessa forma, o Remo, que enfrentaria a Esmac, e o Cruzeirão, que duelaria com o Pinheirense, foram declarados vencedores e somaram os primeiros pontos no torneio.

Conversando com funcionários do Ceju e membros de comissões técnicas de equipes participantes, a reportagem de O Liberal recebeu outra denúncia, que por pouco não prejudicou a partida entre Paysandu e Tiradentes, que ocorreu pela manhã. A informação aponta que não havia bolas para a realização do duelo. O time bicolor, no entanto, cedeu o material, que seria usado no aquecimento das jogadoras, para que o confronto ocorresse.

Competição marcada "em cima da hora"

image Sophia Maiorana diz que não houve tempo hábil para início da Copa Pará Sub-17 (Carmem Helena/ O Liberal)

Em conversa com jogadoras do Remo, clube vencedor da partida contra a Esmac, que terminou em W.O, um motivo para a ausência de equipes na primeira rodada foi o mais citado: o anúncio da competição "em cima da hora". Segundo a meia Sophia Maiorana, do Leão, o torneio foi marcado dias antes da bola rolar, o que pode não ter fornecido tem hábil para que equipes menos estruturadas formassem elenco.

"Semana passada avisaram a gente que teria competição. A maioria dos clubes contrata meninas no interior, só que muitas delas tem dificuldade de chegar em Belém a tempo. Além dessa questão de logística, muitas dessas garotas já estão jogando no profissional e tem muitos compromissos no time de cima, não podendo descer para a base. Isso faz com que muitos clubes não se formem a tempo", explicou.

Baixa minutagem prejudica formação

image Ailton Costa, técnico do Remo na Copa Pará Sub-17 Feminina (Carmem Helena/ O Liberal)

"Treino é treino e jogo é jogo". A frase do meia Didi, craque brasileiro eleito o melhor jogador da Copa de 1958, norteia até hoje a preparação física de times de futebol em todas as categorias. Apesar da intensidade de treinamentos físicos ser cada vez maior, a carga de dedicação corporal e mental exigida em uma partida oficial é superior. Esse tempo de bola rolando, a chamada "minutagem" no jargão da bola, é fundamental, sobretudo, na base, onde os atletas estão em formação.

Quem falou sobre isso foi o técnico do sub-17 feminino do Remo, Ailton Costa. Ele, que tinha planejado uma periodização de treinos físicos visando o jogo contra a Esmac, teve o trabalho levado por água abaixo devido ao W.O. Segundo ele, a falta de minutagem prejudica o futebol feminino no Pará na totalidade.

"Você só começa a desenvolver futebol jogando. Se você só treinar, as jogadoras não vão evoluir. Por isso, a existência de competições ajuda a melhorar o nível técnico das nossas competições. As coisas parecem estar mudando na federação, com a inclusão de mais torneios no nosso calendário, mas não adianta ter competição se as equipes não comparecem. Trabalhamos uma semana inteira no Remo para o dia de hoje, pra na hora não ter jogo. Isso acaba atrapalhando a evolução dessas garotas", disse.

Futebol feminino sem atenção

image Emilly Santos, jogadora do Remo, fala sobre as dificuldades da falta de minutagem no futebol feminino (Carmem Helena/ O Liberal)

A falta de estrutura para o futebol feminino no estado é o que mais incomoda as jogadoras. Segundo Emilly Santos, atleta das categorias de base do Remo, mas que já teve experiências em outras equipes como a Tuna Luso e a Esmac, o olhar menos atento ao que ocorre na modalidade no Pará faz com que muitas garotas não possam demonstrar todo o seu potencial. Ela, inclusive, citou o W.O como um reflexo dessa negligência da sociedade com o esporte.

"Eu acredito que falta investimento, um 'olhar' para a base. Esse é o segundo ano que tem Copa Pará Sub-17 e nós somos atuais campeões. Aqui temos estrutura que a grande maioria das meninas de outros clubes não tem. A base é muito carente desse 'olhar'. Praticamente não tem, tanto que o W.O ocorreu. É o que mais pecam aqui no nosso estado, a falta desse olhar para a base", lamentou.

O que dizem os envolvidos?

O Núcleo de Esportes de O Liberal entrou em contato com a FPF para questionar sobre as acusações feitas por jogadoras e comissão técnica relativas à data de convocação do torneio, falta de minutagem e ausência de materiais esportivos necessários para a realização de uma partida. Ricardo Gluck Paul, presidente da entidade, negou a falta de bolas e explicou o motivo pelo qual o torneio foi marcado de forma apressada.

"Sobre a falta de bolas, acho difícil ter acontecido. Nós fizemos um contrato com a Penalty e compramos 2 mil bolas novas. Sobre a data de início do campeonato, a formação de um torneio é um processo completo, que, no caso do feminino, faz parte da construção de uma nova cultura no futebol do Pará. A maioria dos clubes daqui não tem base no feminino. Então, para conciliar todos no melhor calendário a gente precisa ser um pouco flexível. O mais importante é colocar esses torneios na rua. Hoje somos a segunda federação do Brasil com mais torneios femininos e, num curto prazo, vamos chegar a um patamar alto, de não depender de negociações para que os torneios ocorram".

A redação também procurou a Esmac e o Tiradentes, equipes que não compareceram à rodada de estreia.

image Sophia Mauiorana, Atleta do Remo. (Carmem Helena / O Liberal)

A Esmac alegou que mandou atletas para o jogo contra o Remo, mas que não no número mínimo necessário para a realização da partida.

Segundo o clube, nove atletas chegaram a ir para o CEJU, mas apenas quatro compareceram antes do horário marcado para o início do duelo, enquanto as outras cinco chegaram atrasadas. Segundo o regulamento do futebol, as equipes devem entrar em campo com, no mínimo, sete jogadoras.

Ainda de acordo com a Esmac, o motivo para a falta de atletas em massa era a conciliação com os estudos. Os pais de algumas garotas não permitiram que elas fossem ao jogo porque coincidiam com o horário de aula.

Já com o Tiradentes, a reportagem não encontrou um canal viável para solicitar a demanda.

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