Conheça o mexicano que pedalou 32 mil quilômetros para conhecer Pelé e se apaixonou no Pará
A história do engenheiro que saiu do México, de bicicleta, e conheceu o maior jogador de todos os tempos
A grandiosidade de Pelé é surreal. Poucas vezes na história se viu tanta comoção com a morte de uma personalidade. Sem ele, o mundo perde o maior ícone de um esporte e isso não é pouca coisa. De todas as partes do mundo brotam histórias e feitos de quem fez o possível e o impossível para conhecer o único tricampeão mundial e autor de mais de 1.000 gols. Entre elas, ter um papel importante na formação de uma família que nasceu no Pará.
A engenheira florestal Cecília Hernandez Ochôa Coutinho que o diga. Ela veio ao mundo, literalmente, graças a existência de Pelé, que encantou a terra com o seu futebol arte e deixou uma legião de fãs e admiradores, entre eles o pai dela, Jesus Hernandes Ochôa, um mexicano que tinha como grande objetivo de vida conhecer Pelé. Para alcançar o feito, ele saiu da cidade de Veracruz, no México, no final de 1969, e percorreu, de bicicleta, cerca de 32 mil quilômetros até realizar o sonho.
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A história excêntrica chamou tanta atenção que rapidamente foi parar nas páginas dos jornais da época. Jesus saiu do México e desceu a América Central, até entrar na parte sul do continente, onde passou por alguns "perrengues" que foram registrados em jornais da época.
Desvio no caminho
Por muito pouco a jornada de Jesus não encerrou na Colômbia, como registrou o Gazeta Esportiva de 5 de novembro de 1970.
"Na Colômbia ficou detido pelos guerrilheiros e depois de ficar três dias preso e abandonado numa estrada secundária, onde alguns índios o encontraram e o ajudaram. Da Colômbia foi para o Equador, Peru, Bolívia e Chile". Depois de quase perder a vida, Jesus seguiu sua viagem solitária, rasgando estradas com sua bicicleta e uma ideia fixa na cabeça.
"Durante esse percurso, ele colecionava todas as histórias, os momentos, tudo o que ele reunia: assinaturas, registros de jornais, depoimentos. Tudo guardado. Ainda temos esse álbum, não completo, mas com bons registros da história dele sobre conhecer o Pelé", conta a filha nascida no Rio de Janeiro, que mora em Belém.
Amor no Pará
Depois de realizar o sonho, Jesus aproveitou para conhecer outras regiões do Brasil e, por obra do destino, aportou na capital paraense, onde acabou conhecendo a esposa, com quem constituiu família. "Após conhecer o Pelé, ele veio subindo parte do país, saiu de Santos e foi parar aqui na [avenida] Duque de Caxias, em São Brás, hospedado em uma casa de repouso. Nesse momento, ele conheceu o meu tio, que consertava bicicleta e o ajudou algumas vezes, até que ele conhecesse a minha mãe e se apaixonasse por ela", relembra.
Veja as memórias de Jesus Ochôa
Com o sonho realizado e um novo amor no peito, Jesus partiu então para outra etapa de sua vida, que resultou em uma nova viagem. "Eles foram de trem para Bragança e casaram por lá. Depois disso, já casados, eles foram de bicicleta para o Rio de Janeiro, onde eles geraram as três filhas e formaram uma família com raízes mexicanas, paraenses e cariocas. Minhas irmãs são Angélica Hernandez Ochôa Coutinho e Cristina Hernandez Ochôa Coutinho", detalha.
Herança de coragem e admiração por Pelé
Mais de 50 anos depois, Cecília guarda com carinho a lembrança do pai, já falecido, e da coragem em deixar a cidade natal com um sonho na cabeça, coisa que ela faz questão de repassar às gerações mais novas. "Hoje eu tenho um filho de 13 anos e outro dia ele me pediu a foto onde o avô aparece com o Pelé. Ele queria mostrar para os colegas porque eles não acreditavam. Nós nascemos no Rio de Janeiro e lá, meu pai recebia muitos amigos em casa e contava essa história para todo mundo. Crescemos com essas lembranças", encerra.
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