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Batalha de rima no Re-Pa: O clássico Rei da Amazônia na periferia de Belém; vídeo

Os MCs Duende e Viena, torcedores do Paysandu e do Remo, respectivamente, falaram de como a cultura do Re-Pa está na vida dos que moram nas periferias de Belém, além das dificuldades em consumir o clássico

Fábio Will

Este domingo (23) é dia de clássico entre Remo x Paysandu, pelo Parazão, o primeiro de 2025 e muitos torcedores vivem a expectativa da partida. A cidade de Belém “respira” futebol e o Re-Pa, que é uma cultura popular, também é vivenciado de forma intensa e descontraída por todos, inclusive na periferia. A equipe de O Liberal conversou com os MCs Duende e Viena, que falaram um pouco das curiosidades, dificuldades e zoação do maior clássico da Amazônia vivenciado tudo isso de uma maneira simples e direta e com a responsa que todo paraense possui.

A periferia de Belém é um universo de cultura por todos os lados. A forma como a galera se expressa, se veste e se comunica mostra o quanto é rica e importante fazer parte de uma sociedade sem preconceito, de cara limpa e de cultura popular. O futebol como um instrumento de inclusão, não vem cooperando muito para que as pessoas da periferia consumam o esporte mais popular do país da forma mais comum, que é ir ao jogo e fazer parte da festa.

A batalha de rima de Leão x Papão

A equipe de esporte de O Liberal esteve na Batalha do Crematório, na Praça Dalcídio Jurandir, no bairro da Cremação, em Belém, para conversar com jovens que levam críticas, informação e responsabilidade em suas rimas para uma população que está cada vez mais longe de coisas básicas uma delas é a cultura. E em um domingo de clássico Re-Pa, nada melhor que uma batalha de rap e hip-hop com os MCs Duende (torcedor do Papão) e Viena (torcedora do Leão), que falaram em versos, o quanto que o clássico entre Remo x Paysandu é importante para Norte e sua periferia.

Em meios as rimas, versos e zoeira com o rival, MC Duende e MC Viena contaram um pouco sobre a imersão que é vivenciar o clássico Re-Pa sem ir ao estádio, já que não existe outra opção, principalmente pelos custos que é acompanhar seu time do coração de perto.

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O Lobo da quebradas

O MC Duende, de 28 anos contou um pouco de como é um dia de Re-Pa na periferia de Belém. A zoeira é o forte do dia, o churrasco é “de lei”, porém, só não fica melhor por conta da distância entre o espetáculo e a periferia.

“Dia de Re-Pa na periferia é dia de zoeira, curtição e de tomar aquela cerveja, comer aquele churrasco, zoar o vizinho e ficar na rua e ser zoado. [O que nos afasta do estádio] primeiramente é o preço do ingresso. Não é algo acessível para nós da periferia. O transporte também precisa melhorar para ser aquele clássico mais jogado do mundo. Fala, mucura!, Fala leoa pirenta. Égua, mano, é só apelido chucro (risos)”, disse.

A voz da mulher na rima e no futebol

Já do lado remista, a MC Viena sabe contou um pouco sobre essa relação entre o nortista periférico e o clássico Remo e Paysandu. A jovem acredita que o clássico entre Leão x Papão conecta de uma forma diferente, intensa e que precisa ser vista como uma forma de cultura para todos.

 “O Re-Pa existe essa rivalidade criada e é através do clássico que a gente se conecta. Se você chega para uma pessoa do Norte e pergunta qual é o maior clássico do Brasil, vamos responder Re-Pa. E aí nessa hora a gente deixa de ser rival para entender a dimensão que é o clássico”, falou.

Viena foi além, a jovem de 21 anos citou a forma como aos poucos o clássico foi deixando de ser do povo, se distanciando de sua essência. Para a MC, poder frequentar o estádio virou luxo e se preocupa como esse movimento pode ser prejudicial para a população mais carente.

“O clássico Re-Pa é de família, meu avô sempre foi extremamente apaixonado pelo Remo, só que era pequena e não cheguei a ir em estádio com ele, mas fui crescendo e criando autonomia, fazendo o meu dinheiro para frequentar um espaço que eu gosto que é o futebol, mas aí os preços ficaram exorbitantes. Por mais que agora eu consiga ir por ser maior de idade, ter autonomia, nós não conseguimos chegar lá por conta do dinheiro, pois percebemos quanto mais vai criando visibilidade, mais as coisas para nós ficam caras. O Remo e o Paysandu são nossos desde sempre, mas está cada vez mais difícil nós estarmos nesses espaços por conta do poder aquisitivo”, comentou.

Disguidos 091

Quem tenta “fazer acontecer” na periferia com projetos voltados para os jovens e políticas é o produtor cultural Mathias do Disguiados 091. Com uma produtora ao lado da esposa, busca fazer com que temas importantes sejam debatidos entre os jovens e a população. Para Mathias, a cultura do futebol, mais precisamente do clássico Re-Pa, se faz presente nos bairros e isso não pode ser apenas para uma parte da população de Belém.

“Fui apenas uma vez ao estádio por diversos motivos, mas principalmente o financeiro. Poucas pessoas tinham e tem condições de acessar o estádio de futebol e o Remo ainda perdeu (risos), mas foi uma experiência muito firme, porém, vemos esse processo de elitização do futebol. Quanto mais o tempo passa a periferia não consegue acessar os eventos, consumir dentro do estádio fica caro. Não queremos apenas assistir ao jogo, queremos consumir uma cerveja. Até para voltar para casa não temos como voltar”, disse.

O clássico nas "quabradas" de Belém

O produtor fez questão de citar como é o Re-Pa “de cria” nas quebradas de Belém. A reunião com os amigos, a cerveja gelada e a coleta para um churrasco são pontos que fazem com que o clássico Rei da Amazônia não se perca em meio aos preços altos de um esporte considerado popular.

“É de lei em numa laje, juntamos o pessoal, coloca a televisão, às vezes dentro de casa mesmo, pois chove. Faz um churrasquinho, cada um traz a sua coleta e fica na resenha dentro de casa, pois não conseguimos ter acesso ao estádio. O Re-Pa é um bagulho que a gente não quer largar, mas que estão tentando tirar de nós. Queremos que essa cultura do clássico permaneça”, finalizou.

Batalha do Crematório

A batalha do Crematório ocorre desde 2021, sempre às 19h, na Praça Dalcídio Jurandir, no bairro da Cremação, em Belém. Uma das pessoas que tocam o movimento da “Batalha do Crematório” é Karol Negrão. A jovem falou da importância do hip-hop na população periférica e acredita na força da rima que muitas coisas podem mudar para melhor.

“A batalha completou quatro anos. As pessoas viram a necessidade de uma cultura periférica e a galera abraçou e o movimento vem ocorrendo. Vejo o movimento hip-hop como parte da minha família, da minha casa, das pessoas periféricas onde as pessoas podem ter voz, se expressar, além de ser fonte de renda de muitos artistas”, finalizou.

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