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Ativismo cresce e invade estádios de futebol no Pará; relembre exemplos

Feminismo foi um dos movimentos mais presentes em estádios neste ano de 2019

Andreia Espírito Santo

Ir ao estádio para assistir a um jogo de futebol faz parte da rotina e da cultura do brasileiro, mas as praças esportivas não estão restritas apenas ao ato de torcer para o clube do coração. Os altares do futebol também são espaços para manifestações política e social. Quando se fala de combate à violência contra a mulher, contra a homofobia ou contra o racismo, o futebol pode ter um papel fundamental para uma mudança na forma de pensar da sociedade. Não há qualquer proibição quanto a esse tipo de manifestação. No Estatuto do Torcedor, as únicas proibições são para cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo. 

No Pará, há vários exemplos da utilização das praças esportivas para tratar de diversos assuntos, principalmente do combate à violência e da garantia de direitos. Na semana passada, por exemplo, um grupo de torcedoras do Remo usou a arquibancada para fazer uma ação durante o jogo entre Remo e Independente de Tucuruí. Na manifestação, as mulheres estavam com placas, bandeiras e com os rostos pintados para tratar da violência contra a mulher. O gancho para a manifestação foi o Dia Internacional da Mulher. A pedagoga Thayse Wanzeler, 24 anos, que foi uma das coordenadoras do ato, comenta que a ação foi bem recebida pelos torcedores e serviu para conscientizar a população sobre o assunto. 

"Em um ambiente predominantemente machista, queríamos causar um choque de realidade, a Camisa 33 vem lutando pela igualdade da mulher dentro de qualquer âmbito há algum tempo, dentro da nossa torcida temos voz e respeito, e pensamos em nos solidarizarmos com as mulheres que precisam desse apoio. Fizemos a ação no estádio primeiro pelo mês da mulher, pela grande quantidade de feminicídio que vem sendo noticiada, pela visibilidade e o impacto que iria causar. Também teve o objetivo de quebrar o estereótipo de que mulher não frequenta estádio. Queríamos mostrar que juntas somos mais fortes, que há um amparo e que o feminicídio não pode mais acontecer. A torcida do Remo é uma torcida do povo. Acreditamos que entenderia que a luta por direitos e igualdade é válida", comenta a torcedora do Remo. 

Outro exemplo da utilização do estádio para debater diversos assuntos foi o que torcedores do Paysandu fizeram há dois anos. Em 2017, a torcida Banda Alma Celeste aboliu do repertório músicas e manifestações de cunho racial e homofóbico, inclusive a que chama o mascote e o rival de gay. A ação foi significativa e fez até o governo do Pará organizar um ato para a final do Parazão. Na época, os jogadores de Remo e Paysandu entraram em campo no jogo decisivo do Campeonato Paraense com camisetas pedindo respeito à diversidade. As animadoras de torcidas do Leão e do Papão ainda andaram ao redor do gramado do Mangueirão com a bandeira símbolo do orgulho LGBT.  A ação não parou por aí. Quando o Paysandu enfrentou o Santos pela Copa do Brasil, no Mangueirão, a Banda Alma Celeste estendeu a bandeira do arco-íris, símbolo LGBT, na arquibancada. A repercussão foi nacional. 

Para Luiz Felipe Cruz, que faz parte da Alma Celeste, a ideia das manifestações é justamente mostrar o que se pode fazer para mudar a forma de pensar da população sobre o assunto. "Todo espaço publico é um local para uma manifestação pública. Visibilidade ocorre assim como a discordância que vem junto com essa exposição. Porém, o foco é mostrar nosso posicionamento perante aquilo que achamos que é o certo. Nossas ações são baseadas em problemas do cotidiano da torcida, se passarmos por um problema que precisa de uma deliberação este problema será analisado e uma solução ou posicionamento será exposto no estádio", afirma o torcedor do Paysandu. 

Para o jogo deste domingo entre Paysandu e Remo, válido pela nona rodada do Campeonato Paraense, as torcidas não têm nenhuma manifestação política ou social planejada. 

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