Ana Clara e a Copa Feminina em Belém: 'Sonho que mais meninas se interessem por futebol'
Belém ainda não foi confirmada oficialmente como sede, mas a menina de 13 anos que joga no meio dos meninos sonha que o evento sirva de incentivo para mais meninas
Ana Clara ajeita a fita no cabelo antes de entrar na quadra no melhor estilo boleira. A bola rola entre os pés dos colegas e, quando sobra para ela, o jogo muda de ritmo. Rápida, ágil, ela avança, finta, chuta e marca. Os meninos vibram. Ela sorri fácil. No bairro da Pedreira, em Belém, já se acostumou a ser chamada de "Martinha", em referência à maior jogadora da história do futebol feminino. Aos 13 anos, estudante do oitavo ano, Ana Clara tem a mesma fome de bola da ‘Rainha Marta’. Mas, diferente dos meninos, precisou se acostumar a lutar pelo direito de jogar até mesmo em sua escola.
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A escolha do Brasil como sede da competição marca a primeira vez que um país da América do Sul recebe o evento. E, nos bastidores, Belém já é apontada como uma das cidades que terão jogos. Oficialmente, a definição ainda não saiu, mas a expectativa cresce na capital paraense. O Mangueirão passou por reformas recentes e atende aos padrões exigidos pela FIFA.
Para a pesquisadora Milene Sousa, que estuda o futebol feminino no Pará, a realização da Copa em Belém seria um impulso fundamental para a modalidade. “O fato desse evento ser realizado aqui vai servir para impulsionar a visibilidade, fazendo muitas pessoas que sequer acompanham o futebol feminino terem a possibilidade de ver e se apaixonar. A partir desse interesse, as coisas podem começar a mudar”, explica.
Divulgação = Mais Interesse
Mas a pesquisadora alerta que o sucesso da Copa em Belém não depende apenas da cidade ser escolhida como sede. É necessário que o poder público e os meios de comunicação incentivem a modalidade. “O futebol feminino tem um problema de falta de divulgação. Eles têm que divulgar assim como estão divulgando a COP-30. Vamos precisar muito disso pra conseguir um público que a gente deseja”, diz.
O desafio é grande. O futebol feminino ainda enfrenta dificuldades de patrocínio e estrutura e, no Pará, isso se torna ainda mais latente. “Falta apoio porque não rende como o masculino, não dá tanto Ibope. Mas isso acontece porque não tem visibilidade. Se a Copa for aqui, pode ser uma oportunidade de quebrar esse ciclo”, analisa Milene.
Para Ana Clara, ver mais meninas apaixonadas por futebol é um sonho, mas ela acredita que a Copa pode transformar a realidade. “Acredito que sim, já pensou, um monte de meninas gostando de futebol, ia ser maravilhoso”, diz ‘Martinha’, momentos antes de entrar na arena para fazer o que mais gosta.