Poço artesiano em Belém: falta de água incentiva moradores a furar o solo; veja como fazer
Moradores que já ficaram dias sem água enxergam nos poços artesianos a solução para o abastecimento da casa
Moradores que já ficaram dias sem água enxergam nos poços artesianos a solução para o abastecimento da casa
A frequente falta de abastecimento de água em bairros como Parque Verde e Coqueiro, em Belém, tem incentivado moradores a investirem em poço artesiano, que é uma categoria de poço tubular, cujas águas subterrâneas fluem espontaneamente para a superfície. Isso para fugir de situações onde a águas das torneiras vem com aspecto sujo e com a cor barrenta. Inclusive, nas últimas semanas, a queixa de moradores desses bairros foi noticiada em várias reportagens dos veículos do Grupo Liberal.
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O Brasil ainda é um país que enfrenta sérios problemas com o saneamento básico da população, principalmente no que diz respeito ao abastecimento de água. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), metade da população não tem acesso a sistema de esgoto e água tratada.
Além dos problemas da falta de abastecimento, Maria das Dores acredita que a água barrenta possa causar problemas de saúde. “A minha filha ficou com um tipo de alergia, fica toda empolada. Essa água dá uma coceira na gente e temos que comprar água mineral para poder tomar banho”, lamenta a aposentada.
Cansada de conviver com a falta de abastecimento e a água suja, Maria das Dores tomou a decisão que muitos moradores da região acabam optando: cavar um poço artesiano. O marido de dona Maria precisou até fazer um empréstimo para iniciar a obra, que continua sendo iniciada no quintal da residência.
O poço artesiano consiste em cavar um poço para explorar aquíferos em camadas profundas do subsolo. Em média, a exploração adequada para chegar até a água deve atingir cerca de 40 a 50 metros de profundidade, é o que explica Milton Matta, Geólogo e doutor em hidrogeologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“O aconselhado para Belém é fazer poços mais profundos e neste processo, você terá uma camada que vai selar este poço. Infelizmente, muitas pessoas constroem poços irregulares, que são rasos e não atendem as especificações técnicas necessárias”, explica o geólogo.
A construção de poços artesianos acaba sendo a alternativa de muitos paraenses que não possuem o abastecimento comum de água. De acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só 49,7% da população do estado possui abastecimento de água; 30,7% tem água de poço profundo ou artesiano; 12,3% usa água de poço raso, freático ou cacimba; 2,9% usa água de fonte ou nascente; 0,1% usa água de chuva armazenada e 4,3% “de outra forma”.
Na vontade de solucionar a falta de água, muitas pessoas acabam optando por fazer poços improvisados, que não são adequados para obtenção de água potável. São os chamados “poços amazônicos”, também conhecidos como cisternas, estruturas rasas que são contraindicadas, já que a água obtida nesta captação pode vir contaminada por diversas substâncias tóxicas.
Milton Matta alerta que a forma correta para construir um poço artesiano adequado e seguro é por meio de empresas cadastradas no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), que dispõem de profissionais certificados para realizar o projeto de implantação do poço.
“Essas empresas fazem uma licitação e criam um plano e proposta para construção do poço artesiano. São obras de engenharia geológica, portanto, só um geólogo pode construir e ele será o profissional responsável pelo projeto”, esclarece o profissional.
Os interessados em construir um poço artesiano na residência precisam estar cientes de que este tipo de obra pode sair por um alto preço. Segundo o geólogo Cleber Furtado, presidente da Associação Profissional dos Geólogos da Amazônia-APGAM, muitas variáveis podem influenciar na hora de orçar a construção do poço.
“O tipo de material utilizado, a experiência profissional, os equipamentos, o local de perfuração, são muitos fatores. Mas podemos fazer uma estimativa média de R$ 1.600 o metro construído do poço, respeitando toda a legislação legal e ambiental, isso para poços de até 40 metros de profundidade”, afirma o geólogo.
Cleber também faz um alerta para pessoas constroem poços sem a devida qualificação técnica. A ausência de um profissional habilitado pode gerar inúmeros problemas nestas obras, incluindo a contaminação da água.
“Fazer poço com um curioso, que a gente chama de ‘Zé do poço’, é muito perigoso, porque ele vai construir fora da norma técnica, não terá os cuidados de proteção do poço, como por exemplo, certificar que ele não está próximo de uma fossa”, destaca Cleber que também é diretor técnico do Clube de Engenharia do Pará (CEP).
Sobre a queixa de moradores dos bairros do Parque Verde e Coqueiro sobre abastecimento com água suja, a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) informou, em nota divulgada na quinta-feira (14), que equipes técnicas executaram a limpeza na rede de distribuição que atende os moradores da região, garantindo mais melhorias no fornecimento de água.
"A Cosanpa reitera que, o abastecimento na área opera dentro da normalidade, mas equipes técnicas serão enviadas até o local, para mapear a área e verificar a situação”, detalha a nota.
INFOGRÁFICO:
Passo a passo para construir um poço artesiano
- Contratar um profissional ou empresa certificados pelo CREA-PA
- O projeto de construção do poço deve ser feito por um geólogo
- Os poços devem ter no mínimo de 40 a 50 metros de profundidade
- Os poços não podem ser construídos próximos de fossas