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Geração Z adere ao ‘rage applying’ para sair de empregos ‘frustrantes’

Nova onda de desligamentos é resposta à insatisfação no trabalho; entenda

Amanda Engelke

Imagine estar preso em um emprego que não valoriza seus esforços, onde o salário não acompanha suas expectativas e a carga de trabalho é esmagadora. Agora imagine pegar seu celular, abrir uma rede social e encontrar um mar de jovens como você, compartilhando suas frustrações e revelando a solução que encontraram: o "rage applying". Este novo fenômeno, que pode ser traduzido como "candidatura por raiva", está ganhando força entre os profissionais da Geração Z.

Para especialistas, o rage applying é mais do que uma simples busca por novas oportunidades; é uma resposta imediata à insatisfação profissional. A facilidade proporcionada pelas plataformas online e redes sociais, como o TikTok, onde o termo ganhou popularidade, amplifica essa reação. Já para a Geração Z, essa prática é uma maneira de tomar controle de suas carreiras e buscar ambientes onde se sintam verdadeiramente valorizados.

Com expectativas altas em relação ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional, reconhecimento e propósito no trabalho, os profissionais da Geração Z não hesitam em procurar novas oportunidades quando se sentem desvalorizados. Iza Reis, executiva de Recursos Humanos (RH) e mentora especializada em recolocação e Transição de carreiras, observa que um dos sinais de adoção dessa prática é “o aumento significativo no número de candidaturas enviadas de forma repentina”.

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Reis cita ainda a demonstração dessa frustração em plataformas profissionais como LinkedIn, e relatos de insatisfação em relação ao ambiente de trabalho e às condições oferecidas pelas empresas. “Além disso, é comum perceber uma rotatividade mais alta entre os jovens profissionais, o que reflete a impulsividade em buscar novas oportunidades. Esta frustração é facilmente percebida durante os processos seletivos aos quais eles fazem suas aplicações”, diz.

Tendência também é local

Junior Lopes, presidente da Seção Pará da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-PA), observa que o rage applying “é um movimento que já vem sendo percebido à nível local”. Para ele, a insatisfação é notada com o desengajamento, a baixa produtividade, o desinteresse em projetos a longo prazo e aumento de pedidos de folgas ou licenças”. Seria comum ainda conversas abertas com colegas sobre oportunidades em outras empresas.

Nos Estados Unidos, 90% dos trabalhadores já praticaram rage applying, motivados por conflitos com chefes, excesso de trabalho e esgotamento, de acordo com uma pesquisa da da empresa Bold. No Brasil, as demissões voluntárias atingiram um recorde em abril de 2024, com 734.943 casos, segundo estudo da FGV-Ibre. A insatisfação dos profissionais é impulsionada por um mercado de trabalho aquecido e a busca por melhores oportunidades e flexibilidade.

Valores compatíveis

Para Iza, a Geração Z se desliga “impulsivamente” de seus empregos por diversos motivos. A busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional, insatisfação com a cultura organizacional, falta de oportunidades de crescimento, baixos salários e benefícios inadequados são os principais motivadores. "Eles valorizam um ambiente de trabalho inclusivo e diversificado, e a ausência dessas características os leva a buscar novas oportunidades", analisa.

Junior Lopes confirma essa percepção. Ele pontua que “a Geração Z tem expectativas elevadas e específicas em relação ao trabalho”. Além disso, eles desejam trabalhar em empresas com valores e propósitos alinhados aos seus próprios, têm baixa tolerância para ambientes tóxicos ou considerados negativos, têm expectativas salariais mais altas e buscam por compensações justas. “Há uma frustração quando isso não ocorre”, afirma.

Geração Z: prós e contras

Para Anna Padinha, especialista em recrutamento, gestão de pessoas e recursos humanos, a Geração Z traz vantagens como a valorização da diversidade, preocupação com o meio ambiente, facilidade com novas tecnologias e a atenção à saúde mental. No entanto, ela também vê desafios como a inquietude na carreira, o imediatismo, distrações constantes, rápido desinteresse e a tendência de expor descontentamentos nas redes sociais.

Iza Reis concorda com as vantagens mencionadas por Anna e adiciona a adaptabilidade à tecnologia, a autenticidade e o espírito empreendedor como pontos fortes. “É uma geração que demonstra vontade de assumir riscos e promove ambientes de trabalho mais acolhedores”, destaca. Por outro lado, Iza aponta a impaciência, a desconexão interpessoal, expectativas altas, inexperiência e suscetibilidade ao estresse como pontos negativos.

Já Junior Lopes destaca a habilidade de adaptação, capacidade de inovação e o compromisso com a diversidade e questões sociais como principais vantagens da Geração Z. "Eles trazem novas ideias e uma perspectiva inovadora para os desafios existentes", comenta Junior. No entanto, ele observa que a impaciência, o desapego às empresas, expectativas elevadas e baixa resiliência são pontos que precisam de atenção e adaptação para o sucesso no mercado.

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