Etarismo aumenta custos e danifica a imagem das empresas, dizem especialistas
Mudanças nas práticas de recrutamento e gestão são essenciais para evitar discriminação
Mudanças nas práticas de recrutamento e gestão são essenciais para evitar discriminação
O etarismo no mercado de trabalho é uma realidade crescente que não apenas prejudica profissionais experientes, mas também se reflete em custos altos para os empregadores. Segundo dados da Fox & Partners, escritório de advocacia especializado, a compensação média concedida em casos de discriminação etária aumentou 624% entre 2022 e 2023. No Brasil, a discriminação por idade fere a Constituição Federal e o Estatuto do Idoso, que garante igualdade para todas as idades. Mas, apesar de as leis estarem em vigor, o preconceito etário ainda persiste em muitas empresas, afetando não apenas as vítimas, mas também o ambiente corporativo e a economia das organizações.
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O preconceito etário no mercado de trabalho se manifesta de várias formas, como a exigência de jovens profissionais sem considerar a experiência, ou a redução de custos por meio da demissão de trabalhadores mais velhos, geralmente sob a justificativa de "renovação da equipe". Esse comportamento compromete a diversidade etária nas empresas e, consequentemente, a troca de experiências entre gerações, algo crucial para a inovação e a produtividade. Segundo a mentora estratégica de carreira e conselheira da ABRH PA, Iza Reis, “o etarismo tem levado ao desligamento prematuro de profissionais experientes, muitas vezes em nome da renovação da equipe, o que acaba comprometendo o conhecimento estratégico e histórico institucional da empresa."
Entre os principais desafios enfrentados por esses profissionais estão o preconceito nos processos seletivos, a exigência de atualização tecnológica sem oferecer capacitação adequada e a falta de vagas que correspondam à experiência acumulada ao longo dos anos. Em muitos casos, os empregadores ainda associam a faixa etária avançada à resistência a mudanças e à falta de flexibilidade, o que dificulta a reintegração de profissionais com mais de 50 anos no mercado. Essa visão equivocada não só desvaloriza a experiência como também limita o potencial de crescimento da empresa.
Iza Reis destaca que as empresas podem e devem adotar medidas para combater o etarismo, como políticas claras de diversidade etária e a promoção de treinamentos sobre viés inconsciente. "É fundamental que as organizações incentivem a troca de experiências entre gerações, como programas de mentoria reversa, além de revisar práticas de recrutamento para garantir que a idade não seja um critério de exclusão", afirma a especialista. Também é importante que as empresas implementem programas de requalificação profissional para que os trabalhadores mais velhos possam se manter atualizados e com novas oportunidades de desenvolvimento dentro das organizações.
No entanto, embora a conscientização sobre o problema tenha aumentado, a maioria das empresas ainda está em um estágio inicial na adoção de políticas inclusivas para profissionais mais velhos. A advogada trabalhista Camila Tavares aponta que, no Brasil, a discriminação etária configura uma infração à Constituição, que assegura o princípio da igualdade. Em sua experiência, Camila observa um aumento significativo das queixas relacionadas ao etarismo, à medida que mais pessoas estão conscientes de seus direitos e das leis que as protegem. “Esse tipo de discriminação pode resultar em indenizações significativas, além de ações como reintegração do funcionário. Se uma empresa for reincidente, pode ser alvo de Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Ministério Público do Trabalho”, explica Camila.
Para evitar os custos com processos judiciais e danos à imagem da organização, é fundamental que as empresas adotem práticas de gestão que promovam a inclusão etária. Isso inclui revisar seus processos seletivos, eliminar qualquer linguagem que sugira preferência por "jovens dinâmicos", e promover uma cultura que valorize as experiências de todas as idades. Além disso, é importante que os empregadores adotem programas de capacitação contínua para os seus colaboradores de todas as faixas etárias, criando um ambiente de trabalho inclusivo e colaborativo.
Em muitos casos, o preconceito etário é sutil, mas pode ser detectado em alguns sinais, como anúncios de emprego que especificam “jovem dinâmico” ou “recém-formado” como requisitos, a exclusão de candidatos com mais de 50 anos sem uma justificativa clara, ou até questionamentos sobre idade durante as entrevistas. Para evitar esse tipo de discriminação, as empresas devem garantir que seus processos de recrutamento e seleção sejam baseados em competências, experiência e habilidades, e não em estereótipos relacionados à idade.