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Na Grande Belém, mães atípicas e empreendedoras tentam equilibrar a vida pessoal e profissional

Amália Silva e Patrícia Castro têm o mesmo sonho de crescerem profissionalmente e serem boas mães para os filhos neuroatípicos

Valéria Nascimento

Os dias são agitados, por vezes, em alerta. Em casa, a autoconfiança, e também o desafio de tentar equilibrar vida pessoal e profissional. Essa é a rotina de boa parte das "mães atípicas" que trabalham. Mulheres como as paraenses Amália Silva, de 40 anos, e Patrícia Castro, de 43 anos, moradoras de Icoaraci, em Belém; e Ananindeua, respectivamente. Elas não se conhecem pessoalmente, mas a seu modo, têm uma jornada duplamente desafiadora: ter sucesso no empreendedorismo e ser boa mãe de filhos neuroatípicos, com alguma deficiência física ou intelectual.

Amália mora no bairro da Agulha, em Icoaraci, e é mãe de João Vitor, um adolescente de 13 anos, diagnosticado com autismo. Patrícia Castro é técnica de enfermagem e mora na Cidade Nova VI, em Ananindeua, com dois filhos com diagnósticos neuroatípicos: a Kellen Patrícia, de 18 anos, e o Kevim Peter, de 13 anos.


Mães tentam conciliar a maternidade com os negócios

Amália conta que ela e o filho dependiam exclusivamente do benefício de prestação continuada, equivalente a um salário mínimo (R$ 1.412). No entanto, desde o ano de 2022, a renda da família melhorou. Ela passou a vender bolos e doces nas feirinhas de empreendedorismo inclusivo, da Coordenação Estadual de Políticas Para o Autismo (Cepa), da Sespa.

As feirinhas da Cepa objetivam dar visibilidade e promover o trabalho das pessoas com autismo e seus familiares. Amália e João Vitor são assíduos participantes dos eventos. "Eu me inscrevi na Cepa pelo Instagram deles. A primeira feira foi no Porto Futuro (no bairro do Reduto). De lá para cá, sou chamada todas vezes para vender meus bolos e doces, graças a Deus”.

Amália tem sempre a companhia de João Vitor nos eventos da Cepa. Nessas ocasiões, ela sempre veste uma camisa com a frase “mãe de autista”, por considerar que é importante sinalizar a condição especial do filho.

“O público vai vendo que somos mães de autistas, a feirinha vende artesanatos, lanches, roupas, acessórios. A feirinha traz renda para todas nós, mães e famílias de autistas. Traz conhecimentos, amizades e isso é muito bom. Saber que eu trago uma renda para casa e posso falar do meu filho, tirar dúvidas das pessoas sobre o autismo, é muito bom”, diz Amália.

Ela recorda que até pouco tempo as famílias de pessoas com o transtorno do espectro autista (TEA) viviam isoladas. Mas, isso cada vez mais está ficando para trás. O TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social. "Gosto muito quando minha mãe vai às feirinhas e leva seus doces”, diz João Vitor, mostrando orgulho pelo trabalho da mãe.

Amália afirma que se desdobra diariamente para acompanhar João Victor, a quem se dedica 24 horas, e nos afazeres de casa, o que agora inclui as receitas de bolos e doces para as feirinhas da Cepa, e também para atender encomendas que surgem a partir da divulgação do trabalho dela nos eventos.

Aos 43 anos, a técnica de enfermagem, Patrícia do Socorro Maciel Castro, tem uma rotina parecida com a de Amália. Ela mora na Cidade Nova VI, em Ananindeua, com o marido, Pedro Jorge Ferreira Castro, de 55 anos, e os dois filhos com diagnósticos neuroatípicos. Patrícia tem o apoio de Pedro no cuidado com os filhos.

A filha mais velha Kellen Patrícia tem paralisia cerebral, como sequela da Anóxia (a ausência de oxigênio no cérebro). Aos 7 anos de idade, Kellem foi diagnosticada com autismo nível 3 de suporte, ela usa fraldas, não se comunica de maneira verbal e não atende nenhum comando. Depende dos cuidados dos pais. O caçula do casal é o Kevim Peter, de 13 anos, está no 7° ano do ensino fundamental. “Ele tem o hiperfoco, e no caso dele, é a edição de vídeos, tem até um canal no YouTube”, conta Patrícia sorrindo.

Kevim tem autismo nível 2 (o antigo moderado) e também TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), “mas ele é o que se chama de funcional, é super comunicativo e já até me ajuda atendendo clientes que vem comprar chopps na nossa porta”, rir ainda mais alto, Patrícia, ao contar do crescimento social do caçula.

“Foi por eles que resolvemos abrir mão de empregos formais, guardar nossos sonhos no bolso para viver os deles com amor e dedicação”, diz ela, que faz e vende salgados, café da manhã e bolos. “Em eventos de grande porte como esse, com 900 pessoas inscritas, invisto mais ou menos R$ 1.500, e levanto uns R$ 3 mil e alguma coisa. Ou seja, consigo obter 100% de lucro”, contou Patrícia na última sexta-feira (23/8), referindo-se a um evento na Universidade Federal do Pará (UFPA), no campus do Guamá, em Belém.

Ela ponderou também que nem sempre os eventos são bons, como o da UFPA. “No mês passado, fomos para um evento do Belém Rock contra FOME lá na praça Waldemar Henrique investimos o que tínhamos e o que não tínhamos, deu muita gente na praça mas voltamos com quase tudo para casa, nesse dia voltei frustrada”, disse a empreendedora, ciente do seu pequeno negócio, mas longe de desistir. "É tudo por eles", afirmou ela. 

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