Materiais da floresta viram produtos que geram renda em Santarém
Mãos habilidosas transformam insumos da natureza em artesanato que garante o sustento das famílias
A busca por uma maior harmonização entre desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente é algo que vem ganhando espaço e holofotes na região amazônica. A Flona do Tapajós e Arapiuns, localizadas na cidade de Santarém, são fontes para muitos empreendedores sustentáveis, pois são dessas áreas que são extraídos insumos que se transformam em alimentos, bebidas, cosméticos, fármacos, borracha, peças de decoração, moda e acessórios.
A indígena Andrea Cardoso Arapiuns está nesse grupo ainda tímido de empreendedores que valorizam a preservação da natureza e fomentam a bioeconomia. Ela tem uma loja de artesanato que vende trançados de palhas no espaço de Artesanato Cristo Rei. Lá, cerca de 30 famílias ribeirinhas fazem parte da cadeia produtiva e abastecem a loja com as peças.
Andrea conta que, como indígena, acha importante essa valorização do trabalho artesanal que tem a natureza como fonte de geração de renda.
“Passei boa parte da minha infância na aldeia e depois vim morar em Santarém, onde abri essa loja voltada para a área de artesanato ribeirinho, com produtos retirados da floresta, 100% natural, com responsabilidade ambiental e que ajudam a manter a floresta em pé”, enfatizou.
Para a indígena, o artesanato vai além da geração de renda, trata-se da promoção ao empoderamento feminino, além de incentivar de forma direta a cultura da região, pois os trançados feitos a mão têm características exclusivas que evidenciam as vivências tapajônicas.
A empreendedora também confecciona alguns dos produtos vendidos na loja, como as biojoias. “São peças de diversas cores e formatos. Cada uma mostra a cara da Amazônia”, enfatizou.
Produção familiar
A artesã Zelma Ribeiro trabalha com peças feitas de madeira de árvores que caem de forma natural, como galhos secos e sementes. Nesse empreendimento há o envolvimento de toda a família. Ela afirma que o amor pela arte vem de longo tempo e que essa paixão acabou sendo a principal fonte de sustento familiar.
“Trabalho com a produção familiar. Os materiais que usamos vêm direto da natureza, boa parte nós encomendamos dos ribeirinhos como galhos secos, raízes, sementes e outros compramos de serrarias que seriam pedaços de madeira que não teriam mais utilidade para fabricação de móveis”, explicou.
Dona Zelma compartilha orgulhosa que algumas peças comercializadas por ela são fabricadas pelo sobrinho, que é estudante de medicina, e retira a renda desse trabalho para custear a vida acadêmica.
“Ele faz essas peças desde criança, e hoje elas oferecem os estudos dele na área de medicina. Através do trabalho com artesanato de produtos da natureza ele tem renda que sustenta o sonho que o fará médico”, relatou emocionada.
As peças são produzidas com muita criatividade e tem um colorido exuberante. Zelma salienta que os objetos feitos a mão retratam a natureza e a vida ribeirinha, como as que têm imagem de Santos, lembrancinhas dos botos, garças em árvores ao lado de casas que imitam a vida no rio.
Sementes viram biojoias
O empreendedorismo sustentável é muito importante para a preservação da floresta e desenvolvimento das comunidades locais. Os donos de negócios da região têm um papel fundamental no desenvolvimento socioeconômico das comunidades e conservação do meio ambiente.
Jackson Linhares sabe da responsabilidade que tem com o à frente do negócio. O empreendedor fabrica biojoias usando caroços de frutas, sementes, madeiras e escamas de peixes. Ele conta que o processo de produção começa com a seleção dos insumos para separar os melhores itens. “Usamos vários materiais da natureza para fazer as biojoias. Tudo o que seria descartado, reaproveitamos e criamos peças exclusivas”, enfatizou.
A comercialização dos produtos dos três artesãos é feita no centro de artesanato do Tapajós Cristo Rei, que é um espaço de exposição e comercialização dos artesãos de Santarém. No local é possível encontrar diversos tipos de peças, que vão desde biojoias a produtos de argila, madeira e palhas. Quem visita o local se encanta com a variedade de peças feitas pelas mãos de quem transforma insumos da natureza em arte.
A estrutura conta com 13 boxes, onde mais de mais de 600 artesãos são beneficiados com a diversidade de produtos e negócios ecológicos.
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