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'Não há transferência automática de votos', afirma cientista político sobre apoios do 2º turno

Embora ocorra o apoio dos candidatos derrotados no primeiro turno para os que disputam o segundo turno, a transferência de votos não é automática e imediata, apontam cientistas políticos

Jéssica Nascimento

O eleitorado é muito heterogêneo e se prende a algumas condições sobre as quais determinados candidatos podem corresponder aos anseios de quem vota. É o que defende Carlos Siqueira, professor paraense de Ciência Política e Relações Internacionais. “Não creio que candidatos derrotados transfiram votos, mas que determinadas propostas ou campo ideológico desse candidato possam coincidir com outro candidato que saiu vencedor para disputar o segundo turno, e aí esse eleitor fará seu voto nessas condições”, explica. 

Por isso, segundo Carlos Siqueira, não há transferência automática de votos. “Candidatos derrotados servem para potencializar a perspectiva de vitória através da imagem, aí é mais simbólico”, destaca. A mesma opinião é defendida pelo paraense Rodolfo Marques. Para ele, que é doutor em Ciência Política e especialista em eleições, o apoio é comum no 2º turno, mas a transferência de voto é algo imensurável de forma prática. 

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“Primeiro porque o voto é secreto. Segundo porque o voto nem sempre se constrói a partir de questões ideológicas. Um candidato declarar apoio a outro no segundo turno não necessariamente vai permitir ou vai gerar automaticamente a transferência de votos”, explica Rodolfo Marques. 

Segundo Marques, há as questões do apoio, da participação no horário eleitoral e da propaganda junto aos eleitores do primeiro turno, mas não existe uma transferência automática de votos.

“Eleição em segundo turno é uma nova eleição.” É o que afirma a paraense Karol Cavalcante, mestra e doutoranda em Ciência Política. De acordo com ela, a declaração de apoio de candidatos derrotados no primeiro é sempre importante. “Em grande medida são esses candidatos que têm mais proximidade com o seu eleitor e maior condição de convencê-los na hora de decidir o voto”, avalia. 

Apoio de candidatos com ideologia diferente 

Quando o apoio ocorre de um candidato de espectro político diferente do candidato apoiado, há transferência de votos? Para Karol Cavalcante, depende do nível de polarização da disputa eleitoral e de como a estratégia de campanha será definida. 

Se as campanhas foram marcadas pela questão ideológica e pela nacionalização do debate, isso conta. Segundo a cientista política, o definidor de uma eleição em segundo turno, no geral, é o índice de rejeição que o candidato tem e como ele se apresenta ao eleitor. 

“Em grande medida o eleitor quer ter seus problemas resolvidos e em um primeiro turno essa disputa é marcada por uma avaliação de gestão. Enquanto no segundo turno, essa disputa é marcada muito mais por uma polarização entre dois campos que nem sempre são de espectro ideológicos distintos”, analisa Karol Cavalcante. 

No entanto, conforme a cientista política, quando os candidatos são de espectro político completamente antagônicos, a tendência é de nacionalização da disputa e de uma polarização radicalizada, o que, para ela, não é bom para a democracia. “Em uma eleição de radicalização é pouca a margem para transferência de votos entre candidatos de espectro político diferente”, declara.

Segundo Rodolfo Marques, quando existe um apoio de um candidato a outro no 2º turno de diferente espectro ideológico, a eventual transferência de voto é mais complicada. O motivo seria que, nas eleições municipais, é mais raro que a escolha seja ideológica. Ela é, em geral, pautada por políticas públicas, resolução de problemas mais imediatos e questões urbanas.  

“Se existe um apoio do candidato em que você votou no 1º turno para outro de diferente espectro ideológico, é mais difícil convencer o eleitor a fazer essa escolha. Por exemplo, um candidato do PSB em primeiro turno, mais a centro-esquerda, apoiar um candidato do PL ou do PP ou mesmo do PSD no segundo turno”, explica Rodolfo Marques.

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