MENU

BUSCA

'30% dos eleitores decidiram na hora da urna', diz Felipe Nunes, CEO da Quaest

Em entrevista ao Grupo Liberal, Nunes avalia o cenário em Belém e detalha a metodologia das pesquisas eleitorais da Quaest

Amanda Engelke

Felipe Nunes, CEO e fundador da Quaest, defende que pesquisas eleitorais não servem para prever o futuro, mas, para capturar o "clima eleitoral" em momentos específicos da campanha. Segundo ele, as pesquisas medem o comportamento dos eleitores e as forças políticas em disputa, sem a intenção de antecipar os resultados finais. Na prática, a Quaest se aproximou de vários resultados em capitais brasileiras no primeiro turno das eleições municipais de 2024.

Em São Paulo, a Quaest capturou a disputa acirrada entre Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PL), com Nunes e Boulos avançando para o segundo turno. No Rio de Janeiro, a previsão de vitória de Eduardo Paes (PSD) no primeiro turno foi confirmada nas urnas. Além disso, em Salvador, a pesquisa da Quaest também antecipou a vitória folgada de Bruno Reis (União Brasil).

Contratada pela Rede Globo e suas afiliadas, como a TV Liberal, no Pará, neste sábado (19) a Quaest divulgou sua primeira pesquisa do segundo turno das eleições, cobrindo todas as capitais onde há disputa, incluindo Belém. Na véspera da votação que definirá o próximo prefeito de Belém, no sábado (26), já após o debate da TV Liberal, o instituto também divulgará a última pesquisa do segundo turno.

Nesta entrevista ao Grupo Liberal, Felipe Nunes detalha a metodologia utilizada nas pesquisas da Quaest e avalia o cenário eleitoral do primeiro turno em Belém, destacando a "avaliação ruim" que deixou o atual prefeito Edmilson Rodrigues fora da disputa. Nunes também analisa o que está por vir no segundo turno, que será disputado entre Igor Normando (MDB) e Éder Mauro (PL) na capital paraense. Veja a entrevista na íntegra:

Muitas pessoas ainda questionam a confiabilidade das pesquisas eleitorais. Qual a metodologia utilizada pela Quast e o que garante a confiabilidade?

As pesquisas eleitorais nada mais são do que instrumentos de coleta do que eu chamo de "clima eleitoral", do clima político da cidade. O objetivo de uma pesquisa não é fazer prognóstico, fazer previsão de nada. A gente não adivinha o que as pessoas vão fazer nas urnas. O que as pesquisas fazem é medir as forças políticas, o tamanho de cada candidatura, mas, claro, é o eleitor, na reta final, no dia da urna, que decide o que é melhor para sua cidade, para sua família e para ele mesmo. Eu costumo dizer que o Brasil está passando por um processo muito diferente: o eleitor está mais engajado, mais informado sobre política, conversa mais sobre política e, com isso, ele deixa para decidir muitas vezes na última hora.

Esse ano, metade dos brasileiros, em geral, decidiu, para você ter uma ideia, na véspera da eleição, entre sábado e domingo. Cerca de 30%, estimamos, decidiu na hora da urna, na hora da votação. Isso é um mega desafio para os institutos.

O que a gente faz é dividir a cidade, cada uma das cidades em que trabalhamos, em microrregiões. Dentro de cada microrregião, sorteamos os setores censitários, que são pequenos espaços, quarteirões dentro da cidade, onde as entrevistas vão ser feitas. Tudo isso é feito de maneira probabilística, aleatória, para garantir que todos os perfis políticos, todos os perfis de eleitores estejam representados na amostra. Depois que a amostra é feita, por meio de um questionário, elaboramos questões de intenção de voto espontânea e estimulada, estudamos as rejeições, o tamanho do conhecimento de cada candidato e isso nos dá a possibilidade de fazer avaliações, estudos do tamanho da força de cada candidatura, para que a gente consiga representar a opinião e a intenção que o eleitor tem de votar no candidato A ou no candidato B nas urnas.

Do mesmo jeito que a gente não precisa, para saber como está o nível de glicose ou colesterol, tirar todo o sangue do corpo, para fazer isso tiramos apenas uma amostra de sangue. A pesquisa é a mesma coisa, é um instrumento de amostragem para estimar todo o eleitorado que está apto a votar no dia da eleição.

Existem muitas curiosidades sobre as pesquisas, já que poucas pessoas participam. Quais perguntas vocês costumam fazer e por que elas são importantes para avaliar o cenário eleitoral?

Essa pergunta eu escuto sempre: “Ah, eu nunca participei de uma pesquisa.” Toda vez que eu escuto isso, eu pergunto: “Você já ganhou na Mega-Sena?” Porque a probabilidade de você participar de uma pesquisa no Brasil, considerando o tamanho da nossa população, é quase a mesma chance de ganhar na Mega-Sena. Então, assim como é difícil ganhar na Mega-Sena, também é difícil participar de uma pesquisa. Mas é isso, numa amostragem feita no Brasil inteiro, por exemplo, geralmente trabalhamos com 2.000 entrevistas. Por isso, a participação é tão rara. No caso de cidades como Belém, as amostras variam entre 800 e 1.000 entrevistas, o que também é raro.

A pesquisa é feita de forma presencial? Como funciona?

Sim, as pesquisas da Quaest são feitas de maneira domiciliar. A gente segue a tradição de fazer pesquisa como o IBGE faz, e por isso utilizamos a malha do próprio IBGE para desenhar essa amostra. Agora, na entrevista propriamente dita, o que a gente faz é basicamente dividir o questionário em quatro blocos. O primeiro, e mais importante deles, é a pergunta direta ao eleitor: se ele já escolheu em quem vai votar para prefeito. E é uma pergunta espontânea, não apresentamos nenhum tipo de lista de nomes, o eleitor tem a possibilidade de dizer de cabeça se já escolheu ou não, e, caso tenha escolhido, quem é o nome.

Depois, trabalhamos com um bloco de conhecimento de todos os candidatos. Apresentamos a lista de todos os candidatos e perguntamos se o eleitor conhece ou não aquelas pessoas, para depois perguntar se ele votaria ou não em cada uma delas. Aí chegamos à pergunta mais divulgada, que é a pergunta estimulada, quando apresentamos ao eleitor a lista de todos os candidatos que estão na disputa, tanto dos partidos grandes quanto dos pequenos. Todos são apresentados com a mesma chance, sem ordenamento.

O eleitor responde em um tablet, como se estivesse escolhendo na urna. Isso é importante porque o eleitor não precisa dizer ao entrevistador se vai escolher A ou B, ele responde como se estivesse votando. Depois, estudamos os apoios políticos, as forças das lideranças locais e nacionais, e, por fim, o padrão de informação desses eleitores: se eles se informam pela TV, discutem política com amigos, e aí encerramos o questionário com perguntas sobre religião, se alguém na família recebe Bolsa Família, se o domicílio tem banheiro, entre outras perguntas que caracterizam esse eleitor. Isso garante uma amostra representativa por sexo, idade, escolaridade e renda do eleitorado.

No primeiro turno, alguns resultados ficaram muito próximos dos dados da Quaest. Quais você destacaria?

De fato, como eu falei, o trabalho de um instituto de pesquisa não é acertar números. Nosso instrumento não é de fazer prognóstico ou de prever exatamente o que vai dar na urna, porque quem define é o eleitor, que é soberano. Mas, de fato, o trabalho dos institutos é capturar as tendências da eleição, as ondas eleitorais, e identificar os nomes mais competitivos. Estamos comemorando com muita alegria os resultados deste ano.

A Quaest já havia mostrado um resultado muito importante e forte em 2022, apontando para uma grande competição entre Lula e Bolsonaro. Novamente, o time de inteligência da Quaest conseguiu fornecer ao eleitor uma informação qualificada. Acho que a eleição mais difícil deste ano foi a de São Paulo, em que a Quaest foi muito precisa ao mostrar uma disputa tripla entre os três principais candidatos. Demos ao Marçal uma chance um pouco menor de aparecer no segundo turno, e os resultados foram muito confiáveis.

Também fomos precisos no Rio de Janeiro, onde mostramos a vitória em primeiro turno de Eduardo Paes. Em Salvador, registramos a vitória tranquila de Bruno Reis. Em Maceió, JHC (João Henrique Caldas) saiu vitorioso, e o segundo turno se confirmou entre os candidatos do PL e do PT em Fortaleza. Em Porto Alegre, após muito tempo de desafios para outros institutos, conseguimos mostrar as chances de vitória de Sebastião Melo, mesmo diante da competitividade das duas candidatas de esquerda.

Mostramos o crescimento da direita mais “radical” em Curitiba, Goiânia e Manaus, sempre capturando esses movimentos com rigor, ciência e técnica, além da isenção e independência que marcam nosso trabalho.

E não poderia deixar de citar o caso de Belém, onde, desde o começo, mostramos uma grande competitividade do candidato do governador, Igor, que acabou aparecendo em primeiro lugar nas urnas, como nossas pesquisas indicavam. Em segundo, o delegado Éder Mauro, do PL, chegou muito próximo, como a Quaest já apontava, deixando o prefeito Edmilson Rodrigues, com avaliação ruim, fora do segundo turno. Ele não conseguiu fazer um governo aprovado e, por isso, ficou de fora da disputa.

Estamos ansiosos pelo que vem pela frente, uma disputa entre o candidato do governador Helder Barbalho, muito bem avaliado no estado e na capital, e o candidato de Bolsonaro, do PL, que também tem força e capacidade de mobilização. Vai ser um segundo turno muito interessante de acompanhar em Belém.

Você mencionou a importância de capturar o clima da eleição. No segundo turno, a abordagem da pesquisa muda? Como funciona esse processo?

O que muda essencialmente é o desafio. No primeiro turno, com muitos candidatos, a pesquisa precisa capturar todas as preferências em um sistema multipartidário como o brasileiro. No segundo turno, falamos de dois candidatos, de dois lados. Geralmente, as posições dos candidatos são mais claras. Um tende a estar mais à esquerda, o outro mais à direita. Um é o candidato da situação, o outro, da oposição. Os apoios também ficam mais claros, e isso muda a forma como analisamos esse cenário.

Mas, do ponto de vista metodológico, não. A pesquisa continua fazendo o mesmo exercício: dividir a cidade em microrregiões, sortear setores censitários, determinar onde as entrevistas serão feitas, realizar as entrevistas por domicílio e garantir a confiabilidade das respostas. Além disso, no segundo turno, temos a informação sobre como os eleitores votaram no primeiro turno, o que passa a fazer parte da pesquisa. A gente investiga como os eleitores que votaram nos outros candidatos vão se comportar agora.

No caso de Belém, por exemplo, uma curiosidade é como os eleitores do atual prefeito Edmilson Rodrigues vão se comportar, além dos eleitores do Thiago Araújo e do Jefferson Lima. A transferência de votos é fundamental nessa análise, e isso passa a incorporar nossos relatórios nesse segundo turno.

A última pesquisa Quaest foi divulgada na véspera da eleição, capturando ‘o clima final’. A Quaest continuará fazendo pesquisas na cidade?

Sim, a Quaest vai realizar pesquisas em todas as capitais com segundo turno, em parceria com a Rede Globo e suas afiliadas, para informar o eleitor sobre a disputa. Serão duas rodadas de pesquisas em Belém. A primeira foi publicada no sábado, dia 19, e a famosa pesquisa de véspera, no próximo sábado, 26, véspera da eleição, para capturar a onda final e ver como o eleitor está decidindo. Após os debates, costuma haver uma mudança importante, e esperamos, mais uma vez, ajudar o eleitor a tomar sua melhor decisão.

Eleições