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Você ganha salário in natura? Entenda como funciona essa forma de remuneração prevista na CLT

Previsto no Artigo 458 da Consolidação das Leis do Trabalho, o salário in natura é uma modalidade que vai além do pagamento em dinheiro, gerando benefícios e obrigações para empregados e empregadores.

Jéssica Nascimento

O salário in natura, também conhecido como salário utilidade, é um dos aspectos mais peculiares e relevantes da legislação trabalhista brasileira. Previsto no Artigo 458 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ele se refere à remuneração paga por meio de bens ou serviços, como moradia, alimentação ou transporte. Embora ofereça vantagens tanto para empregadores quanto para trabalhadores, essa modalidade também exige atenção às regras e limitações impostas pela lei.

O que é o salário in natura?

O salário in natura é uma forma de remuneração não monetária que consiste no fornecimento de bens ou serviços pelo empregador ao trabalhador, como parte de seu pagamento. Exemplos comuns incluem moradia, alimentação e transporte oferecidos diretamente pela empresa.

De acordo com o Artigo 458 da CLT, esses bens ou serviços integram o salário do trabalhador para todos os fins legais, como cálculo de férias, 13º salário e FGTS, desde que sejam fornecidos como uma condição para o desempenho do trabalho e tenham valor econômico para o empregado.

Por que o salário in natura é relevante?

Essa modalidade de remuneração permite que empresas e empregados diversifiquem as formas de pagamento, promovendo um equilíbrio entre necessidades práticas do trabalhador e custos operacionais do empregador.

No caso de empregados que vivem em locais de difícil acesso ou com pouca infraestrutura, como trabalhadores rurais ou embarcados, o salário in natura pode ser essencial para garantir condições de trabalho adequadas.

Para empregadores, essa forma de pagamento pode otimizar recursos e facilitar a logística, especialmente em setores onde o fornecimento de benefícios como alimentação ou transporte é indispensável.

Regras e limitações do Artigo 458 da CLT

O Artigo 458 estabelece critérios claros para o enquadramento do salário in natura:

  1. Caráter habitual: O bem ou serviço deve ser fornecido de forma regular e habitual.
  2. Valor econômico: O item deve ter um valor econômico efetivo e ser oferecido como parte da contraprestação pelo trabalho.
  3. Utilização pelo trabalhador: O bem ou serviço deve ser destinado ao uso pessoal do empregado, não sendo permitido incluir valores indiretos ou despesas da empresa.

A lei também impõe limites, como o teto de 30% do salário total para pagamentos in natura, garantindo que a maior parte da remuneração seja paga em dinheiro.

O que não é considerado salário in natura?

Nem todos os benefícios oferecidos pelo empregador são considerados salário in natura. O Artigo 458 exclui dessa definição:

  • Equipamentos de proteção individual (EPIs).
  • Ferramentas de trabalho.
  • Alimentação fornecida por programas de alimentação do trabalhador (PAT).
  • Auxílios para despesas de trabalho, como transporte para atividades externas.

Esses itens são considerados instrumentos de trabalho ou auxílios eventuais e não têm caráter salarial.

Vantagens e desvantagens do salário in natura

Vantagens:

  • Para os trabalhadores, oferece acesso a bens ou serviços essenciais, como moradia e alimentação.
  • Para os empregadores, reduz custos operacionais ao integrar benefícios diretamente no contrato de trabalho.

Desvantagens:

  • Pode limitar a liberdade do trabalhador em decidir como gastar sua remuneração.
  • Requer controles rigorosos para evitar conflitos trabalhistas ou interpretações equivocadas sobre a natureza do benefício.

Impactos nos direitos trabalhistas

Por integrar o salário, o valor do salário in natura é usado no cálculo de benefícios como férias, 13º salário, aviso prévio e FGTS. Isso protege o trabalhador, garantindo que sua remuneração real seja considerada em direitos futuros.

Por outro lado, a inclusão no salário aumenta a carga tributária para o empregador, já que o valor do benefício integra a base de cálculo de encargos como INSS e FGTS.

Diferença entre salário in natura e benefícios eventuais

O salário in natura tem caráter habitual e integra o pagamento pelo trabalho. Já os benefícios eventuais, como gratificações ou ajuda de custo, não têm essa obrigatoriedade e não integram o salário para fins legais.

Por exemplo: uma refeição oferecida esporadicamente em ocasiões especiais não é salário in natura. Já como alimentação fornecida regularmente e como condição de trabalho, sim.

O salário in natura é uma modalidade de remuneração que combina flexibilidade para as empresas e benefícios para os trabalhadores, mas exige cuidado na aplicação para atender às exigências legais. Quando bem estruturado, pode ser uma ferramenta eficiente para melhorar as condições de trabalho e otimizar recursos empresariais.

Entender as regras do Artigo 458 da CLT é essencial para empregadores que desejam utilizar essa modalidade, garantindo que ela seja um instrumento de valorização do trabalhador, sem comprometer a conformidade legal e a harmonia nas relações de trabalho.

 

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