Santarém: Lei impede que pessoas fiquem mais de 45 minutos em fila de banco, mas é descumprida
Especialista alerta para os direitos do cliente e dá dicas sobre como cobrar o cumprimento da lei municipal
Especialista alerta para os direitos do cliente e dá dicas sobre como cobrar o cumprimento da lei municipal
A cena de filas longas na frente de algumas agências bancárias da cidade de Santarém já se tornou comum. No entanto, e para esta situação específica, existe um respaldo jurídico que não permite que uma pessoa fique mais de 45 minutos em uma fila: a Lei municipal 17.911/2005. Diante da situação procuramos uma especialista em direito do consumidor para explicar como o cliente deve proceder em casos de descumprimento.
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A Presidente da Comissão de defesa e direitos dos Consumidores da OAB/PA Subseção Santaém, Cynthia Soares, explicou que o consumidor deve se munir de provas para cobrar os direitos.
“A primeira orientação é para que a pessoa tire foto da senha fornecida pela instituição bancária, caso o consumidor não receba a senha, deve registrar a hora de chegada na fila, até a hora do atendimento, por meio de fotos, vídeos, contatos de testemunhas”, orientou.
Todas as provas podem ser apresentadas no juizado especial de consumo, sem a necessidade de um advogado para ingressar com a ação.
“Esse cliente pode requerer uma indenização por dano moral pelo tempo que ele ficou na fila”, afirmou a especialista.
Ela ressalta ainda que a comissão ao qual ela representa já realizou uma fiscalização nas agências, onde foi evidenciado que a senha entregue na fila não tem identificação de horário, data e instituição e isso dificulta na hora de fazer a denúncia. Por esse motivo é indicado que o cliente faça esse registro.
Santarenos relatam espera de mais de seis horas do lado de fora da agência para conseguir atendimento. Esse é o caso do pescador Heber Bulhões, que foi até um banco para receber a parcela do benefício do Auxílio Defeso e esperou mais de 6 horas em pé até chegar a vez de receber o atendimento.
Ele conta que mora em uma comunidade distante e precisou sair de casa à uma hora da madrugada para chegar na agência da Caixa Econômica às 8 horas da manhã.
“Saí uma hora da madrugada de casa, peguei um barco, depois peguei um ônibus. Cheguei aqui já era 8 horas da manhã e estou até essa hora esperando, sem comer nada. Já são quase duas horas da tarde”, reclamou.
Heber relata que houve uma seleção na fila para quem iria receber o Auxílio Emergencial, mas quem foi para receber o seguro defeso foi orientado a permanecer esperando do lado de fora do banco. Alguns não aguentaram a longa espera e sentaram no chão ou nas sarjetas.
“A fila anda lentamente, tem muita gente esperando na mesma situação. Vou ter que pegar a balsa das 17 horas para voltar para casa e meu medo é de não conseguir receber e ter que voltar aqui”, preocupou-se.
Diversas pessoas que estavam na fila relataram insatisfação com a espera, que segundo elas, sempre foi longa nas instituições bancárias do município.
Uma ação civil pública foi movida pela Ordem dos Advogados Subseção Santarém contra as agências bancárias do município. A ação é fruto de uma de fiscalização conjunta entre OAB Subseção Santarém, Procon, Vigilância Sanitária e Ministério Público. Inicialmente foi tomada uma medida administrativa, onde os representantes foram chamados para dialogar sobre a melhora nos atendimentos.
“Entregamos os relatórios das fiscalizações e aguardamos um prazo de mais de seis meses para que as medidas fossem tomadas, mas isso não aconteceu, o problema agravou ainda mais. Não há outra alternativa se não entrar com a ação pública civil para se fazer cumprir os direitos da lei da fila e da prioridade”, disse Cynthia Soares.
Os representantes das agências alegaram que não possuem autonomia para solucionar o problema das filas, pois isso demandaria contratação de funcionários para atender o número de consumidores. “Algumas instituições necessitam fazer ampliações das suas estruturas físicas. Enquanto outras precisam locar novos espaços, ou construir novas agências pois o espaço já está bem limitado”, disse
Em nota, a Prefeitura de Santarém, por meio do Programa de Proteção de Defesa do Consumidor (Procon), informa que há uma lei municipal que garante o atendimento do usuário em agências bancárias em até 45 minutos, e ressalta que fiscalizações e procedimentos administrativos já foram tomados contra essas instituições. O Procon reforça que irá intensificar suas fiscalizações para verificar se as instituições estão agindo de acordo com a lei municipal.
Em nota, a Caixa Econômica informou que permanece realizando ações para melhorar o atendimento e evitar filas nas agências. A agência enfatizou que ampliou o número de empregados e colaboradores para fortalecer sua rede de atendimento, inclusive nas unidades que concentram grandes números de pagamentos de benefícios sociais, a fim de dar celeridade ao atendimento e oferecer um serviço de qualidade a todos os cidadãos.
A nota afirma também que em Santarém foram contratados 39 empregados em 2021 e, no estado do Pará, 341 empregados foram convocados entre os anos de 2021 e 2022.
A instituição enfatizou que atua com os cuidados para prevenir e cuidar da saúde e segurança dos seus empregados, colaboradores e clientes, adotando todas as medidas preventivas e sanitárias estabelecidas pelas autoridades competentes, priorizando o controle e mitigação dos riscos de transmissão da covid-19, o que limita a quantidade de clientes dentro das unidades.
A nota destacou que a Caixa assume papel estratégico ao viabilizar as políticas sociais do Governo Federal e a prestação de assistência à população que mais precisa, em especial no pagamento de benefícios sociais. Nesse momento, o banco está realizando o pagamento do Auxílio Brasil e do Abono Salarial para milhões de beneficiários.
Por fim, a nota indica que o banco possui canais alternativos de atendimento por meio do WhatsApp Caixa (0800 104 0104), do Internet Banking Caixa e dos aplicativos Caixa Tem, Habitação Caixa, DPVAT, FGTS e Auxílio Brasil, dentre outros (www.caixa.gov.br/atendimento/aplicativos).