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Região Norte exporta cerca de 25 bilhões de dólares em produtos, revela presidente da Apex Brasil

Em entrevista, Jorge Viana destaca a atuação da agência do governo federal na promoção das exportações brasileiras e os novos mercados emergentes, além de discutir os desafios econômicos e ambientais no comércio global

Jéssica Nascimento

Em entrevista ao Grupo Liberal, o presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Jorge Viana, revelou as estratégias da agência para impulsionar as exportações de micro e pequenas empresas brasileiras, especialmente no Nordeste e na Amazônia. Ele destacou a importância de programas como o "Exporta Mais", em parceria com o Sebrae, e o papel crescente do Pará na balança comercial do país. Dados do Ministério da Economia, analisados e divulgados pelo Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA CIN), apontam que, em 2024, a região Norte exportou US$ 29.633.386.377 bilhões. Só no Pará, as exportações totalizaram US$ 22.967.437.504 bilhões.


Viana também abordou os impactos das recentes políticas econômicas globais, como as medidas protecionistas dos Estados Unidos, e o potencial do Brasil em setores estratégicos como a bioeconomia, energia renovável e hidrogênio verde. O presidente da Apex ressaltou ainda a necessidade de avanços logísticos e de infraestrutura para otimizar o aproveitamento do potencial territorial do Brasil. A agência é vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) por meio de um contrato de gestão.

Como a Apex Brasil tem atuado para impulsionar a exportação entre micro e pequenos negócios, que ainda enfrentam muitas barreiras para acessar o mercado externo?

Então, a Apex foi criada em 2003 nesse modelo pelo presidente Lula no primeiro mandato dele, e o propósito é promover as empresas, os produtos brasileiros no mundo e atrair investimentos. Isso tem funcionado.  Mas há regiões no Brasil que ainda não cresceram tanto as exportações ou o número de empresas que exportam. 

Aí nós criamos o “Exporta Mais Nordeste”, “Exporta Mais Amazônia e Centro-Oeste.” Fizemos uma parceria com o presidente do Sebrae, o Décio Lima, para a gente envolver o Sebrae, que tem a maior expertise de lidar com micro, pequenas empresas e também MEI e a expertise da da Apex de trabalhar mercado externo, participar de eventos. A Apex no ano passado trabalhou com 21.000 empresas, quebrando todos os recordes. 54% dessas empresas eram micro e pequenas empresas.

Porque a gente não vai abrir mão de trabalhar com os grandes grupos econômicos do Brasil, mas a gente tem uma prioridade, que é aproveitar o talento do brasileiro, aquele que quer ser empreendedor e a gente vê se dá oportunidade para ele exportar. Inclusive temos um programa chamado “PayX”, que habilita em todos os estados empresas para que elas possam ser exportadoras. 

Quais são os principais desafios hoje para promover as exportações brasileiras, especialmente diante da concorrência internacional?

O desafio é um desafio bom, porque uma empresa que exporta tem que estar mais redondinha. Ela tem que estar bem ajustada. Ela remunera melhor seus colaboradores. Mas o importante é ter uma boa ideia, é procurar um Apex, é procurar um auxílio para poder entender como é que funciona o mercado internacional.

A Apex participa de 1000 eventos mais ou menos. Com todas as feiras internacionais nós temos um convênio com 52 setores da economia e vamos juntos. A gente põe dinheiro da Apex, eles põem dinheiro dos setores e a gente consegue levar a empresários. E isso nas diferentes áreas.

Por exemplo, agora nós fizemos o Web Summit em em Lisboa, que é um grande é um grande ecossistema de startups na Europa. E nós levamos 250 empresas - Apex, o Sebrae juntos e mais alguns outros parceiros - e foi um sucesso. A ideia nossa é de fato ficar fazendo o que eu chamo de busca ativa. 

Na Amazônia, no Nordeste, tem um potencial de crescimento das exportações muito grande. Agora mesmo na COP nós queremos mostrar um pouco do potencial que a Amazônia tem.  A  Apex vai botar uma exposição só com produtos que venham da bioeconomia da Amazônia.

Eu sou engenheiro florestal, fui governador do Acre, fui relator do Código Florestal novo no Senado e eu sei do que tô falando. O potencial é muito grande.

Então, tem o açaí que tá começando a ganhar mercado, você tem castanha do Brasil, você tem outros produtos, mas assim, é quase infinita as possibilidades de uso da bioeconomia nossa, fármacos, cosméticos, nesse mundo novo. Mas falta ter investimentos.

Eu falo sempre com o presidente do Banco da Amazônia, o Lessa, que está procurando dar uma guinada no banco pro banco priorizar esse tipo de investimento que trazem junto a sustentabilidade, que trazem junto a possibilidade da gente conservar a floresta e ganhar dinheiro com ela. 

O Pará tem ampliado a participação na balança comercial brasileira. Qual a importância estratégica do estado do Pará na pauta de exportação do país?

Olha, o Pará, inclusive, pelo seu gigantismo e até pela participação na exportação da região Norte, é que me alertou o quanto que os outros estados também podem buscar crescer. A gente exporta na região Norte mais ou menos 25 bilhões de dólares. Mas dois terços disso é o Pará. E uma menor parte é dividida pelos outros estados, porque o Pará tem a Vale do Rio Doce. O Pará tem um potencial já sendo explorado, mas também pode crescer muito.

Eu acho que nós estamos vivendo uma fase interessante no Brasil no governo do presidente Lula. Ele tá abrindo mercados. Nós abrimos mais de 400 mercados no mundo, fizemos 14 encontros empresariais com com o presidente Lula, no mundo, em países diferentes e tudo isso procurando criar mercados para produtos brasileiros, para empresas brasileiras. Essa é a missão da Apex. Eu acho que a região Norte tem no Pará um potencial enorme e tem outros que ainda nem começaram.

Eu mesmo no Acre, quando fui governador, a gente começou a trabalhar na construção da Estrada do Pacífico, criamos uma agência de negócios no Acre. E hoje o Acre tá aproveitando essa fase do governo do presidente Lula e fez um grande crescimento das suas exportações, no ano passado, por exemplo, porque é o estado mais perto da costa do Pacífico.

O Pará tem o Atlântico. Tem uma logística muito interessante, como tem o Amapá também, o próprio Amazonas, Roraima e Rondônia.  Rondônia, junto com Acre, tá surfando um pouco mais nessas saídas que agora começam a ser mais usadas que é a exportação passando pela Estrada do Pacífico que nós fizemos lá atrás.

O governo dos EUA têm anunciado diversas novas medidas econômicas e comerciais. Quais os possíveis impactos dessas ações para os exportadores brasileiros?

O impacto é para o mundo. O mundo tá de sobressalto. Hoje já é noite, nessa segunda-feira (7 de abril) na Ásia e já é avançado do dia na Europa. O que nós estamos vendo é a queda geral dos mercados de bolsa, todos impactados, porque nunca tinha alguém, ainda mais na maior economia do mundo, ter lançado um tarifaço de aumentar os custos das importações na maior economia do mundo, taxando todos os países. Aí não importa se o Brasil é só 10%. O mundo não tá precisando disso.

O mundo tá precisando de investimentos, de crescimento econômico, de geração de emprego, de produtos mais baratos para não ter inflação. Quando você adota uma medida dessa, você vai no sentido contrário. Contrário ao livre mercado, contrário a ter mais investimentos, contrário a ter maior produção. Então, tá todo mundo ainda de sobressalto, analisando. Nós da Apex estamos analisando.

Os Estados Unidos é um dos mais importantes parceiros comerciais para mim. É um dos melhores (parceiros) nossos. A gente tem, inclusive, um déficit comercial com eles de 7 bilhões. Exportamos US$ 40 bilhões para lá e eles exportam US$ 47 (bilhões) para cá para o Brasil, mas é tem que ir com muita calma, como tá indo o governo do presidente Lula. Tem que esperar, tem que ser parte da solução, ajudar, porque se isso for implementado, vai ser muito ruim para o mundo. Vai ser muito ruim uma guerra comercial, ainda mais tendo do outro lado a China, tendo a Ásia.

A Ásia hoje é o centro do PIB do mundo. É o centro do comércio do mundo. A China é o país de maior indústria no mundo e uma guerra comercial agora vai prejudicar muito a melhora que a gente tanto precisa no mundo, que tem que enfrentar a crise climática, que tem que enfrentar as desigualdades e abrir mais oportunidade para as pessoas prosperarem. Eu acho que nessa crise criada pelo governo Trump, se ela for efetivada, o mundo vai sofrer e o cidadão vai sofrer.

O Brasil tem diversificado os parceiros comerciais. Quais são os novos mercados que vêm se abrindo ao Brasil e onde estão as maiores oportunidades?

Então, o Brasil nesses dois anos voltou a disputar o mundo. Nós mesmo da Apex fizemos esses 14 encontros com o presidente Lula, junto com Itamaraty, junto com o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) junto com o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária) e foram quase 400 mercados abertos. Porque nós temos um movimento interno de otimismo de quem quer exportar e tem assim uma maior competitividade para os produtos brasileiros no mundo.

Aí vai do petróleo, que a gente é grande exportador de petróleo, minério de ferro, que a gente é grande exportador de minério de ferro, o agronegócio e agora o Brasil está virando um endereço também dessa nova indústria, porque o Brasil tem uma matriz energética renovável muito importante e o mundo precisa de energia renovável e quem tem é o Brasil. 

O mundo precisa de alimentos e quem tem potencial de crescer a produção de alimentos e tem crescido é o Brasil. O mundo precisa de uma nova indústria. O Brasil é o endereço dessa nova indústria. Então, assim, o Brasil vive um momento muito bom nesse governo do presidente Lula e eu eu espero que a gente viva aí um período de grande crescimento nas exportações, no saldo na balança comercial.

Nós temos quase US$ 350 bilhões de reservas. Isso dá um lastro para o Brasil enfrentar qualquer crise e tivemos um saldo comercial na balança do ano de 2023 e 2024 de 90 e poucos bilhões no primeiro ano e agora 70 bilhões no segundo, que é invejável para países mesmo grandes como o Brasil.

São recordes históricos, que só um governo um governo comprometido em dar suporte, em apoiar o setor produtivo brasileiro, como é o do presidente Lula, que consegue.

A autorização de pesquisas na Margem Equatorial pode abrir uma nova frente energética. De que forma isso pode contribuir para as exportações brasileiras no futuro? 

O mundo tá discutindo o que fazer porque o mundo precisa de mais energia para poder processar toda a área de inteligência artificial. Precisa para essa nova nova indústria que vende, produz semicondutores, componentes que usam minerais raros, minerais críticos, que não eram explorados anteriormente. 

O Brasil tá em tudo. Porque tem reservas, tem geração de energia, inclusive tá virando o endereço dos “data center”, porque os “data center" só podem se instalar onde tem muita energia. É o caso do Brasil. O hidrogênio verde precisa de muita energia para ser trabalhado. Então, tudo isso tem no Brasil um ponto de referência. É só sabermos aproveitar, seguir trabalhando estrategicamente isso, que eu acho que podemos ter um período aí longo de prosperidade no nosso país. 

Como o Brasil pode agregar mais valor aos produtos exportados, especialmente na área de alimentos, energia e recursos naturais? 

Nós vamos provavelmente trabalhar com hidrogênio verde, fornecer energia para os “data center”. Isso é uma agregação enorme de valor. Mas os produtos agrícolas, por exemplo, brasileiros, as empresas do Brasil estão no mundo inteiro. Hoje mais de 30% de tudo que é consumido de proteína animal de aves são empresas brasileiras ou produtos brasileiros. Mais de 20% da carne bovina consumida no mundo, que é proteína, também tem a ver com as empresas brasileiras que processam essas carnes e a mesma coisa com a carne suína, que é em torno de 14%. 

Sobre o processo de nova indústria, que nós estamos fazendo, a indústria brasileira voltou a ter um significado importante. Enquanto no governo passado, fechou o Ministério da Indústria, estava vendendo o patrimônio brasileiro como Embraer, agora a Embraer é uma das empresas que mais vende, que mais fornece avião no mundo e a Apex tá ajudando, o presidente Lula tá ajudando. 

É isso que a gente pode traduzir, porque os aviões da Embraer carregam o mais complexo sistema de tecnologia e inovação. São três grandes empresas no mundo. O governo passado estava vendendo a Embraer. E aí nós tivemos que voltar atrás. Agora a Embraer está sendo fortalecida. O preço que queriam vender vale um contrato que ela tem de venda com um país, por exemplo, nesse período agora do governo Lula.

O senhor acredita que o Brasil aproveita plenamente seu potencial logístico e territorial para exportar? O que ainda precisa melhorar nesse sentido? 

Não. O Brasil tá tendo crise de logística hoje. A gente precisa mais de ferrovia, mais estrada, mais esporte, mais armazenagem, porque o sucesso do Brasil é tão grande que precisa investir mais, que é isso que está se tentando fazer para poder a gente usar melhor o potencial.

Nós temos 40 milhões de hectares que foram desmatadas nesses anos e não estão sendo utilizadas, mas que agora tem um plano do governo, do MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), de fazer o aproveitamento desses 40 hectares. Ou seja: sem desmatar mais a gente pode praticamente até dobrar a produção de alimentos no Brasil para os brasileiros e para a exportação. 

Quais são os setores brasileiros com maior potencial de crescimento nas exportações para os próximos anos? 

Nós estamos vivendo a nova indústria e a nova indústria é que tem um grande potencial porque o mundo mudou. No caso do aproveitamento de energia sustentável, é um espaço que a gente tem. Quando você fala de hidrogênio verde, vai se exportar isso. É possível. Tem potencial para exportar. 

O Brasil é o segundo endereço hoje dos investimentos do mundo. Então, significa dizer que o Brasil tem segurança jurídica, que o Brasil tem uma boa governança e tem também um atrativo do ponto de vista das matérias primas e de logística para isso e, por outro lado, também na parte toda da segurança alimentar. O mundo ainda busca ter segurança alimentar. O Brasil sempre é procurado para ser um dos ajudadores nisso junto com os Estados Unidos, com a com a própria Europa. 

Como a Apex Brasil enxerga o papel do país no comércio global diante das transformações ambientais, geopolíticas e tecnológicas em curso?

O que a gente vê é que esse modelo de produção e consumo que vem desde a Revolução Industrial feita lá na Inglaterra e que todo mundo entrou nele, é um modelo que tem problemas do ponto de vista social, porque o mundo segue desigual e injusto. Ele tem problema econômico, porque o mundo segue desigual do ponto de vista econômico - os países muito ricos; outros, muito pobres. E ele tem um sério problema - ele não tem sustentabilidade ambiental. Ele botou em risco a vida do planeta.

Foi com esse modelo que nós descobrimos que o mundo vive uma crise climática, que o mundo vive uma mudança na temperatura no planeta afetando o clima, afetando os eventos climáticos, fazendo ter seca onde não tinha seca, ter cheia onde não tinha cheia e os eventos climáticos mais intenso e mais repetidos. Então, esse modelo fracassou.

E o modelo novo? Nós temos que descobrir. Tem que ser um modelo sustentável de usar energia sustentável para poder não carbonizar o planeta e ao contrário, fazer a descarbonização. A gente tem que fazer uma modelagem de economia circular, a gente tem que trabalhar a ideia de ter inclusão social, de ter sustentabilidade econômica.

Ao mesmo tempo, esse modelo tem um desafio - sequestrar carbono pra gente evitar que a temperatura do planeta, que já passou de um 1,5º, possa parar aí, quem sabe até regredir. E o Brasil tem um papel importante. A gente tem a maior floresta do planeta, a gente tem povos originários, tem o maior programa social implementado no governo do presidente Lula. Reduziu bastante o desmatamento.

Eu acredito que a gente tem que pôr fim ao desmatamento ilegal e aí o Brasil pode sim, com sua matriz energética, com o seu povo e com o potencial que tem, porque é um país que tem a maior biodiversidade do planeta, ajudar nessa nova economia que o mundo precisa descobrir, entrar e fazer acontecer para deixar de pôr em risco a vida no planeta.








 

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