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Preço dos ovos dispara em 2025 e impacta negócios e consumidores no Pará

Alta acumulada já ultrapassa 12% no último ano, pressionando padarias, restaurantes e o orçamento das famílias

Gabriel da Mota

Os paraenses seguem pagando mais caro pelos ovos de galinha, um dos produtos mais consumidos no estado. De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Pará, os preços aumentaram mais de 5% apenas no início de 2025, superando a inflação calculada para o mesmo período (4,87%). A alta está ligada a fatores internacionais e locais, incluindo o impacto da gripe aviária, oscilações climáticas no Brasil e a priorização das exportações.  

Segundo Everson Costa, supervisor técnico do Dieese Pará, a produção global de ovos tem sido prejudicada por diversos fatores. “A gripe aviária levou ao abate de milhares de aves no exterior, reduzindo a oferta e pressionando os preços. No Brasil, embora não tenhamos registrado casos da doença, enfrentamos calor extremo e até mesmo frio intenso em algumas regiões, o que também impactou a produção. Essa combinação de fatores foi o estopim para que os preços subissem tanto no mercado interno quanto no externo”, explica.  

Com o Brasil sendo um dos maiores exportadores de alimentos, a produção nacional priorizou o mercado externo, onde os ovos podem ser vendidos a um valor mais alto.

“O mercado internacional paga mais do que o interno, então a produção brasileira tem sido direcionada para fora. Enquanto isso, a oferta segue reduzida e a demanda interna se mantém alta, fazendo com que os preços continuem pressionados”, destaca Costa.  

Impacto direto para comerciantes e consumidores  

Empresários do setor alimentício enfrentam dificuldades para absorver os reajustes. Elisângela de Carvalho, sócia-proprietária de uma rede de padarias em Belém, relata que os custos com ovos adquiridos com um fornecedor local dispararam aproximadamente 20% do ano passado para cá. “Entre novembro e dezembro, gastávamos cerca de R$ 2.820 por semana, com oscilações de no máximo 2% a 2,7%. Agora, estamos gastando R$ 3.420 por semana. É um impacto pesado no orçamento”, afirma.

Apesar disso, os reajustes nos preços dos produtos vendidos não conseguem acompanhar a alta. “Não conseguimos repassar integralmente o aumento para o cliente, senão corremos o risco de perder vendas. O ovo é um insumo essencial, usado em praticamente todos os nossos produtos, até mesmo nos que não levam ovos na massa, mas precisam ser pincelados. Buscamos reduzir custos em outras áreas para evitar um repasse muito alto”, completa. No empreendimento de Elisângela, cerca de 80% das receitas produzidas usam ovo.

Além dos comerciantes, os consumidores paraenses também sentem o impacto. Segundo Pablo Reis, economista e conselheiro do Corecon-PA/AP, a alta dos ovos pesa mais para as famílias de baixa renda. “Os revendedores repassam os aumentos para o consumidor final, afetando diretamente o orçamento doméstico. Muitas famílias precisam reduzir o consumo ou buscar alternativas mais baratas, mas, como os ovos ainda são uma das proteínas mais acessíveis diante da alta da carne e do frango, a demanda segue alta”, explica.  

Para Reis, políticas públicas poderiam amenizar o problema.

“O governo poderia aplicar incentivos ao setor produtivo, como subsídios e linhas de crédito, para ajudar na estabilização dos preços. Além disso, uma regulação temporária das exportações ajudaria a garantir o abastecimento interno e evitar novos aumentos bruscos”, sugere.  

Números da alta  

Os levantamentos do DIEESE/PA mostram que os preços dos ovos acumulam alta expressiva nos últimos meses:  

- A dúzia de ovos da marca Gaasa subiu 6,50% nos últimos 12 meses, passando de R$ 12,00 (fev/24) para R$ 12,78 (fev/25).  

- A bandeja com 30 ovos da marca Top apresentou aumento ainda maior: 12,73% no mesmo período, saindo de R$ 26,55 para R$ 29,93.  

- Nos primeiros dois meses de 2025, os reajustes já somam 5,45% para a dúzia e 3,24% para a bandeja.  

- O DIEESE já identificou bandejas sendo vendidas acima de R$ 34,00 em alguns supermercados de Belém.  

Os dados reforçam que os preços seguem tendência de alta, com impactos diretos na economia local. “O ovo é um produto essencial e seu aumento afeta diversos setores. A previsão é de que os preços continuem elevados enquanto a oferta não se estabilizar”, finaliza Everson Costa.

Economia