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Preço do gás de cozinha aumentou quase 40% em dois anos na Grande Belém

Política de preços dolarizada da Petrobrás é apontada como principal vilã, mas empresários e consumidores estão sem expectativa de que o Governo Federal faça mudanças

O Liberal

Só entre março de 2020 até dezembro de 2021 o preço do gás de cozinha teve uma alta de 39,44% na Grande Belém, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Na capital paraense, o produto saiu de R$ 77,45 em março de 2020 para R$ 108,28 em dezembro de 2021.

Apenas no ano de 2021, a alta registrada foi de 35%, mais do que o triplo da inflação registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo no mesmo ano. O aumento faz parte de um fenômeno inflacionário observado em todo o Brasil, já que o gás de cozinha saltou de um preço médio de R$ 69,74 em janeiro de 2020, portanto antes da pandemia de covid-19, para R$ 102,27, na primeira semana de fevereiro do ano de 2022.

Dificuldades financeiras

Adriana Brito que nunca mais viu o valor do gás de cozinha abaixar e que ela já perdeu as esperanças do preço ficar mais acessível. Ela vende cafés da manhã em uma barraca na travessa Estrella, no bairro da Pedreira e tinha três carrinhos antes da pandemia começar. Mas precisou se desfazer de dois para segurar as dívidas e hoje vive das tapiocas e sanduíches que vende para os transeuntes, todas as manhãs.

"O preço atualmente está R$ 104. Ainda me dão um descontinho por ser vendedora de rua. Antes da crise começar não passa de R$ 90. Tento ficar com o mesmo fornecedor mas às vezes vou lá para o posto de gasolina na Sacramenta. Costumo pesquisar, vou andando. Às vezes saio daqui para comprar lá, mas não dá para achar muito mais barato que R$ 104", conta ela.

Efeito dominó

Tantos aumentos no preço do gás e nos outros custos da barraca impactaram ainda o preço dos alimentos que elas servem. Adriana lembra que os clientes percebem e reclamam, mas ela busca explicar a eles que se dependesse dela os preços não aumentariam.

"Sempre justifico. Quando não é o gás é o pão que aumenta. Sempre só aumenta. Chego 6h e fico até 12h. Antes da pandemia o movimento era bom mas agora apertou", lamenta ela, que tem ajuda do filho que trabalha junto com ela. 

Na opinião dela, o Governo Federal deveria ajudar as pessoas assalariadas a bancar o gás de cozinha já que ele é essencial para garantir a segurança alimentar dos brasileiros. Kátia Moreira concorda.

Ela tem um pequeno restaurante também no bairro da Pedreira e conta que o impacto do gás de cozinha alterou as finanças tanto da empresa dela quanto dos gastos domésticos. 

"O governo deveria ajudar mais. Aqui no estadual já tem esse auxílio mas deveria ser para todos os assalariados. É um grupo pequeno que recebe essa ajuda. Em média sai por R$ 110 o gás. Um roubo. Aqui no restaurante dura de 15 a 20 dias um. Você tem que estar cortando coisas para pagar tudo. Netflix e Sky eu fui cortando para tirar de um e jogar no outro, chegar ao fim do mês com tudo pago. O gás é de primeira necessidade. Não sei o que está acontecendo com a nossa economia. Dizem que está crescendo, mas não sei onde", afirma.

 

 

"Problema é a política de preços", diz revendedor

Francinaldo Pereira é o presidente do Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás Liquefeito de Petróleo e afirma que a política de preços dolarizada da Petrobrás é o que mais pesa na cálculo total, especialmente por conta da desvalorização do real frente a moeda estadunidense nos últimos dois anos. Ele lembra que apenas 30% do gás consumido no Brasil é importado, enquanto outros 70% são de fabricação nacional. 

"Nós somos contra essa política de reajuste de preços da Petrobrás. A justificativa é de que parte desse combustível é adquirido no exterior e que a Petrobrás precisa fazer essa indexação para gerar lucro aos acionistas do mundo todo, já que é uma empresa de capital aberto. Isso só atende os interesses dos investidores, que não deixam de ser legítimos, mas para o mercado interno é grave. Mas pelo visto isso não vai ser modificado. Defendemos uma abertura maior no mercado de distribuição, pois hoje temos três empresas com mais de 92% do mercado. É um oligopólio. Não havendo competição, lógico que as margens ficam altas e os consumidores sofrem. Do ponto de vista regulatório, não temos a Agência Nacional do Petróleo com poder de fiscalização na revenda e o mercado clandestino tomou conta do Pará e do Brasil. Já fizemos várias denúncias, mas nunca obtivemos resposta", afirma. 

Economia