Ações levam educação sexual e saúde para jovens e mulheres do Pará
Objetivo é minimizar as dificuldades enfrentadas, evitando doenças e gravidez indesejada
A falta de acesso a políticas públicas de qualidade produz diversos efeitos negativos na população. Em 2016 – último dado disponível – o Pará era o Estado brasileiro com o maior índice de gravidez entre jovens de 10 a 19 anos, de acordo com dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). O levantamento mostra uma média de cerca de 2,6 mil partos por mês dentro da faixa etária no Pará. O governo estadual não se manifestou sobre o assunto.
Já no Brasil como um todo, há uma média de 235 mil gestações não planejadas de mulheres jovens por ano. Do total de partos no SUS, 20% ocorre em meninas com idades entre 10 e 19 anos, e os estados do Norte e Nordeste têm índice superior à média nacional – a taxa é de quase 30% no Pará, por exemplo. As regiões Sul e Sudeste apresentam percentual de partos na adolescência mais próximo à média brasileira.
Na contrapartida, o município de Belém alcançou uma redução de 4,2% nas taxas de gravidez entre a população de 10 a 19 anos, no período de 2015 e 2016, segundo dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc). Nacionalmente, o índice de gravidez na adolescência diminuiu em mais de 11% no mesmo intervalo.
A enfermeira Hallessa Pimentel, que é professora do curso de Enfermagem da Universidade da Amazônia (Unama), explica que há diversas problemáticas envolvendo a gravidez na adolescência. Entre elas, estão os impactos fisiológicos, já que, em muitos casos, além das mudanças no corpo, a mulher pode adquirir outras doenças durante os nove meses de gestação.
Também há o impacto psicológico de uma gravidez indesejada e possíveis complicações. "Essa adolescente pode contribuir para o número de abortos, evasão escolar, aumento da mortalidade neonatal, aumento da mortalidade materna, já que procura clínicas clandestinas ou mesmo remédios para interromper a gravidez, e até no aumento do índice de suicídio, porque muitas meninas pensam que a vida acabou quando descobrem", destaca a profissional.
Antes da pandemia do novo coronavírus, todos esses temas eram tratados dentro das escolas, nas atividades de extensão desenvolvidas pelos alunos do curso de Enfermagem da instituição. As discussões ocorriam por meio de debates, palestras, rodas de conversa, vídeos, folders informativos, dinâmicas e até jogos, para deixar o aprendizado mais lúdico. Outros temas abordados eram sobre educação sexual, como os métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis e o reconhecimento de cada uma, a vacinação contra infecções e até o ciclo menstrual.
"Geralmente, falamos sobre tudo isso com alunos do ensino médio, que é uma idade em que eles estão na puberdade e começam a pensar em ter relações sexuais. A aceitação é muito boa porque são jovens falando sobre isso e não utilizamos termos muito técnicos", diz. Por outro lado, Hallessa afirma que um dos maiores desafios é enfrentar a resistência de pais e responsáveis, assim como de educadores, na hora de tratar sobre o assunto. "É um tabu. Precisamos levar o tema para esses ambientes, com profissionais. Outra dificuldade é fazer as jovens perceberem que precisam buscar os serviços de saúde, como as consultas, exames e vacinações. Muitos pais não falam sobre isso, mas é importante", declara a enfermeira.
Comunicação aberta entre jovens, família, escola e sociedade
A Prefeitura de Belém é parte importante no processo de redução no índice de gravidez na adolescência, a partir do trabalho realizado pelas equipes multidisciplinares das Unidades de Saúde, o Programa Saúde na Escola (PSE) e o Projeto Viva Melhor Sabendo Jovem. Essas atividades são canais de comunicação aberta entre os jovens, família, escola e sociedade, trabalhando temas como uso abusivo de álcool e outras drogas, cultura da paz, participação juvenil, direitos sexuais e reprodutivos, acesso aos métodos contraceptivos e de proteção individual, saúde sexual, saúde reprodutiva, caderneta do adolescente, diversidade e cidadania.
Além disso, foram realizadas ações de promoção, prevenção e diagnóstico de doenças sexualmente transmissíveis, além de capacitações para os servidores das Unidades de Saúde, favorecendo o acolhimento dos jovens e, consequentemente, a adesão aos programas ofertados.
"A Secretaria de Saúde de Belém planeja continuar o trabalho de orientação aos adolescentes quanto os riscos e consequências de uma gravidez precoce, envolvendo as famílias, comunidades, serviços e profissionais de saúde e educação, e ampliar o acesso às ações e aos insumos sexual e reprodutivo aos adolescentes", informou a Prefeitura à reportagem.
Projeto possibilita atendimento a mulheres do Marajó
Minimizar as dificuldades enfrentadas pelas mulheres da região da ilha do Marajó é o principal objetivo do Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA), que entregou, na última segunda-feira (19), para o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Pará (Cosems-PA), um conjunto de equipamentos para a montagem de seis salas de telemedicina, visando o atendimento de mulheres da região.
Com investimentos de US$ 5 mil, os itens incluem televisão, notebooks e acessórios, a partir dos quais os profissionais de medicina especializados em ginecologia e obstetrícia poderão atender à distância cerca de 80 mil mulheres em idade fértil, dos municípios de Afuá, Anajás, Bagre, Breves, Melgaço, Salvaterra e Santa Cruz do Arari.
A oficial de Programa para Segurança de Insumos em Saúde Sexual e Reprodutiva do UNFPA, Nair Souza, diz que a prioridade do projeto é apoiar o fortalecimento dos serviços de saúde reprodutiva, garantindo acesso aos serviços e informação qualificada. O Fundo é a agência de desenvolvimento internacional da Organização das Nações Unidas (ONU) que trata de questões populacionais. Desde sua criação, em 1967, ele tem sido um ator importante nos programas de desenvolvimento populacional relacionados com os temas de saúde sexual, reprodutiva e igualdade de gênero.
O Cosems contratou duas médicas, ginecologista e obstetra, e assegurou a contratação do serviço de internet banda larga para realizar as teleconsultas. As gestões dos municípios participantes do projeto também se comprometeram a fornecer espaços para estruturar a sala de telemedicina, com mesa, cadeiras e profissionais para apoiar a ação.
Presidente do Cosems, Charles Tocantins garante que esse momento vai melhorar o sistema de saúde do Marajó. “Esse é um avanço muito grande com a tecnologia, principalmente nesse momento de pandemia, que limitou muito a questão presencial”, diz.
O Conselho é uma entidade sem fins lucrativos, que tem o objetivo de representar os secretários municipais de saúde do Pará junto às instâncias institucionais do Sistema Único de Saúde (SUS). Por meio do Cosems, o gestor municipal garante espaço e poder de decisão perante o Conselho Estadual de Saúde e Comissão Intergestores Bipartite. O órgão oferece ações de políticas institucionais e uma série de atividades e serviços, dos quais a mais importante é a atualização constante sobre os assuntos deliberados pelas instâncias do SUS, assim como o acompanhamento de projetos que representem recursos financeiros para os municípios.
O projeto envolvendo o UNFPA e o Cosems é intitulado “Assegurando a continuidade de serviços de saúde reprodutiva dentro do contexto da pandemia da covid-19 na ilha do Marajó - Pará - Amazônia Legal - Brasil”. Além dos equipamentos, já foi feita a entrega de uma primeira remessa de kits contendo insumos de higiene pessoal e haverá a entrega de outra remessa de kits e métodos contraceptivos, doados para as mulheres da região. Além dos kits, serão entregues ainda os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para profissionais de saúde que atuam no serviço da atenção básica.
Também está prevista no projeto a produção de aprendizado por meio de webinários com profissionais do meio acadêmico e dos serviços de saúde de outras regiões do país, para construir o diálogo e o conhecimento sobre temáticas associadas à saúde reprodutiva e possibilitar a produção de um material informativo, que será direcionado para as mulheres da ilha do Marajó.
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