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Consumidor apela para parcelamento das contas

Queda nos juros favorece o parcelamento, por isso, 60% estão endividados

Elisa Vaz com informações de Fecomercio-PA

Seis a cada dez consumidores paraenses fecharão o ano endividados. De acordo com os números da Federação do Comércio do Pará (Fecomércio-PA), no início deste mês, o percentual de argolados já alcançava 63,2%, sendo que, em dezembro do ano passado, este percentual fechou em 54,1% da população economicamente ativa do  estado. Isso representa uma alta de 9,1 pontos percentuais (pp), segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

No comparativo com o mês anterior, em novembro deste ano, também houve alta, embora menor, de 0,8 pp, já que o índice era de 62,4% do total de famílias do Pará. Por outro lado, o nível de inadimplência no Estado caiu de 27,7% em dezembro de 2018 para 23,7% um ano depois. De acordo com a assessora econômica da Fecomércio, Lúcia de Andrade, os números significam que os consumidores fizeram mais dívidas neste ano, por conta das compras parceladas.

“O crescimento das taxas de endividamento nos dois anos, variando de 54,1% para 63,2%, é reflexo, em grande parte, do aumento das compras, sobretudo as parceladas, em 2019. Como a pesquisa foi realizada entre os últimos 10 dias de novembro e o início de dezembro, a tendência é que a taxa aumente com as compras de Natal”, pontua a especialista.

Um dos motivos que contribuiu para esse crescimento de compras neste ano foi a queda da taxa de juros Selic – mínima que regula o mercado financeiro –, que atingiu o nível mais baixo da história, em 4,5%. Isso refletiu, segundo Andrade, nos juros oferecidos ao consumidor. “Mesmo que as taxas finais cobradas na ponta estejam elevadas, estão em níveis inferiores aos cobrados nos anos anteriores. Também houve a liberação dos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Esses dois fatores formaram uma conjuntura mais favorável no final de 2019 e motivaram os consumidores para as compras. Assim, a taxa de endividamento é maior porque houve expansão na demanda, com compras parceladas”, explica a assessora econômica.

No que diz respeito à redução da inadimplência de 27,7% para 23,7% no intervalo de um ano, além dos fatores já citados, o que contribuiu para o índice mais baixo foi o fato de ter havido menos compras no ano passado. “No início de 2019, o endividamento era menor, de 52,6%, isso favoreceu para o decréscimo da inadimplência na comparação anual. No entanto, são 23,7% inadimplentes, e os 14,7% que afirmaram que não conseguirão quitar as dívidas atrasadas em até 30 dias são indicadores de que, se não houver controle dos gastos com compras a prazo e bom planejamento financeiro, a capacidade futura de demanda dos consumidores ficará prejudicada”, argumentou Andrade.

É o caso da bancária Elizandra de Oliveira, de 47 anos. Quando começou a trabalhar, ela perdeu o controle dos gastos e entrou em uma 'bola de neve' de endividamento. Não conseguia pagar os débitos em aberto e nem as contas fixas, e acabou ficando com o nome sujo. "Me deixei levar pelo dinheiro que ganhava todo mês e fui passando muitas despesas no cartão de crédito. Quando vi, não conseguia mais pagar nada", relembrou. Depois de algum tempo endividada, Elizandra decidiu buscar cursos de educação financeira, para controlar seu orçamento. Hoje, gasta com muito cuidado e é organizada financeiramente.

Quanto ao tipo de dívida, as mais frequentes entre as famílias que recebem mais de dez salários mínimos são com cartão de crédito (88,7%), seguido de carnês (17%), crédito pessoal (11,3%), cheque especial (9,4%) e financiamento de carro (5,7%). Os consumidores com rendimento de até dez salários mínimos têm mais dívidas com cartão de crédito (72,9%), carnês (20,9%) e crédito pessoal (15%).

O endividamento e a inadimplência são mais elevados entre as pessoas de menor poder aquisitivo. De acordo com a pesquisa, dos 63,4% endividados que se encontram na faixa salarial de até 10 salários mínimos, 25,1% estavam com contas em atraso e, destes, 16,4% não conseguiriam colocar as dívidas em dia nos próximos meses. Já nas famílias com renda acima de 10 salários, os indicadores eram de 10,5% inadimplentes e 3,5% que continuariam com atraso nas contas.

Ainda de acordo com a assessora financeira, Lúcia de Andrade, embora, neste ano, os consumidores estejam comprando mais que em 2018, os índices ainda estão abaixo do desejado. A Pesquisa de Intenção de Compras do Consumidor mostrou um índice de 85,2 pontos, o que caracteriza insatisfação com o que desejam comprar. Na metodologia da pesquisa, o índice varia de 0 a 200 pontos, sendo abaixo de 100 pontos insatisfação e 200 pontos, o máximo a ser alcançado. O estudo também indicou que estão mais satisfeitos e mais propensos a consumir do que em dezembro do ano passado, quando o índice registrou 71,7 pontos.

Para que haja recuperação econômica em 2020, segundo a especialista, é necessário mais planejamento financeiro, elevação contínua da produção, do emprego e da renda. Isso porque o desemprego se reflete na capacidade de consumo e, consequentemente, em limitações de vendas. “Os problemas da conjuntura econômica nos influenciam na renda disponível, nas condições de renegociações e para obter novos créditos e alternativas para quitar as dívidas”, declara Andrade.

Tipos mais frenquentes de dívidas entre as famílias que recebem mais de dez salários mínimos

Janeiro a dezembro de 2019

- Cartão de crédito (88,7%);

- Carnês (17%);

- Crédito pessoal (11,3%);

- Cheque especial (9,4%);

- Financiamento de carro (5,7%).

Economia