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Oito em cada dez empreendedores do Pará são negros

Número divulgado pelo Sebrae ultrapassa 1,01 milhão de pessoas no estado, mas desafios ainda são latentes e urgentes de serem combatidos

Camila Azevedo

No Pará, oito em cada dez empreendedores são negros - esse número ultrapassa 1,01 milhão de pessoas. Em relação ao total da população economicamente ativa, o estado possui a maior taxa de afroempreendedorismo do país, chegando a 16% do total da população ativa paraense. Os dados fazem parte de um estudo divulgado nesta terça-feira (19) pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e representam a necessidade de cada vez mais inserir essa parcela da população na economia.

Segundo a instituição, há um crescimento na quantidade de negros que empreendem. O levantamento teve como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc/IBGE) e analisou a evolução do empreendedorismo por raça/cor no Brasil e regiões. Os números são do último trimestre de 2023. No cenário nacional, o afroempreendedorismo representa 52,4% dos mais de 30 milhões de donos de negócios no país, totalizando 15,6 milhões de empreendedores.

Entre eles, está a paraense Eliana do Amor Divino, de 59 anos. Moradora de Ananindeua, ela empreende desde 2014. Tudo começou com um curso de bijuterias em cerâmica na Fundação Curro Velho, em Belém. Na época, a empreendedora conta que vendia apenas para pessoas próximas. “Porque eu ainda não fazia do jeito que queria. Então, comecei a me interessar, fiz mais oficinas. Só que eu queria me identificar, mostrar a arte que eu estava aprendendo”.

Foi quando Eliana expandiu a ideia para pesquisar simbologias africanas, como a adinkra, para colocar nas bijuterias que eram produzidas. “Fui fazendo as peças e começando a empreender e participar de eventos. Tinha que pagar, mas fui mesmo assim, metendo a cara e buscando ser reconhecida como empreendedora. No começo, foi difícil. Comecei a ir para a praça, colocar tecido no chão e vender. O negócio veio como uma alternativa para mim, eu não tinha ocupação”, diz.

Além do uso africano nas peças, Eliana, que é dona da Li Divino Acessórios em Cerâmica, faz traçados marajoaras nos produtos. O lucro, no entanto, não é muito alto, mas a empreendedora afirma que “é o suficiente para manter”: as vendas aos domingos na praça da República geram entre R$ 400 e R$ 500 por mês, dinheiro somado a outros pontos estratégicos que ela busca, como um coletivo de mulheres negras de belém. “Depende do movimento, tem domingo que não vendo, tem domingo que vendo bem”.

Desafios

A falta de apoio e financiamento de instituições públicas para a manutenção do empreendimento é o principal ponto citado como desafio por Eliana - ela participa de feiras e conta com fontes como o Sebrae, por exemplo, para expor os produtos. “A gente vai levando, não desiste. Pretendo continuar, porque o trabalho de fazer essa produção aumenta a nossa autoestima, ocupa a nossa mente… Eu já dei oficinas para alunas e ajudei pessoas a ter fonte de renda através dos acessórios em cerâmica”, completa a empreendedora.

População negra tem dificuldades a mais, afirma Sebrae

Os empreendedores negros chegam a 19,8% do total da população negra do Pará. Mas essa quantidade ainda enfrenta dificuldades acentuadas para manter os negócios, como acesso a crédito e orientação mais direcionada para seu segmento. Alexandre Alves, coordenador estadual Programa Pluralidade, do Sebrae, iniciativa que visa alavancar a geração de negócios para essa parcela da população, afirma que há uma necessidade de tornar o grupo cada vez mais valorizado.

“O Sebrae atua com esse público gerando negócios e tentando trazer competitividade para a gestão empresarial do público. A visibilidade das redes sociais tem tornado o afroempreendedorismo mais evidente. A gente consegue ter uma visão mais geral de quem nós somos, como atuamos e onde estamos, porque, querendo ou não, isso é uma fonte de receita para uma família de pessoas pretas”, finaliza Alexandre.

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