MENU

BUSCA

Mercado de flores em Belém gera faturamento anual de até R$ 200 mil, segundo produtores

O setor é fonte de renda extra para famílias e vêem mais oportunidades com a valorização da biodiversidade amazônica.

Gabi Gutierrez

O mercado de flores e plantas em Belém tem se consolidado como uma fonte significativa de renda para pequenos produtores locais, com faturamentos anuais que podem alcançar até R$ 200 mil, conforme revelado por agricultores da região. A crescente demanda por flores ornamentais e plantas tropicais tem atraído cada vez mais consumidores, não só pela estética, mas também pelo impacto positivo que essas plantas têm na saúde e bem-estar das pessoas. As características únicas da flora local têm atraído tanto os mercados de decoração quanto aqueles interessados na sustentabilidade e na preservação ambiental.


O engenheiro florestal e agricultor João Ricardo Sena, de Marituba, está há mais de 30 anos no setor e observa a evolução do mercado. “Durante todos esses anos, vi o mercado de flores se transformando. Há 30 anos, trabalhávamos com plantas mais simples, mas o que vemos hoje é uma grande valorização das plantas nativas e tropicais da região”, conta Sena. Ele destaca que a biodiversidade da floresta amazônica é um dos maiores diferenciais do mercado local. “A flora da Amazônia é rica e única, temos espécies como o jatobá, a castanha-do-pará e o mogno, que têm grande procura, especialmente para o uso em projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas”, explica.

Plantas raras e exóticas têm apelo

Sena enfatiza a crescente demanda por plantas raras e exóticas, como o Pau Brasil, e também a adaptação de espécies tropicais para ambientes urbanos. “Hoje, muitos consumidores procuram plantas que sejam mais resistentes e que se adaptem bem ao clima urbano de Belém, e as plantas tropicais atendem a essa necessidade. Elas são belas, exóticas e, muitas vezes, de fácil cuidado”, afirma.

A procura por plantas não se limita apenas ao consumo de beleza. Durante a pandemia, muitos belenenses redescobriram o prazer de cuidar de uma planta, o que impulsionou ainda mais o mercado. Martonia Caetano, produtora de Santa Bárbara, explica que a pandemia aumentou significativamente o interesse por plantas, especialmente por aquelas que exigem menos cuidados. “As pessoas passaram a buscar plantas como uma forma de terapia. Além de decorar a casa, as plantas ajudam a melhorar o ambiente, tornando-o mais relaxante e saudável. Por isso, muitas preferem as folhagens e plantas que exigem menos tempo de manutenção”, afirma Caetano.

A tendência de cuidados com plantas reflete a mudança de hábitos da população, que tem se mostrado mais preocupada com o meio ambiente e a sustentabilidade. Isso tem sido um reflexo da valorização das plantas tropicais, que ganham destaque devido à sua resistência e adaptabilidade, tornando-se ideais para aqueles com uma rotina mais corrida. “As plantas tropicais são resistentes e não exigem tanto cuidado. Elas são perfeitas para quem tem pouco tempo, mas quer trazer um toque verde para a casa. Com a COP30, acredito que essa tendência vai crescer ainda mais”, acredita Martonia.

Interesse por plantas locais explica crescimento

O mercado de flores e plantas em Belém tem experimentado um crescimento considerável em 2025. Segundo Rafael Vasconcelos, analista técnico do Sebrae, a ampliação da visibilidade do mercado está diretamente ligada ao interesse por flores e plantas locais, impulsionado por eventos como a COP30. “As flores e folhagens tropicais tem ganhado destaque, mas também outras plantas raras que só encontramos aqui, ganham destaque. A procura por essas plantas tende a crescer com o aumento do interesse pela nossa flora, não só no Brasil, mas também internacionalmente”, afirma Vasconcelos.

Com o crescente movimento em torno da sustentabilidade e da valorização da Amazônia, especialmente com a aproximação da COP30, as flores e plantas locais têm se tornado produtos procurados tanto para decoração quanto para a preservação ambiental. A promoção de práticas de cultivo sustentável e a conscientização sobre a importância de se manter a biodiversidade são fatores que reforçam o valor do mercado local.

“A feira tem sido um ponto de encontro importante para os produtores. Muitos deles têm dificuldade em acessar o mercado mais amplo e criar conexões com empresários e lojistas, por isso, o Sebrae tem se empenhado em criar oportunidades como essa para fortalecer o mercado local”, afirma Vasconcelos. A participação no evento não só ajuda a fortalecer os laços entre produtores e comerciantes, mas também aumenta a visibilidade das plantas amazônicas, impulsionando a demanda local e regional.

Segmento atua também como complemento de renda

A produção e comercialização de flores e plantas tem sido uma importante fonte de renda extra para muitos agricultores da região. João Ricardo Sena, por exemplo, conta que, além de seu trabalho como funcionário público, a venda de plantas tem gerado um faturamento significativo. “Em média, consigo um faturamento de R$ 200 mil por ano, com lucro de cerca de R$ 150 mil”, diz Sena.

Essa renda extra tem sido um alicerce para muitas famílias que veem na biodiversidade amazônica não apenas uma atividade lucrativa, mas também uma forma de diversificar suas fontes de rendimento. Martonia Caetano, que comanda o projeto “Quintal Amazônico”, afirma que, apesar de ser uma atividade complementar, as plantas têm um grande impacto no orçamento familiar. “Eu consigo gerar até 20% a mais na nossa renda mensal com as vendas de plantas e flores. Esse dinheiro extra ajuda a cobrir gastos extras, como medicamentos e outras despesas do dia a dia”, conta Caetano.

A produção de flores também tem se mostrado uma alternativa para muitos produtores rurais que buscam diversificar suas atividades e aumentar a rentabilidade de suas propriedades. O cultivo de plantas ornamentais oferece uma oportunidade de gerar lucro sem grandes investimentos iniciais, além de ser uma prática que exige menos espaço e tempo quando comparado a outras atividades agrícolas. Com o mercado aquecido e as perspectivas de crescimento, muitos acreditam que a produção de flores e plantas tem um grande potencial de expansão em Belém e em outras partes da região Norte. “O mercado de flores está em constante crescimento. O interesse pelo cultivo e pela compra de plantas só tende a aumentar, principalmente com o impacto positivo da COP30. A tendência é que mais pessoas se interessem por ter plantas em casa e, consequentemente, mais produtores se aventurem nesse mercado”, conclui Rafael Vasconcelos.

O Festival das Flores e Plantas segue em exposição no Shopping Castanheira até o domingo, 30. O evento tem reúne mais de 25 produtores de flores e plantas da Grande Belém, incluindo municípios como Marituba, Benevides e Santa Bárbara, criando uma plataforma para os pequenos produtores locais apresentarem suas flores tropicais e outras plantas nativas da Amazônia. A feira, que é uma das maiores do setor, não só permite que os produtores vendam suas mercadorias, mas também cria oportunidades para networking e parcerias.

Economia