'Logística é vital para o agronegócio', diz Guilherme Minssen, diretor da Faepa sobre obras pré-COP
Obras pré-COP devem ser essenciais para o agronegócio do estado e geram grandes expectativas para 2025
O Pará se prepara para receber a COP 30 em 2025, com obras importantes em toda a capital. Mas, para além do evento climático, o estado espera modernizar e expandir os horizontes na sua economia, produção, geração de renda e até na mobilidade dos centros urbanos, com outras obras aguardadas há anos - em alguns casos, há décadas - como o derrocamento do Pedral do Lourenço e a construção da Ferrogrão, que geram expectativa para a população local.
No caso do Pedral do Lourenço, a previsão para a emissão da Licença de Instalação da obra de derrocamento é para o ano que vem, em 2025, segundo o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Apesar dos impactos, o setor agropecuário paraense destaca que os resultados dessas obras podem beneficiar diretamente a competitividade da produção e o futuro do negócio no estado.
A Ferrogrão, um projeto ferroviário de 933 km projetado para ligar Sinop (MT) ao porto de Miritituba (PA), é uma das iniciativas mais esperadas. De acordo com Guilherme Minssen, diretor da Faepa, a importância da Ferrogrão para o Pará é inegável. "Esse projeto é vital para toda a nossa economia. Ele vai ajudar no escoamento de grãos, reduzirá custos de transporte e proporcionará uma melhor posição do Pará no mercado global", afirma. Para ele, a ferrovia é uma solução estratégica que reduzirá a dependência das rodovias, muito mais caras e que enfrentam gargalos logísticos constantes.
Minssen destaca que a Ferrogrão poderia já ter transformado o estado, promovendo um avanço mais rápido do Pará. "Se já estivesse concluída, o estado teria se desenvolvido mais rapidamente. Teríamos menos pobreza e um IDH mais alto, pois o transporte mais barato e eficiente facilitaria o escoamento da produção", explica. No entanto, o projeto enfrenta resistências, principalmente devido ao impacto em áreas indígenas e comunidades ribeirinhas, o que tem gerado um impasse no licenciamento ambiental.
Outro projeto de grande relevância é o Pedral do Lourenço, que visa à remoção de pedras no leito do rio Tocantins, permitindo uma navegação plena e mais segura durante todo o ano, crucial para o escoamento de cargas. Para Minssen, a melhoria na navegação do Tocantins impactará positivamente o setor agropecuário. "O Pedral do Lourenço é uma obra fundamental. O rio é como uma via de transporte, e sua melhoria vai possibilitar que os grãos do Centro-Oeste cheguem mais facilmente ao Pará e outros mercados", afirma.
O diretor também destaca que, além de melhorar o transporte de grãos, a obra beneficiará as populações ribeirinhas, que atualmente enfrentam dificuldades em seus processos de escoamento de produtos como cacau e carne. "Quando o Pedral do Lourenço for concluído, não só o agronegócio será beneficiado, mas também as comunidades locais, que têm na produção de alimentos e produtos agropecuários sua principal fonte de renda", ressalta.
Apesar da relevância da obra, o projeto também encontra obstáculos. Comunidades ribeirinhas, que dependem do rio para sua subsistência, temem que a remoção das pedras altere suas dinâmicas econômicas e sociais. Essas questões precisam ser resolvidas antes que o Pedral do Lourenço possa avançar. Em relação a isso, em nota ao Grupo Liberal, o Ibama disse que “não há previsão para a liberação, uma vez que a Petrobrás ainda não reenviou os quesitos e atendimentos necessários para dar continuidade à análise técnica do projeto”.
O projeto Margem Equatorial, que visa à exploração de petróleo e gás em áreas marinhas sensíveis, também está no centro das discussões no estado. A Faepa reconhece a importância da exploração de petróleo para o crescimento econômico, mas também alerta para os riscos ambientais. "Temos uma enorme expectativa de que projetos como a Margem Equatorial ajudem a impulsionar a economia do Pará, mas sabemos que há questões ambientais que precisam ser resolvidas com responsabilidade", afirma Minssen.
O diretor destaca que, embora o desenvolvimento de novas fontes de extração de energia seja necessário para reduzir as desigualdades econômicas no estado, a preservação do meio ambiente também é fundamental para garantir a sustentabilidade a longo prazo. O projeto enfrenta resistência de especialistas e ambientalistas, que alertam sobre os impactos ambientais que podem afetar ecossistemas sensíveis, como manguezais e outros habitats marinhos importantes.
Logística como pilar para a competitividade
Para o setor agropecuário, a logística continua sendo um dos maiores desafios. Segundo Minssen, a infraestrutura de transporte, seja rodoviária, ferroviária ou aquaviária, influencia diretamente no custo da produção. "A logística é um dos maiores componentes do custo de produção. Quando os custos de transporte são elevados, isso impacta todo o ciclo produtivo, desde o campo até a mesa do consumidor", explica. Ele cita o exemplo do arroz consumido no Pará, que muitas vezes é proveniente do Rio Grande do Sul, e percorre mais de 5 mil quilômetro até chegar ao estado, o que torna o preço mais elevado.
Com a produção local de arroz no Marajó, que permite até três safras por ano, o Pará tem a oportunidade de reduzir seus custos de produção. A boa logística, combinada com a produção local, é uma solução para diminuir os preços e gerar mais empregos na região.
A Faepa afirma que mantém um diálogo constante com o governo estadual e empresas do setor para identificar e resolver gargalos logísticos. "Estamos em contato direto com a Secretaria de Desenvolvimento da Agricultura e Pesca e outras secretarias do estado para discutir como resolver os problemas que impactam a logística no Pará", destaca Minssen. A Federação também trabalha para melhorar a infraestrutura do setor agropecuário, abordando questões como o transporte de material genético e peixes ornamentais, que demandam rapidez e eficiência no transporte.
Além disso, Minssen reforça que as obras em andamento, como a Alça Viária e a ampliação dos portos de Belém, são fundamentais para melhorar a logística e ajudar o setor agropecuário a reduzir seus custos e aumentar sua competitividade no mercado. "O produtor rural enxerga na COP 30 uma oportunidade única para melhorar a integração entre Belém às outras áreas do estado. Isso será um grande passo para o desenvolvimento do Pará", afirma.
Expectativas
Com o encerramento de 2024, a expectativa é que em 2025 o Pará comece a colher os frutos desses projetos de infraestrutura. Apesar do ritmo de execução e os desafios enfrentados, tanto no campo ambiental quanto no social, a Faepa defende que o avanço dessas obras é imprescindível para o desenvolvimento do estado, principalmente no que diz respeito à competitividade do setor agropecuário.
Minssen reforça que, para o setor agropecuário do Pará, 2025 será um ano crucial: "O agronegócio depende dessas obras para avançar. Estamos trabalhando para que todos esses projetos sejam viabilizados de maneira responsável, respeitando os aspectos sociais e ambientais, mas sem perder de vista o desenvolvimento econômico que o estado tanto precisa."
Atualizações das obras
Margem Equatorial: A chamada Margem Equatorial abrange, no Brasil, cinco bacias em alto-mar, entre o Amapá e o Rio Grande do Norte. Uma delas é a bacia da Foz do Amazonas, localizada nos Estados do Amapá e do Pará. Apesar do nome, o primeiro poço que a Petrobras pretende perfurar nessa região fica a mais de 160 km do ponto mais próximo da costa do Amapá e a mais de 500 km da foz do Rio Amazonas. Em maio de 2023, o pedido de licença para perfurar poço de petróleo no litoral do Amapá foi negado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Em nota, o Ibama informou que não há atualizações no andamento do processo e que “não há previsão para a liberação, uma vez que a Petrobrás ainda não reenviou os quesitos e atendimentos necessários para dar continuidade à análise técnica do projeto”. O Grupo Liberal procurou a Petrobras mas não obteve retorno até a publicação da matéria.
Pedral do Lourenço: O Pedral do Lourenço é uma formação rochosa de 43 km de extensão no município de Itupiranga, entre Marabá e Tucuruí, no rio Tocantins, que aflora durante o período de estiagem e impede a navegação neste trecho do sudeste paraense. De uma margem à outra, o rio Tocantins tem, em média, cerca de um quilômetro de largura. Em nota, o DNIT informou que “realizou as últimas reuniões com as comunidades ribeirinhas e irá entregar nos próximos dias as complementações solicitadas pelo Ibama”. A Licença de Instalação da obra de derrocamento está prevista para ser emitida no próximo ano, em 2025.
Ferrogrão: O projeto Ferrogrão, lançado em 2014, apresenta uma ferrovia com 933 quilômetros de extensão, entre Sinop (MT) e Miritituba (PA), com capacidade para cerca de 50 milhões de toneladas de grãos anuais. Por envolver áreas ambientais, especialmente de supressão de florestas, como do Parque Nacional do Jamanxim, no Pará, o projeto ainda não saiu do papel. O Grupo Liberal procurou o DNIT para mais informações sobre o andamento do projeto, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.