Impacto da pandemia deve reduzir em 50% número de ocupados no Círio
Em 2019, 60 mil pessoas trabalharam no período. Este ano, número pode nem chegar a 30 mil, segundo o Dieese Pará
Em 2019, o gasto presumido de turistas durante o Círio de Nazaré foi de R$ 120 milhões, impacto que somado aos outros setores, como alimentação e vendas de artefatos decorativos e vestuário, pode ter chegado a R$ 1 bilhão, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e a Secretaria Estadual de Turismo do Pará (Setur-PA). Com a crise sanitária do coronavírus e o cancelamento oficial das romarias, os órgãos afirmam que a redução dos valores injetados na economia local durante a festividade ainda não podem ser calculados. No entanto, o número de pessoas ocupadas durante a quadra nazarena, que chegou a 60 mil no ano passado, pode nem chegar a 30 mil, ou seja, o desempenho pode ser menor que 50% do ano passado, segundo Roberto Sena, economista e supervisor técnico do Dieese.
Com 20 anos de experiência em análises econômicas do Círio, em parceria com a Setur, Sena diz que qualquer estimativa de número de visitantes e, consequentemente, dos gastos durante o período, ainda seria imprudente, já que não é possível “arriscar” a quantidade de pessoas que virão para ficar em casas de familiares. “O que podemos afirmar é que o Círio possui uma importância muito grande para o povo paraense e que teremos um abalo muito forte. Sem Círio, como determinado pela diretoria da festa, teremos menos fitinhas vendidas, menos camiseta, menos tudo. Faremos uma análise inédita e detalhada durante a festa, com pesquisadores do Dieese e da Setur, para saber qual é o perfil do romeiro que veio neste momento, seus hábitos e gastos. Mas, por ora, seria imprudente afirmar um número”, reitera.
O assessor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Simulares do Estado do Pará (SHRBS), Fernando Soares, afirma que o visitante deste ano, em média, é diferente dos últimos anos. Por ser uma pessoa que já conhece Belém, de acordo com o advogado, não deve visitar os pontos turísticos tradicionais da capital, assim como deve ter gastos menores com alimentação e estadia, pois é moradora de cidades do interior do estado, mas tem parentes em Belém. “O fato de ainda estar ocorrendo uma pandemia também influencia no perfil dos visitantes, já que aqueles do grupo de risco (idosos e portadores de doenças crônicas) estão evitando viajar, por medo”, demarca.
Belém tem 12 mil leitos no setor de hospedagem, que foram completamente ocupados em 2019, segundo o SHRBS. Neste ano, no entanto, as reservas nos hotéis apontam que os estabelecimentos irão variar entre 15% e 25% de ocupação nos 15 dias de festividade nazarena. “É preciso lembrar, primeiramente, que a capacidade de hospedagem, por questões de segurança, já foi reduzida para 70%. Além disso, o tempo de estadia das pessoas na cidade também deve ser menor, já que não serão visitantes interessados em pontos turísticos, como já dito”, completa Fernando Soares.
Para tentar burlar as dificuldades, o setor hoteleiro tem investido em outros produtos, com os banhos de piscina e almoços, visando os moradores de Belém. No entanto, a queda de rendimento do setor é inevitável, segundo afirma Antônio Sampaio Neto, empresário e hoteleiro há 14 anos. “O turismo foi um dos setores mais atingidos e, dentro dele, a hotelaria, já que é um segmento que necessita da circulação de pessoas. Belém não está na rota das grandes cidades hoteleiras do Brasil, por isso a falta do Círio é algo muito grave para a cidade. Nessa altura, nós já estávamos com quase 100% dos quartos lotados, neste ano devemos alcançar 50% ou 60% da nossa capacidade”, calcula.
No ano passado, os principais estados emissores de turistas para o Círio de Nazaré foram São Paulo (15,6%), Maranhão (14%), Rio de Janeiro (10,3%), Amapá (10,3%), Ceará (6,8%), Amazonas (6,6%), Minas Gerais (4,8%), Tocantins (3,2%) e Rio Grande do Norte (3,2%). E, no quesito idade, a faixa etária de 35 a 50 anos foi a mais comum (40,9%), seguida das faixas de 26 a 34 anos (21,4%); de 51 a 65 anos (20,3%) e de mais de 65 anos (11%).
Também no ano passado, os locais mais visitados foram: Basílica de Nazaré (28%), Estação das Docas (26,3%), Ver-o-Peso (21,7%), Mangal das Garças (8,3%), Museu Emílio Goeldi (4%), Portal da Amazônia (3%), Museu de Arte Sacra (3,7%), Polo Joalheiro (3,4%) e Hangar (1,5%).