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Grupo de risco: Pará tem cerca de 260 mil trabalhadores idosos

Volta ao trabalho deste público será um desafio para o Estado, assim que as medidas sanitárias começarem a ser flexibilizadas

Roberta Paraense

As normas de distanciamento social estão cada dia mais rigorosas no Pará. Esta semana, por exemplo, passaram a ser aplicadas multas a quem desrespeitar o lockdown – bloqueio total das atividades não essenciais – em dez municípios paraenses. Porém, à medida que a quarentena começar a ser flexibilizada, o Estado terá um ponto delicado a resolver: a retomada às atividades dos idosos, já que eles fazem parte do grupo de risco do novo coronavírus.

Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último trimestre de 2019, o Pará tinha aproximadamente 8,6 milhões de habitantes. Desses, 11% eram de pessoas com mais de 60 anos de idade, ou seja, o Estado tinha cerca de 1 milhão de idosos. Ao menos 26% dessa população era de pessoas ocupadas -  trabalhadores com mais de 60 anos exercendo alguma atividade produtiva.

O técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioecônomicos (Dieese/PA), Everson Costa, explica que, no final do ano passado, o Pará contava com cerca de 260 mil pessoas idosas ocupadas em todo o território paraense. No entanto, esse número não reflete apenas os indivíduos com carteiras de trabalho assinadas ou mesmo aqueles inseridos no funcionalismo público. “Ele é geral, estamos falando de idosos autônomos, ou daqueles com ou sem contrato de trabalho”, aponta.

Ao analisar os indicadores, Everson Costa observa que pode haver uma disparidade nos dados de 2019 com os dias de hoje, devido à excepcionalidade da pandemia do novo coronavírus. “Não podemos relativizar esses números. A pandemia causa estranheza e falta de acesso às informações, sobretudo, no mercado de trabalho no Brasil”, observa o especialista. “Vemos um crescimento no pedido de seguro desemprego, portanto, ainda não nada de números concretos que mapeiem essa realidade”, ressalta o técnico. 

Ainda segundo os dados da Pnad, no Brasil, há 7,7 milhões de trabalhadores com mais de 60 anos. Esse número vem crescendo, acompanhando o envelhecimento do país - no primeiro trimestre de 2012, eram 5,5 milhões de ocupados acima de 60 anos, por exemplo.

“Quando falamos de trabalhadores idosos, são aqueles que de alguma forma exercem atividades ou prestam serviços. Há diversos restaurantes com idosos atendendo, nas ruas eles trabalham com vendas de uma infinidade de produtos ou podemos apontar aqueles que prestam serviços como encanador, chaveiro ou pedreiro”, exemplifica Everson.

Com o aumento do desemprego, muitos lares perderam renda, o que obrigou jovens a anteciparem a entrada no mercado de trabalho e, na outra ponta, forçou idosos a um reingresso. Não por acaso, dos trabalhadores com mais de 60 anos ocupados, 5,1 milhões são chefes de família no País.

O pedreiro Luiz Carlos Monteiro, 66, é um deles. Ele, mesmo com os filhos de 25 e de 22 anos, sustenta a maior parte das despesas do lar. “Minha renda é a maior da casa. Meu filho mais velho trabalha como caixa de supermercado e o outro faz estágio. Minha esposa é pensionista e ganha um salário mínimo”, diz.

Luiz nunca teve nenhum vínculo de trabalho com carteira assinada. Ele trabalha como pedreiro em pequenas obras com a ajuda do irmão. Porém, desde de que as medidas de isolamento social foram aplicadas, sua família o obrigou a ficar em casa.

“No final do ano passado, eu sofri um acidente, um carro me bateu. Desde então, fiquei com muita dor na cabeça e passei a trabalhar menos. Mas, com essa doença (covid-19), em abril, parei os trabalhos, por pressão dos meus filhos. A situação apertou e não vejo a hora de tudo isso passar”, conta.

O Ministério Público do Trabalho do Pará (MPT) determinou diversas medidas para serem adotadas por empresas e sindicato para a preservação de vidas dos trabalhadores durante a pandemia. 

O MPT alerta quanto a liberação dos grupos mais vulneráveis: os maiores de 60 anos, portadores de doenças crônicas, imunocomprometidos, gestantes e crianças. A recomendação também classificou graus de risco à exposição a partir das funções desempenhadas pelos trabalhadores.

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